A repercussão do título pode ser medida tanto pelo fato de a obra estar chegando à sua quarta edição como pelos seus desdobramentos. Rodrigo apresenta o programa de rádio Sexo MPB desde 2008 (transmitido no Rio de Janeiro pela MPB FM). E hoje, à meia-noite, ele estreia pelo Canal Brasil o programa que leva o mesmo nome de seu livro.
;Confesso que jamais imaginaria que este trabalho rendesse tantos frutos, pois é uma pesquisa um tanto ousada em que dou valor a muitos artistas que nunca são lembrados em livros que pretendem historiar a música brasileira;, comenta Faour. ;Muitos artistas podem não ser virtuoses como músicos ou poetas letrados, mas influenciaram a sociedade brasileira no que diz respeito a comportamento ; em sua própria imagem (sendo cantores) ou nas danças e letras que produziram, atiçando a libido geral ou mesmo quebrando tabus e preconceitos em suas mensagens;, explica o jornalista.
Ou seja, personalidades como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Ney Matogrosso, Erasmo Carlos, Fafá de Belém, Fernanda Abreu, Wando, Alcione, Martinho da Vila e Ângela Rô Ro dividem espaço com Eduardo Dusek, João Roberto
Kelly, Maria Alcina, Waleska (a ;Rainha da fossa;), o forrozeiro Manhoso e ainda Lana Bittencourt, Doris Monteiro, Ademilde Fonseca, Roberto Silva, Miltinho e Jorge Goulart, entre outros grandes nomes da época áurea do rádio.
Nesta primeira temporada (o jornalista adianta que a próxima irá ao ar no segundo semestre) serão exibidos seis episódios. A cada programa, Rodrigo Faour debate um tema, respectivamente, a mulher, a sensualidade, o duplo-sentido, a dor de cotovelo e a sexualidade transgressora (esta, dividido em duas partes).
O apresentador reconhece que cada veículo tem a sua magia, mas na tevê, o tom documental é intensificado. ;A imagem é muito forte. Muitas vezes, apresento os próprios personagens dessa ;história sexual da MPB; mostrando seus depoimentos e dando canjas das suas músicas mais importantes dentro dos temas que proponho. Fora que posso ilustrar, com clipes de época, o que vale mais que mil palavras.;
No programa de hoje, A mulher na MPB, Faour conversa com as cantoras Simone e Alcione e com os cantores e compositores Ivan Lins, Erasmo Carlos, Martinho da Vila e Wando sobre as conquistas da mulher na sociedade brasileira. Elas e eles analisam o reflexo disso na música, do machismo dos primeiros tempos até o advento do movimento feminista e ainda passam por temas tabus, como virgindade, divórcio, aborto e orgasmo feminino.
História sexual da MPB
Estreia hoje, às 23h59, no Canal Brasil. Horários alternativos: sextas, às 21h, e de sexta para sábado, às 4h30.
Como surgiu a idéia de levar o livro para a tevê? E por falar nisso, qual foi a repercussão do livro?
O livro foi lançado no final de 2006 e está indo agora para a quarta edição, via Editora Record. Graças ao sucesso, em 2008, fui convidado pela MPB FM carioca pra levá-lo ao rádio num programa diário, o Sexo MPB, que já dura quase dois anos ; e em breve a EMI lançará um CD duplo com as canções mais tocadas no mesmo. Depois de tudo isso, para minha surpresa, quando estive com o Paulo Mendonça, diretor do Canal Brasil, ele sugeriu que meu programa de TV também fosse baseado em meu livro. Confesso que jamais imaginaria que este trabalho rendesse tantos frutos, pois é uma pesquisa um tanto ousada em que dou valor a muitos artistas que nunca são lembrados em livros que pretendem historiar a música brasileira, já que muitos artistas podem não ser virtuoses como músicos ou poetas letrados, mas influenciaram a sociedade brasileira no que diz respeito a comportamento ; em sua própria imagem (sendo cantores) ou nas danças e letras que produziram, atiçando a libido geral ou mesmo quebrando tabus e preconceitos em suas mensagens.
O programa é uma tradução em sons e imagens do que você relata no livro ou vai além de alguma forma?
Cada veículo de comunicação tem uma magia própria. O livro deixa em aberto a imaginação do leitor e faz com que ele digira cada informação ao tempo dele; o rádio por ser portátil também leva a nossa mensagem a lugares inimagináveis, até os taxistas cariocas são meus fãs agora. Na tevê, a imagem é muito forte. O tom documental é dobrado, pois traz muitas vezes os próprios personagens dessa "história sexual da MPB" dando seus depoimentos e dando canjas das suas músicas mais importantes dentro dos temas que proponho, fora que posso ilustrar com clipes de época, o que vale mais que mil palavras. O trabalho na tevê também é dobrado, pois tenho que resumir cada tema em meia hora, mas está sendo fascinante. Não pretendo esgotar nenhum tema em tão pouco tempo, porém tento fazer recortes relevantes de cada um.
