postado em 21/02/2010 15:18
Walcyr, Luiz e Carlos Elias. Sambistas da cabeça aos pés, principalmente nos pés. Além do amor pelo ritmo, os três compartilham outras afinidades. Não nasceram em Brasília, mas são brasilienses de alma e coração. Já passaram dos 70 anos, mas mantêm uma vitalidade de menino. E, acima de tudo, são frequentadores dos principais redutos de samba na cidade onde desfilam toda a ginga que possuem. Com a elegância de um autêntico mestre-sala, o trio corteja e conduz as damas pelo salão ; normalmente bem mais jovens do que eles. ;As mais velhas ficam com vergonha. Menina nova não. Quer dançar e aprender;, justifica o sambista, cantor e compositor mineiro Carlos Elias, 76 anos, figurinha tradicional dos sambas em Brasília.O carioca Walcyr Tavares, 81 anos, é o mais velho dos três. Veio do Rio de Janeiro para Brasília com o presidente Juscelino Kubitschek, durante a construção, e de lá trouxe toda a malemolência e a malandragem dos bambas da Cidade Maravilhosa. ;Eu trabalhava com o presidente e acabei sendo transferido pra cá de onde nunca mais saí. Costumo dizer que sou dançarino de pai e mãe e tudo que aprendi foi com eles. Nunca frequentei academia de dança;, conta Walcyr, que depois que ficou viúvo passou a sair praticamente de segunda a segunda. ;Eu danço todos os dias. É a melhor coisa que existe. Onde tem samba e choro, lá estou eu. O único dia em que fico em casa é na quarta-feira para ver o meu Fluminense jogar;, destaca.
Com todo esse pique e vestido como um genuíno sambista ; calça, camisa e sapato brancos bem alinhados ; , foi na noite que ele conheceu o grande amigo, o médico aposentado Luiz Torreão Braz, 74 anos, outro que não dispensa um legítimo sambão. Paraibano de Campina Grande e há quatro décadas na capital federal, Luiz Torreão já vai logo avisando que dançar só tem graça se for acompanhado e, de preferência, com uma parceira que tenha uma certa noção de como bailar. ;Sozinho não dá!”, enfatiza.
No entanto, apesar de sempre conseguir locais para sambar, o ;pé de valsa; reclama que nos velhos tempos as pessoas dançavam muito mais. ;Tinha mais lugares próprios pra isso e todo mundo ia pra dançar. Hoje, parece que as pessoas têm vergonha. Ficam meio encabuladas;, lamenta. ;Por isso, alguém tem sempre que começar e dançar na frente pra incentivar. É o que eu faço;, emenda Walcyr.
Vitalidade
Aliás, ampliar as amizades, como fizeram Luiz e Walcyr, é apenas um dos benefícios proporcionados pela dança, como também gosta de apregoar o sambista Carlos Elias. ;Ela é agregadora pela própria natureza. Você reúne homens, mulheres, gente nova, gente velha. Dá uma vitalidade pra gente. Tenho 76 anos e nem pareço. Até desço até o chão. É a dança que faz isso comigo;, revela entusiasmado.
Quando tinha por volta de 20 anos, e ainda morava no Rio, Elias se deparou com um cartaz estampado com a pergunta: ;Quantas oportunidades você já perdeu por não saber dançar?; Foi então que decidiu ingressar numa academia de dança que ensinava samba, rumba, salsa e até rock. ;Fiquei um tempo lá, aprendi o básico, mas foi na Portela, observando os passistas, que aprendi boa parte do que sei. Eu até pretendo voltar ainda para alguma escola de dança, mas gosto mesmo é de criar na hora. Fica mais autêntico.;
Teoria também defendida pelos amigos Walcyr Tavares e Luiz Torreão que nunca fizeram aula de dança e aprenderam, da melhor maneira: praticando, e muito, pelos bailes da vida. ;A dança tem que ser espontânea. A gente tem que sentir a música e se deixar levar. Esse é o segredo;, ressalta Luiz. E Walcyr filosofa: ;A gente aprende pela vida. Ela é a melhor professora;.
Veja galeria de fotos do trio de dançarinos
Confira lista de lugares para dançar a dois
Bar Brahma
(202 Sul) ; sábados
Calaf
(SBS, Quadra 2, Edifício Empire Center) quintas e sábados
Feitiço Mineiro
(306 Norte) ; durante a semana
Tartaruga Lanches
(714/715 Norte) ; sextas e sábados
Armazém do Ferreira
(202 Norte) ; sábados
Clube dos Previdenciários
(SEPS EQ 712/912) ; quartas