postado em 17/02/2010 16:12
Viviane MachadoQuando e como começou o seu interesse por histórias em quadrinhos? Nesta época, o que você lia?
Nossa, eras passadas. Sempre amei ler. Aprendi a ler em casa, antes de aprender na escola. E fui impulsionada pelos quadrinhos. Quis muito aprender a ler para poder entender os balões. Li muito Monteiro Lobato, aventuras, fantasia... mas minha paixão eram os quadrinhos. Todo tipo de quadrinhos: Turma da Mônica, Tio Patinhas, super heróis, Calvin, Garfield...
Quando e como começou a sua produção de quadrinhos?
Começou quando eu era bem pequena, cerca de sete anos, mas, profissionalmente, por volta dos 15. Comecei a fazer fanzines, pequenas ilustrações. Começou porque eu simplesmente quis criar minhas próprias histórias. Eu era aquele tipo de criança que via e queria fazer. Simplesmente senti uma vontade grande, principalmente porque sempre diziam que eu desenhava bem (mesmo que fosse só para agradar, criança, né?) e eu quis ir além. Escrevia livros, desenhos, misturava ambos...
Saber desenhar e saber fazer quadrinhos são coisas diferentes. Como foi o seu aprendizado para fazer quadrinhos?
Muita leitura, principalmente. Li livros sobre roteiro e livros sobre quadrinhos, lia os quadrinhos, propriamente dito, estudava as poses dos personagens, via a posição de balões nas páginas, testava páginas de outras formas e passava para as pessoas para ser criticada. Tentava escrever a situação antes de imaginar. Fui muito autodidata nessa parte, mas não teria conseguido sem os livros. Sem contar que amava videogame (ainda amo) e cinema. Isso me impulsionava a tentar criar enredos fantásticos.
Muitas meninas não lêem quadrinhos porque as temáticas das HQs são, geralmente, masculinas ; em especial as HQs americanas. Você acredita que isso justifica o número reduzido de meninas leitoras e, consequentemente, produzindo HQs? Poderia comentar este assunto?
Bem, realmente é uma coisa que não ajudou muito. No caso, fui muito influenciada pelos quadrinhos brasileiros, como Turma da Mônica, ou quadrinhos do Calvin e Garfield (amo uma tirinha). Super-heróis não eram muito minha praia, embora gostasse muito de desenhos animados. Fui influenciada principalmente por meu pai, já que aprendi a ler com HQs. Infelizmente, a temática não agradava muito, ao menos a boa parte das mulheres. Sem contar que não havia muitos exemplos femininos para serem seguidos. Isso costuma influenciar as crianças. Você pode ver, por exemplo, quando somos crianças, e a professora pergunta o que você deseja ser quando crescer. Na minha época, as meninas queriam ser professoras e os meninos jogadores de futebol. Acredito sim, que o problema foi especialmente a temática.
Você acredita que o mangá ajudou a trazer mais meninas para os quadrinhos? Por quê?
Os mangás deram uma impulsionada para modificar esse quadro, com toda certeza. Hoje em dia acredito que, graças ao mangá, principalmente os mangás voltado para as meninas, aumentou consideravelmente o número de leitoras e quadrinistas no Brasil, porque agora é um gênero que a maioria aprecia. No passado, com certeza havia menos mulheres por causa da temática, mas hoje em dia tudo mudou, não há dúvida. Não há apenas um tema infantil ou cheio de heroísmo, mas temas atuais. Sem contar que os mangakás (desenhistas de mangás) têm um grande contingente de mulheres, o que influencia muito.
Qual o seu conselho para as meninas que querem começar a fazer quadrinhos? E para aquelas que ainda não leem quadrinhos?
Para as que querem começar, primeiramente tem que querer. Não é um mercado fácil, principalmente no Brasil, já que muita coisa vem de fora. Tem que estudar vários estilos, estudar roteiro e desenho. Não basta só ler quadrinhos e sair desenhando. Tem que ter conhecimento na área e buscar inclusive divulgação via internet. Acima de tudo, não ligar para críticas. Cada um tem seu próprio estilo e se vai fazer sucesso ou não, só depende de você. Para as que não lêem: comecem! Hoje em dia a temática é muito variada, fala sobre problemas na adolescência, romances, vida atual. Há todos os tipos, para todos os gostos, desde comédia, terror ou até suspense. Acabou a lenda de que HQ é para crianças ou para adultos que gostam de ação, somente. Tem HQs que são verdadeiras lições para a vida!
Acha que rola preconceito contra a produção femininas nos quadrinhos?
Bem, eu não acredito ter sofrido preconceito em relação a esse assunto. Pode haver sim, já que muitos nomes famosos estão ligados a homens, mas não lembro de ter sofrido nada em relação a isso. Ao menos espero que não, rsrs!
Qual tem sido o feedback para o seu trabalho?
Meu trabalho sempre foi voltado para o humor. Recebo muitos e-mails de pessoas elogiando, sugerindo, opinando. Simplesmente amo. É o que me impulsiona, sem dúvida, apesar das dificuldades. Sempre fico esperando que surja uma oportunidade para que meus livros sejam publicados ou porventura possa ilustrar um livro infantil. Mas estou sendo bem divulgada, graças a Deus.
Você já publicou alguma coisa profissionalmente ou só de forma independente? E quais serão os seus próximos trabalhos?
Já publiquei profissionalmente, mas devo admitir que prefiro ambos os meios. Profissionalmente há sempre aquela cobrança, aquela tensão ; mas eu gosto. De forma independente já fiz revistas, tiras, ilustrei meus livros, etc. Profissionalmente ilustrei algumas cartilhas, fiz mascotes e desenhos para diversos sites, inclusive internacionais. Com quadrinhos eu publiquei duas histórias, uma em Talentos do mangá, inclusive. Meus próximos trabalhos por enquanto são tirinhas no meu blog, www.recantodachefa.blogspot.com onde estou sempre fazendo tirinhas dos meus livros ou de livros famosos, para divertir as pessoas. A propósito, meu site de ilustrações é esse: www.belafantasy.deviantart.com e meu blog: www.recantodachefa.blogspot.com.