Diversão e Arte

Drama com Jeff Bridges mostra as errâncias de um cantor entregue ao circuito de bares de beira de estrada

Ricardo Daehn
postado em 05/03/2010 07:00
;Costumava ser alguém, agora sou outra pessoa;, conta o protagonista de Coração louco, na linguagem que ele mais domina ; a da música country. Movido à bebida, aos 57 anos, com a pele fosca e cabelo acinzentado, o personagem Bad Blake ; que transpira fracasso ;, curiosamente, dá margem à mais evidente chance de o ator Jeff Bridges (ganhador do Globo de Ouro) converter em estatueta a quinta indicação dele ao Oscar. Sem titubear, quando é entrevistado pela repórter Jean (Maggie Gyllenhaal), ao se referir à inspiração para a origem das tristes letras, Blake, ;o vaqueiro do amor;, dispara: ;(a inspiração) vem da vida, infelizmente;.

Na linha dos retratos duros (prestigiados pelo Oscar) das cantoras country Loretta Lynn e Patsy Cline, Bad Blake traz o diferencial de ser obra da ficção saída de livro de Thomas Cobb. Entregue ao circuito de motéis de beira de estrada, na base do improviso e com shows em locais alternativos, Blake suplica por redenção. Como aliados, tem a recém-conhecida namorada (Gyllenhaal) e a eterna companheira, a música ; tão importante no filme que gerou, na produção, o posto de roteirista musical (T. Bone Burnett, colaborador de cineastas do porte de Wim Wenders e de músicos como Elvis Costello e Roy Orbison). Ao alcance dele, T. Bone se apegou ainda a composições do falecido Stephen Bruton (gravado por tipos como Kris Kristofferson).

Quem puxar da memória A força do carinho (1983), não só visualiza o tom de simplicidade do enredo como entende o empenho de um dos produtores de Coração louco, o ator Robert Duvall (também em cena no novo longa). Por aquele filme de 1983, Duvall ; na pele de decadente cantor folk ; levou o Oscar. Em suma, dirigido pelo estreante (e ator) Scott Cooper (Deuses e generais), o novo longa abre espaço para a dominação exercida por Jeff Bridges, que desfila a talentosa voz calejada, bem como o suor que acusa a eterna falta de banho.

Numa estrutura que remete ao filme Cidade das ilusões (John Huston), de perdedores no mundo do boxe, do qual Bridges tomou parte, Coração louco delega ao intérprete a função de repassar o bastão para o jovial personagem de Colin Farrell, um irlandês inserido numa modernizada cena country. O filme tem um tropeço na solução apressada (até crível), ligada ao romance com Jean. No mais, Coração louco não ultrapassa o mérito de explorar o rearranjo na compostura de um ;sujeito acabado;, como bem expressa a letra da ótima The weary kind.

; Indicações ao Oscar 2010

; Melhor ator
(Jeff Bridges)

; Melhor atriz coadjuvante (Maggie
Gyllenhaal)

; Melhor canção

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