postado em 16/02/2010 12:31
"A onda vai, a onda vem, não vá na onda, meu bem. Você se afobou. Foi na onda e jacaré te abraçou". Foi na onda é considerada uma das primeiras marchinhas de carnaval feitas em Brasília. Composta em 1962, por Edson Falbo e Walter Mendes, ela foi gravada pelo cantor-revelação da época, o carioca Antônio Soares.
Décadas depois e hoje aos 73 anos, Soares continua cantando e compondo na folia. Morando em Brasília desde a fundação da capital, ele gaba-se de ser um dos pioneiros do carnaval na cidade. "Quando começamos, só vinha música do Rio de Janeiro. E nós queríamos falar das coisas de Brasília, fazer algo nosso, já que somos pioneiros. E estamos fazendo isso ao longo de todos esses anos com muito sucesso e alegria, graças a Deus", conta.
Outro pioneiro em marchinhas no Distrito Federal, e ainda em atividade, é o cantor e compositor José Emídio, 66 anos. Apaixonado pela folia de Momo, esse potiguar-brasiliense acredita que as tradicionais canções carnavalescas estão sendo retomadas. Tudo vira assunto para os autores das marchas. "As marchinhas estão de volta e nunca perderam sua essência. Não tem como não se divertir. É só a gente sentar numa mesa de bar que começa. Cerveja do lado, caneta e guardanapo na mão e está pronta a música. Só rola assim", diz.
"Você acha que a gente faz isso de cara limpa? Não tem como não", brinca Cicinho Filisteu, 68 anos, outro veterano em marchinhas e um dos fundadores do tradicional bloco do Pacotão, que desfila hoje pelas ruas de Brasília. Já para Valério Carioca, 60 anos, que junto com Cicinho é um dos autores da marcha oficial do Pacotão deste ano, O Bolsetão da Eurides ("A dona Eurides encheu o bolsetão com o dinheiro da corrupção%u2026"), as marchinhas de Brasília já têm uma identidade própria: a irreverência política. "Elas são mais satíricas, justamente por aqui ser a capital da República. Não é um protesto, mas uma crítica bem-humorada. Essa é uma marca das marchinhas brasilienses", destaca.
O compositor Rômulo Marinho, 78 anos, há quase 40 em Brasília, é outro mestre em composições carnavalescas. Ele acredita que as marchinhas de antigamente eram mais líricas e românticas, porém, de um aspecto os compositores nunca abriram mão: a crítica ácida aos assuntos que estão na ordem do dia. "Não é à toa que até hoje as marchinhas do passado ainda estão na boca do povo. Mas uma coisa ninguém pode negar. Os compositores ainda utilizam o tema da ocasião para escreverem suas letras. É o político que rouba, é o problema de uma cidade, o jogador que anda mal das pernas. Isso não muda nunca", salienta.
Censura
Por abordarem temas atuais e quase sempre "pegarem no pé" de políticos, governo, entidades de classe e afins, é natural que os compositores de marchinhas nem sempre agradem. Pelo menos quem é alvo das composições. Antônio Soares revela que já teve vários problemas com censura por causa das marchinhas que compôs, especialmente na época da ditadura militar. Mas garante que nada tira sua animação e inspiração. "Isso faz parte. É natural um ou outro não gostar. Mas a gente não liga não", afirma.
Cicinho Filisteu também já ouviu queixas tanto do governo, como da oposição com suas irreverentes canções. Uma delas Quem tem CUT tem medo, de 2005, o indispôs com petistas e com integrantes da Central Única dos Trabalhadores. "Muita gente não gostou, especialmente os petistas e o pessoal da CUT. Eles iam até nos ceder um carro de som e ficaram com raiva por causa da marchinha. Mas eu não me importo. O povo gosta dessas brincadeiras e se diverte. É isso que vale."