Diversão e Arte

Em pé de guerra

Filmes dirigidos por James Cameron e Kathryn Bigelow lideram a briga pelo Oscar, com nove indicações cada. Bastardos inglórios, de Quentin Tarantino, corre por fora

Ricardo Daehn
postado em 03/02/2010 08:00
O campo pode ser de batalha ; com a acirrada disputa entre filmes com elementos bélicos, como Avatar, Guerra ao terror e Bastardos inglórios ;, mas a 82; edição dos prêmios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas tende a contemporizar: com a ampliação do número de indicados a melhor filme, 10 títulos concorrem e 11 estúdios foram beneficiados. O novo formato abriu espaço para a animação Up ; Altas aventuras, a segunda produção do gênero a brigar pela estatueta mais cobiçada, e a ficção científica Distrito 9. Apresentada pelos populares Steve Martin e Alec Baldwin, a festa, que ocorrerá em 7 de março, tende a arrebanhar mais espectadores. A coroação do melhor filme do ano passado, Quem quer ser um milionário?, elevou a audiência norte-americana. Fenômeno supremo nas bilheterias, com US$ 2 bilhões arrecadados, Avatar é a arma potente para enfrentar o independente Guerra ao terror (valorizado pela crítica), ambos com nove indicações. Talvez para aumentar o suspense, a Academia não repetiu a onda de indicações que beneficiou Titanic, concorrente a 11 prêmios. A fantasia futurista assinada por James Cameron, premiado como melhor diretor pelo épico de 1997, acabou ignorada entre os roteiros originais. Mas, como era de se prever, o fenômeno 3D foi à forra nas categorias técnicas, como efeitos visuais e som. Já Guerra ao terror, respaldado por prêmios dos sindicatos dos produtores e dos diretores, se afirma como um concorrente robusto ao prêmio máximo da indústria do cinema. A campanha do longa-metragem de Kathryn Bigelow, ex-mulher de Cameron, é ameaçada por um fator que, no Oscar, costuma fazer a diferença: nada agressivo nas bilheterias, o drama faturou US$ 16 milhões ; uma quantia alta, no entanto, para os padrões de fitas independentes. Um aspecto aproxima os dois maiores candidatos ao Oscar de melhor filme: enquanto a trama de Avatar faz alusão à Guerra do Iraque, Guerra ao terror trata do tema explicitamente, ao acompanhar o cotidiano de soldados especializados em desarmar bombas. O conflito também contextualiza The messenger, que destacou Woody Harrelson entre os coadjuvantes finalistas. A manobra política da Academia, que havia desprezado obras polêmicas sobre o tema (como Redacted, de Brian de Palma, e No vale das sombras, de Paul Haggis) chega sete anos depois da invasão de tropas americanas no país do Oriente Médio. [SAIBAMAIS] Fortalecido pela performance surpreendente na premiação do sindicato dos atores, onde venceu o prêmio de melhor elenco, Bastardos inglórios chegará ao Kodak Theatre como sério competidor. Indicado em oito categorias ; entre elas, filme, direção, roteiro e ator coadjuvante (o favorito Christoph Waltz) ;, a comédia de Quentin Tarantino interpreta eventos da Segunda Guerra Mundial com ironia e sem compromisso histórico. É quase o oposto do alemão A fita branca, parábola austera sobre as origens do nazismo, que catapultou o alemão Michael Haneke (de Caché) à disputa de filmes estrangeiros, ao lado de uma denúncia sobre conflitos entre muçulmanos e israelenses (Ajami) e de dois representantes sul-americanos: o peruano A teta assustada e o argentino El secreto de sus ojos. No lado menos provocativo da disputa pelo Oscar de melhor filme, predominam casos de superação e perseverança, como o martírio de uma adolescente marginalizada (no indie Preciosa ; Uma história de esperança), a ascensão de um esportista (Um sonho possível) e a crise de consciência de um executivo cínico (Amor sem escalas). Em Preciosa ; Uma história de esperança, Gabourney Sidibe (candidata à atriz, junto com a colega de cena Mo;Nique , uma coadjuvante) dá vida a uma marginalizada, que não conta nem com o apoio da família. Já Um sonho possível se debruça na peripécias de uma mãe suburbana (Sandra Bullock, estreante na contenda) empenhada na ajuda a um afro-americano que pretende se tornar jogador de futebol. Lições edificantes também imperam no britânico Educação, com roteiro do escritor pop Nick Hornby (indicado ao prêmio), que mostra as consequências do relacionamento entre uma adolescente (a revelação Carey Mulligan) e um homem mais velho. Um homem sério, dos irmãos Coen, escapa do moralismo ao narrar o confronto entre um professor de física contra as vontades do destino. Na quinta indicação da carreira, o ator Jeff Bridges, em Coração louco, personifica um outsider: favorito ao prêmio, ele é um fracassado cantor country que vê na jornalista e admiradora interpretada por Maggie Gyllenhaal (indicada à atriz coadjuvante) o necessário fio de esperança. Bem-sucedido, num tipo de vida solitária, George Clooney (indicado a ator), em Amor sem escalas (outro no páreo a melhor filme), dividiu a cena com duas coadjuvantes que debutam no Oscar: Vera Farmiga e Anna Kendrick. Os estreantes na lista das interpretações são muitos e incluem o veterano Christopher Plummer, na pele do autor russo Leon Tolstói, em The last station (coadjuvante, ao lado da novamente candidata Helen Mirren); Stanley Tucci, intérprete de um serial killer, em Um olhar do paraíso, e o vencedor do Festival de Veneza, Colin Firth, por A single man, um viúvo gay que, nos anos de 1960, encara o drama de um luto oprimido pela sociedade. Outrora sufocado, o presidente sul-africano Nelson Mandela deu margem a uma recriação, nas telas, de Morgan Freeman, que, por Invictus, acumula a quinta indicação ao Oscar. Quem tomou por termômetro os resultados do Globo de Ouro, no campo das interpretações, teve dupla surpresa: além da inclusão do ator Jeremy Renner (destemido herói de Guerra ao terror), a atriz Penélope Cruz é a única representante do numeroso elenco de Nine. Para finalizar, a categoria de melhor atriz traz Meryl Streep, desfilando a experiência, na 16; indicação (em Julie & Julia), que contrasta com a concorrente Carey Mulligan, que, aos 23 anos, convenceu (em Educação) como uma adolescente de 16 anos em busca do primeiro amor.
Confira os trailers Avatar Guerra ao terror

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