Nahima Maciel
postado em 08/03/2010 09:57
Quando a fotografia surpreendeu os pintores no fim do século 19, quem era artista começou rapidamente a investir em novas formas de representar o mundo. Aos poucos, as telas foram invadidas por abstrações, geometrias, impressões e expressões às vezes bem distorcidas. À fotografia coube continuar a ser fiel representação do mundo. Mas isso foi há mais de 100 anos. Hoje, ironicamente, artistas se servem da fotografia para voltar à pintura. Vão buscar na imagem fiel os contornos para moldar as distorções. O mundo não está mais lá fora, mas na representação que se faz dele. Telas sobre óleo, em cartaz no Espaço Piloto, é um bom exemplo de como o excesso de imagens disponíveis traga o olhar para o mundo virtual.
Montada na galeria destinada a revelar os novos talentos recém egressos ou ainda matriculados no Instituto de Artes Visuais da UnB, a mostra apresenta cinco jovens pintores, todos com 22 e 23 anos, concentrados em criar imagens a partir do que coletam de forma digital e no mundo virtual. André Mota Barroso e Maryella Sobrinho destoam do grupo apenas na maneira com coletam as imagens usadas como base para a pintura. Barroso encontrou na autorrepresentação um tema repleto de inquietações inesgotáveis. As pinturas são reproduções das fotos do corpo do próprio artista. "É uma coisa misteriosa porque não consigo me ver como as pessoas me vêm. Posso usar o espelho ou uma foto, mas mesmo o espelho inverte a imagem, então a imagem é sempre algo virtual. O tema parece muito fechado mas, ao mesmo tempo, é muito aberto."
Para Maryella, a única restrição é a disponibilidade de material recolhido no dia a dia. Com panfletos coletados na rua ela constrói as colagens sobre as quais pinta paisagens pontilhistas, delicadas impressões de horizontes. "As imagens estão entre a figuração e abstração, você olha mas não tem certeza absoluta. É uma cosia muito do meu cotidiano. Tenho grau muito grande de miopia, nunca enxergo direito e é mais uma justificativa para o pontilhismo. O pontilhismo é uma referência direta ao pós-impressionismo e início da impressão gráfica", avisa.
A fonte de Marina Manzur, Alice Lara e Carolina Vecchio é confessamente a fotografia e os meios digitais. Alice retrata expressões de cães usados em rinhas, imagens às quais pode ter acesso exclusivamente pela internet, já que a prática é ilegal. E Marina cata retratos para reproduzir em pinturas expressionistas sobrepostas com tramas reticulares responsáveis por efeitos gráficos quase cinéticos. "Somos acusados de estar insistindo em um cadáver inquieto porque a pintura já passou por um percurso muito longo na história da arte, mas para nós essa pesquisa ainda é muito relevante. Hoje, a imagem é veiculada de maneira muito fácil e a pintura ainda tem uma sedução perante a imagem, que é imediatista. Por mais que tenhamos influência dessa imagem da mídia, da internet, do design gráfico, ainda insistimos na pintura para pesquisar e transformar a imagem", diz a artista.
Telas sobre óleo
Abertura nesta segunda-feira (8/3), às 19h. Exposição de André Mota Barroso, Alice Lara, Carolina Vecchio, Marina Manzur e Maryella Sobrinho. Até 26 de março, de segunda a sexta, das 9h às 19h, e sábados, das 9h às 13h, na Universidade de Brasília (Galeria Espaço Piloto, Ed. Oficinas, Bloco A).