Ricardo Daehn
postado em 20/02/2010 11:03
Repetindo a dobradinha, ao lado do diretor Elvis Kleber, que rendeu o prêmio máximo do AnimaMundi, em 2002 (com O lobisomem e o coronel), o cineasta Ítalo Cajueiro marca o retorno ao set, com o curta I-Juca Pirama, com conclusão prevista para setembro. ;Da metade para frente do enredo, baseado no texto de Antônio Gonçalves Dias, a gente avança o registro para os dias atuais;, antecipa Ítalo. Até a W3 Sul será cenário para o índio errante, amaldiçoado com a falta de terras.Depois da passagem de O lobisomem e o coronel (com animação feita por apenas quatro pessoas) por mais de 20 países, com direito a 24 prêmios, Cajueiro se prepara para a nova frente de trabalho, com jornada extra, à noite e nos fins de semana. ;Ninguém ganha dinheiro fazendo curta-metragem: você não tem bilheteria, as exibições são muito restritas e a maioria dos canais requisita o produto, sem pagamento. Além disso, são poucos os festivais que têm prêmios em dinheiro. A gente faz filmes por causa da vitrine, pela realização artística e para alcançar públicos diversos;, observa o diretor.
Na sequência do desfile de estilos ; numa filmografia composta pelas xilogravuras de A moça que dançou depois de morta; pelo 3D aliado ao emprego de pastel seco, em A menina que pescava estrelas, e pelas interferências animadas, em Reconhecimento;, no novo projeto, a investida será num filme 35mm (feito em 2D), com possível uso de rotoestereotipia (em que atores filmados servem como referência para futuros desenhos a lápis).
[SAIBAMAIS]As vozes do diretor Ruy Guerra e dos atores Roberto Bomtempo e Murilo Grossi estão asseguradas na fita. ;Permanecerão as figuras do índio e do velho pai dele, além da captura feita entre as etnias. A antropofagia ; que tinha uma função honrosa, já que, com ela, se absorvia a força do guerreiro adversário ; também seguirá na história. Mas, nessa trama em que é ressaltado o canto de guerra dos índios, vamos ter elementos como calção de futebol e sandálias de borracha;, antecipa.
Leia mais sobre os animadores da companhia Buraco de Bala.
Ouça trechos das entrevistas com os diretores Ítalo Cajueiro e Elvis Kleber e com o representante do MinC Adilson Ruiz. Assista também ao curta-metragem O caipira e o chupa-cabras
Feito em casa
Numa opção corajosa, o diretor Joelson Miranda Santos, na produção do curta O caipira e o chupa-cabras, trocou o trabalho (em 2D) previsto para mais de 30 pessoas, ao longo de nove meses, pelo desempenho dele e do colega André Oliveira. Em dois anos e meio, ele obteve a segurança de conduzir o filme ; que conta com 15 personagens ; por meio de pesquisas e de muita leitura. ;No fim das contas, foi uma aventura. Dia a dia, eu não sabia se ia dar conta de concluir e havia muita pressão porque, caso contrário teria que devolver todo o investimento (do MinC, de R$ 60 mil), com valores corrigidos;, relembra.
Um ano de aprendizado pelo tutorial do programa 3ds Max (redigido em inglês) ; ;quando a gente quer, com esforço, passa por cima de pau e pedra; ; deu base para ele contar a história de um caipira que repassa historietas para os filhos dormirem. ;São enredos que se entrelaçam, já que os contos são materializados;, resume. Selecionado para o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, no ano passado, o filme concorreu em formato digital. A única cópia em película ficou com o MinC.
Joelson conta que terceirizou apenas etapas em que foram indispensáveis profissionais das áreas de edição de vídeo, trilha sonora, sonoplastia e dublagem. Infografista do Correio, há 12 anos, ele enfatiza que o curta foi, literalmente, ;um filme caseiro;.