Diversão e Arte

CCBB recebe temporada do espetáculo Laranja azul

postado em 04/02/2010 09:13
Há algo errado quando, prestes a ser liberado da internação, um jovem negro diagnosticado com esquizofrenia enxerga uma porção de laranjas na cor azul? No espetáculo Laranja azul, que chega a Brasília sob a direção de Guilherme Leme, a resposta pode ser sim e não. A peça, escrita pelo dramaturgo britânico Joe Penhall para discutir desde políticas públicas ao racismo, estreia nesta quinta e fica até 28 de fevereiro em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil. Rogério Froes e Rocco Pitanga na versão brasileira da peça: jogo de poderSimulando uma sala de hospital público londrino, onde se passa a história, o cenário montado no Teatro II do CCBB é dinâmico. Circundados pelo público como em uma arena, os médicos Foster (Rogério Froes) e Greg (Pedro Osório) debatem a liberação do jovem paciente Cris. %u201CNão existe marcação na plateia. Dependendo do lugar em que sentar, o espectador pode ser influenciado a aceitar o argumento de um ou outro médico. Eu mesmo repenso isso muitas vezes%u201D, acredita o ator Rocco Pitanga, que interpreta Cris. A discussão vai além da doença mental. Foster é um psiquiatra veterano, chefe do departamento, que insiste na liberação. Entre os motivos, figuram argumentos políticos, falta de leitos e preconceito racial. Já Greg, um jovem e idealista residente, insiste que a afirmação sobre as laranjas é evidência da psicose do paciente, que acredita ser filho de um ditador africano. %u201CA peça se passa num hospital público, mas é um jogo de poder que acontece em qualquer instituição. Ele está desafiando a autoridade do supervisor, colocando em jogo as normas vigentes e indo contra as leis do país que favorecem a liberdade do paciente%u201D, explica o diretor e ator Guilherme Leme. Nascido em Londres e filho de sul-africanos, Joe Penhall é reconhecido como um promissor dramaturgo europeu. Laranja azul é seu mais premiado trabalho, que arrebatou, no ano de estreia, prêmios de melhor espetáculo como o Evening Standard Award e o Critic's Circle Award e ganhou adaptações nos Estados Unidos, Canadá, Austrália, Espanha, Suécia e Portugal. Para não destoar da ideia original, a versão brasileira da peça de Joe Penhall tem poucas mudanças. %u201CEnxugamos o espetáculo, retiramos algumas coisas que só fariam sentido em terras inglesas. Entretanto, muito se mantém por ser pertinente ao Brasil. Existem os mesmos entraves na saúde pública, faltam leitos em hospitais e há o problema de cunho universal que é a forma de encarar a esquizofrenia, seja em relação aos direitos do doente ou aos deveres do Estado%u201D, acredita o diretor. Com o texto em mãos desde 2006, escolhido de uma leva de espetáculos contemporâneos recomendados pelo amigo e dramaturgo Felipe Hirsch, Guilherme Leme reuniu os atores em 2008 para os ensaios. Pesquisas de campo complementaram as reuniões com o objetivo de enriquecer a consciência crítica do elenco. %u201CA minha visão de diretor é essa, gosto de experimentar e questionar. Para mim, a gente usa o talento para atuar, mas tentando sempre coisas novas até atingir um certo nível de desconforto com o tema.%u201D Para isso, o quarteto visitou instituições de apoio a doentes mentais e pesquisou sobre as políticas psiquiátricas no Brasil. %u201CFoi o maior desafio que já enfrentei em palco, porque é um universo que não é meu. Estivemos em casas de apoio psicossocial e conhecemos, além das patologias, o dia a dia e o comportamento dos pacientes%u201D, relembra Rocco Pitanga.

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