A receita é antiga entre os ritmos da Bahia: misturar rimas simples e batuque dançante a letras que remetem ao verão e à ginga brasileira. Na coreografia, mãos na cabeça e na cintura, uma parada e uma reboladinha entram no caldeirão para apimentar a Rebolation, música que promete ser a febre do carnaval em todo o Brasil. Mas o que há de diferente nessa aposta da Parangolé, banda com 13 anos de trajetória na Bahia que em 2010 desbancou habitués do verão soteropolitano e virou hit na boca de Ivete Sangalo e Cláudia Leitte?
O compositor Léo Santana, 21 anos de idade e três à frente da veterana Parangolé, se tornou ídolo dos seguidores de trio elétrico desde dezembro de 2009. O ritmo de Rebolation, entretanto, vai além do pagode baiano(1): surgiu das raves, festas de música eletrônica das quais o samba passa longe. ;Curto muito a cultura musical americana. Assistindo a uns vídeos na internet, percebi que havia uma certa dança fervendo nessas baladas. Falei para o Nenel (Capinam), meu parceiro na música, que se a gente investisse no tal do rebolation, o negócio estourava;, recorda o músico.
A coreografia que inspirou Léo, usada para dançar o psytrance(2), se distancia um pouco da adaptação brasileira. No original, com as pernas afastadas e jogadas de calcanhar, reveza-se a posição dos pés de modo a dar a impressão de que o dançarino escorrega pelo chão. ;É um jeito interessante de dançar, mas resolvemos simplificar. Adicionamos o rebolado e movimentos de braço. Ficou fácil, qualquer um pode aprender;, sugere o cantor.
Para a garotada que curte os ritmos baianos e a música eletrônica, a mistura veio para virar tendência. O editor de imagens Daniel Martins Costa, 26, conheceu o Rebolation no último réveillon, que passou com os amigos em Porto Seguro. ;Ouvimos aquele sambão misturado com batidas eletrônicas em todo lugar. De repente, o refrão não saía mais da cabeça. Se tornou um hino da nossa viagem e deve continuar por todo o carnaval;, conta. O jovem, morador de Sobradinho acredita que, além da letra simples, a mistura de trance e axé conta pontos. ;A linguagem tem tudo a ver com a nova geração, que gosta de todo tipo de música. Um dia você sai pro batidão, no outro para o pagode. O que importa é a diversão;, complementa.
Geração YouTube
Há cinco anos, viajar ao litoral era sinônimo de voltar para casa com dezenas de compilações em CD das músicas mais badaladas do verão. É o Tchan, Harmonia do Samba, Netinho e Banda Eva, entre outros, figuravam entre os mais pirateados. De vilã a mocinha, a tecnologia se tornou um forte aliado para a divulgação de novas músicas de trabalho com o aumento de uso da internet.
Com o Rebolation do Parangolé, a situação se tornou algo extremo. No YouTube desde 25 de novembro de 2009, o vídeo oficial publicado pela Universal Music acumula mais de 600 mil visualizações ; contra 68 mil de Na base do beijo, novo clipe de trabalho de Ivete Sangalo que entrou na rede em 6 de novembro.
;O público busca a internet para aprender a coreografia ou para se antenar ao novo sucesso;, supõe Léo Santana, que afirma ver na rede mundial de computadores excelente plataforma de divulgação do trabalho. ;Internet é tudo. Quem não tem tempo de comprar CD ou DVD, vai no computador e ali pode ver o que quiser. É um grande meio de comunicação que veio para agregar.;
No site oficial do Parangolé, Rebolation, Balacobaco, Sou favela e outras músicas ficam disponíveis para download gratuito e não há previsão para os arquivos saírem do ar. O grupo investe no diálogo com o público, que responde com a presença massiva nos shows. Em Recife, no último domingo, uma multidão de 100 mil pessoas lotou o Centro de Convenções e botou para quebrar ao som de Rebolation.
A ausência do hit nas rádios candangas parece estar com os dias contados. Com a proximidade do carnaval, o hit pipoca na noite da cidade e é campeão de pedidos nas aulas de aerobahia. ;Todo mundo fica louco para aprender. E tem tudo que a gente precisa para um dia de exercício, porque trabalha ritmo, rebolado e tem poucos passos. Muito fácil de decorar e ainda diverte;, acredita o professor de educação física Olavo Caldas, que dá aula em uma academia de ginástica em Taguatinga. O aquecimento tem destino certo: além de aproveitar o aprendizado no carnaval, os brasilienses podem ficar craques na dança até 21 de março, data em que o Parangolé aterrissa na cidade para um show na AABB.
1 - Mutações por minuto
Agregando elementos de axé music e samba de raiz, o pagode baiano explodiu nos anos 1990 com os grupos Terra Samba e É o Tchan. ;Hoje, incorpora distorção de guitarras, rock;n roll, hip-hop e samba. Procuramos fazer letras dançantes e não apelar muito para a sexualidade. Mas tem que ser sensual, por isso mantivemos as dançarinas;, destaca Léo Santana.
2 - Bicho-grilo eletrônico
O trance psicodélico surgiu em Israel nos anos 1980 e se espalhou pelas festas que misturavam cultura hippie a experimentações eletrônicas. Dançante e associado à sensação de euforia, se baseia em batidas rápidas (de 135 a 165bpm) acompanhadas de sons gerados por sintetizadores.
Ouça mensagem de Léo Santana, do grupo Parangolé, para o público do DF