O programa foi bancado pelo Canal Brasil? Ou é uma produção independente?
É produzido pela Carioca Filmes, mas a verba veio do Canal Brasil.
Teve alguém que se recusou a dar entrevista sobre o assunto?
Pelo contrário, em pouco mais de dois meses consegui a adesão em massa da MPB de várias épocas e estilos. São 32 entrevistados. Dos medalhões Caetano Veloso, Ney Matogrosso, Gilberto Gil, Erasmo Carlos, Alcione, Ivan Lins, Martinho da Vila e Simone; passando por vários cantores da Era do Rádio, como Lana Bittencourt, Doris Monteiro, Ademilde Fonseca, Roberto Silva, Miltinho e Jorge Goulart; da bossa nova, como Roberto Menescal e Paulo Sérgio Valle; da pré-bossa nova, como Tito Madi; da música maliciosa nordestina e carioca (o porno-forrozeiro Manhoso, o sambista Dicró), além da "Rainha da Fossa" Waleska, da "popeira" Fernanda Abreu, da funkeira MC Valeska, do multifacetado compositor João Roberto Kelly, além dos sempre irreverentes Angela Ro Ro, Wando, Eduardo Dussek e Maria Alcina. É ou não é um elenco estelar?
Do lançamento do livro pra cá se passaram alguns anos. Nesse meio tempo você detectou alguma(s) música(s) que poderiam entrar numa edição ampliada do seu livro?
Ainda é pouco tempo para isso, mas sempre tem uma música ou outra. Em geral, elas têm vindo mais de artistas e gêneros mais populares, como o funk carioca o pagodão baiano, além de figuras como o pernambucano João do Morro. Na MPB mais refinada, temos cada vez mais referências homoeróticas em várias canções de Ana Carolina. Mas nada muito além disso. No quesito "amor", ainda temos os clichês romantismo, da "metade da laranja" e das "dores de corno" clássicas muito fortes. Há transgressões rolando atualmente em setores mais modernos da sociedade que a MPB anda hesitante de levar para seu cancioneiro, afinal, no geral, vivemos numa época um tanto apática e careta em comparação com os anos 1960, 1970 e 1980.
Você apresenta no livro um leque muito mais amplo do tema. Imagino que a popularidade dos artistas e das canções foi um critério para a seleção do que seria levado para o programa de tv. O que mais serviu como critério de seleção?
De fato, tentei ter muito critério ao roterizar cada episódio. Tentei um equilíbrio entre grandes nomes fortes ainda hoje na mídia com outros artistas incríveis que hoje estão um pouco esquecidos, mas que já tiveram seus dias de glória. Dou exemplos de músicas de grande impacto na sociedade com outras que pouquíssima gente conhece, mas que são curiosas dentro dos temas propostos por mim. No programa de estreia, sobre a evolução da mulher na MPB, eu destaco canções de sucesso como Mulher (sexo frágil), de Erasmo Carlos e Narinha, Começar de novo, de Ivan Lins e Vitor Martins, e Moça, de Wando, mas também relembro uma música do Martinho da Vila que não fez sucesso, mas é genial, que ele fez quando uma de suas filhas menstruou pela primeira vez, em que compara tal acontecimento ao impacto da entrada da escola de samba Acadêmicos do Salgueiro na avenida, com suas cores vemelho e branco. É um exemplo lindo de como os compositores a partir dos anos 1970 passaram a ver as mulheres com mais ternura e não como antes, que eram machistas até dizer chega.
A música Je t;aime, moi non plus, do francês Serge Gainsbourg, é reconhecida internacionalmente como uma música erótica. Acredita que temos no Brasil exemplos como esse, ou seja, de erótico "para exportação"?
O português é um código secreto, infelizmente pouca gente no mundo fala a nossa língua. Por isso, lá fora, a coisa vai mais pelo lado da dança e da percussão. É só botar meia dúzia de mulatas e dois percussionistas tocando qualquer de nossos sambas ou de nossos ritmos afro-baianos que qualquer gringo já sente o elixir da sexualidade tropical-brasileira rondando suas fantasias. É um clichê, mas sempre deu e sempre dará o maior pé. O maior exemplo é o sucesso que o grupo É o Tchan, execrado pela crítica nacional, fez há alguns anos no festival de Montreux, na Suíça.
Seria possível uma segunda temporada da série? Quais assuntos poderiam ser abordados?
Será possível. Nesta primeira temporada falo da mulher, da sensualidade, do duplo sentido, da dor-de-cotovelo e da sexualidade transgressora (que engloba a quebra das fronteiras do masculino e do feminino em nossa música, em dois episódios). Já fechamos mais sete programas para o segundo semestre. Pretendo falar, por exemplo, mais amplamente do erotismo em nossas músicas e danças, e ir mais fundo no pop/rock brasileiro. Mas o segredo é a alma do negócio!
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