Diversão e Arte

G7 e De 4 é Melhor - Comédia Ilimitada voltam para casa depois de fazer rir o cobiçado público do circuito Rio-São Paulo

postado em 06/02/2010 14:28
Domingo passado, entrada do Teatro dos Bancários ; A cena era assim. A fila que dava acesso à sala de espetáculo era de tamanho considerável e formada por gente de todas as idades. Na bilheteria, o funcionário se desdobrava para explicar, aos que se alinhavam para comprar ingressos, que a sessão do dia estava esgotada. O recomendável era garantir um lugar na sessão da semana seguinte. A professora Jurema Dunice, 47 anos, foi uma das que acataram o conselho: o fenômeno teatral em questão não é protagonizado por figuras globais em adaptações de textos conhecidos. Mas, uma onda provocada pelo grupo brasiliense De 4 é Melhor ; Comédia Ilimitada, na primeira temporada de 2009 da peça Assexuados 2.0. ;Essa situação eleva o nível das pessoas que fazem teatro em Brasília;, avalia Jurema.

Ao lado do G7, que retorna à capital depois de dois anos de sucesso no circuito Rio-São Paulo, a De 4 é Melhor ; Comédia Ilimitada protagoniza noites e noites de lotação de espaços teatrais da cidade e exporta humor estilo besteirol para fora dos limites do DF, seguindo os passos da Cia. de Comédia Os Melhores do Mundo, a maior referência de humor da cidade no país. Apesar das semelhanças no rastro da carreira, os grupos fazem questão de se desvincular da árvore genealógica do riso brasiliense em que os criadores de Joseph Klimber aparecem como uma das principais matrizes. ;Gostaria que essa mística fosse desfeita. Não os considero pais e acho muito ruim quando as pessoas nos comparam aos Melhores. Eles nunca fizeram nada para ajudar a gente, nunca deram nenhuma dica. Não tem por que a gente ser considerado cria deles. Adoro os caras, mas não busco parecer com eles. Acho que eles estouraram tanto fora de Brasília, que tudo que vem depois é visto como uma cria;, desabafa Rodolfo Cordón, do G7.

Eduardo Moraes considera a comparação uma redução do trabalho da De 4 é Melhor. ;Dentro do besteirol existem subdivisões. Se a gente for analisar a nossa comédia com a do G7 tem pontos distintos. Se disser que é uma cria direta dos Melhores do Mundo, acho que é sim uma comparação superficial porque a gente está fazendo uma coisa diferente da deles, apesar de ser humor e apesar de ser besteirol;, analisa. Mas a comparação é mesmo inevitável, pelo menos para alguns dos integrantes. ;Os Melhores do Mundo começaram a tradição de humor besteirol em Brasília. Como eles foram os pioneiros, não tem como não existir comparação;, finaliza Bernardo Felinto.

A pedagoga Elaine de Souza, 50 anos, é uma das que aprova o crescimento dos grupos de comédia. Ela não só assistiu a todos os espetáculos da De 4 é Melhor ; Comédia Ilimitada como também apresentou o hábito à sogra, a psicóloga Lúcia Andrade, de 52. ;Gosto muito do humor deles. Acho parecido com o dos Melhores do Mundo;, avalia Elaine.

Alegria dos concurseiros

G7 volta com tudo a Brasília e faz carnaval em fevereiro


Jornalistas e advogados por formação(1), os rapazes do G7 (Rodolfo Cordón, Fred Braga, Felipe Gracindo e Benetti Mendes) decidiram viver exclusivamente do teatro e, há pelo menos quatro anos, têm conseguido. Entre os métodos utilizados pelo grupo, estão a ausência de divisão de funções. Todos escrevem, dirigem, atuam e produzem. ;A gente faz comédia, mas não se inspira nos comediantes. Mas nas pessoas normais e em situações da vida. Se pegar a cronologia das peças e cruzar com a das nossas vidas, verá como tem a ver com os momentos em que vivemos;, analisa Felipe Gracindo. As história dos quatro já renderam pelo menos 16 espetáculos autorais.

O maior sucesso da companhia, a peça Como passar em concurso público, encenada desde 2007 provocou frisson na capital dos concursos públicos. ;Essa peça estava no ar. É um assunto que tem tudo a ver com comédia porque é um drama. Atualmente, são cerca de 10 milhões de pessoas fazendo concursos;, contabiliza Rodolfo. Brasileiros que sonham em se transformar em funcionários do governo ou consideram o tema bom para ser assistido nos palcos formam uma fatia de 3 mil pessoas, que já assistiram ao espetáculo.

Uma temporada de um ano da montagem no Teatro da Gávea, no Rio de Janeiro serviu como centelha para uma das ousadas iniciativas que o grupo costuma bancar. ;Nós estávamos há um ano no Rio fazendo o Como passar, mas queríamos fazer outros espetáculos. Daí, montamos um outro elenco para encenar a peça naquela cidade enquanto nós íamos para São Paulo para outra temporada. Por um tempo, uns 7 meses, o mesmo espetáculo era encenado simultaneamente (mesmo dia e horário) nos dois lugares;, explica Fred. Hoje, o grupo negocia os direitos das peças para serem apresentadas fora do DF.


1 - Terra de papagaios
O início da trajetória da companhia G7 não poderia ser mais despretensioso. Estudantes do ensino médio no Marista, Rodolfo Cordón, Fred Braga, Felipe Gracindo e Benetti Mendes não tinham qualquer experiência em arte dramática quando decidiram encarar a montagem escolar Terra dos papagaios. A popularidade experimentada nos corredores do colégio foi tanta que os amigos decidiram alçar voos mais altos, com a apresentação do espetáculo Baseado em fatos reais, iniciada em 3 de agosto de 2001. Data em que se convencionou comemorar o aniversário da companhia.


1 - COMO PASSAR EM CONCURSO PÚBLICO
Hoje, às 19h e 21h; amanhã, às 21h, no Teatro La Salle (SGAS 906, Cj. E; 3443-7878). Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia), setor A; R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia), setor B. Doadores de 1kg de alimento não perecível pagam meia entrada. Não recomendado para menores de 10 anos. Temporada continua nos dias 13 a 16 de fevereiro.


Esquentando os tamborins
De 4 é Melhor ; Comédia Ilimitada lota o Teatro dos Bancários


;No orkut, todo mundo é feliz;, declara um dos personagens da De 4 é Melhor ; Comédia Ilimitada durante a execução do espetáculo Assexuados 2.0. Histórias sobre os pontos de encontro mais usados da web como Twitter, Orkut e salas de bate-papo ajudam a narrar a trajetória de quatro abilolados, viciados em internet. Na plateia, Victória Cunha, de 16 anos, dava gargalhadas homéricas ao ouvir piadas assim. ;Foi a primeira vez que vi um espetáculo deles e achei o humor fantástico;, resumiu a estudante.

Em Brasília, os sucessos das montagens Eu tenho a última temporada ; A comédia sobre os viciados em seriados e De volta aos anos 90 encorajaram o grupo (1)a tentar a sorte em São Paulo. Foi o início da temporada de três meses no Teatro Bibi Ferreira. ;O perfil do público de teatro de lá é um pouco mais velho do que o daqui. Então, demoramos a encontrar a maneira correta de divulgar o espetáculo junto ao nosso alvo;, explica o diretor Felipe Nardelli. As estratégias de publicidade na capital paulista envolveu o grupo em situações inimagináveis, como um jantar com Ronnie Von, ídolo da Jovem Guarda e agora apresentador de tevê.

Outra dificuldade teve de ser contornada com muita pesquisa para que piadas de cultura brasiliense fossem ligadas a seus correspondentes na maior metrópole do país. ;Mesmo adaptadas, algumas não funcionavam de jeito nenhum. Mas, o público de São Paulo, às vezes conseguia ser mais caloroso do que o daqui;, relembra Felinto. ;A nossa ideia era conhecer novos mercados, saber como funciona fora daqui. A gente cresceu tanto como produção quanto como ator, criador. Em outro lugar, muda tudo. É muito engrandecedor como experiência;, analisa Fabianna Kami.


1 - Caminhos cruzados
Formada pela interseção de dois outros grupos de comédia, a De 4 é Melhor ; Comédia Ilimitada (o grupo tornou a mudar de nome, o último foi De 4 Naipes) atua nos palcos do Distrito Federal desde 2004 com a estreia de A noite ; A comédia sobre a vida noturna brasiliense. A formação conta com três atores Márcio Minervino, Bernardo Felinto e Eduardo Moraes e uma atriz Fabianna Kami. Flávio Nardelli, roteirista, diretor e faz-tudo completa a trupe.


ASSEXUADOS 2.0
Hoje e amanhã, às 20h, no Teatro dos Bancários (314/315 Sul), com De 4 é Melhor ; Comédia Ilimitada. Ingressos: R$ 40 e R$ 20 (meia). Doadores de um 1kg de alimento não perecível pagam meia. Não recomendado para menores de 12 anos.

Assista a trechos de espetáculos do G7 e do De 4 é melhor - Comédia Limitada



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