O artista Milan Dusek dividiu o corpo humano em partes para criar analogias capazes de sintetizar o drama de viver. Cabeças e braços são adendos para as medalhas localizadas no lugar do ventre. Acima deste, as fitas viram tórax. Nesses dois elementos Dusek concentra suas leituras para aspectos da existência humana. São imagens que permeiam o trabalho do artista há quase cinco décadas e essa presença constante é o tema de Medalhas ; 1960 a 2009, exposição em cartaz na Galeria Piccola 1 da Caixa Cultural. ;Todo mundo pode achar estranho esse tema, mas uso essas medalhas como pretexto para fazer pintura e gravura puras. Um dia, enquanto pintava, me ocorreu que podia desenvolver isso;, avisa o artista.
Um misto de ironia, crítica e condescendência está presente nas 18 obras selecionadas para a mostra. Entre gravuras, esculturas e pinturas, as medalhas simbolizam ora condições, ora situações humanas. Dusek aproveita para oferecer sua visão bem-humorada de questões como a competição e a massificação, representadas em sequências de medalhas enfileiradas como troféus, ou o desperdício, tema de escultura confeccionada com restos de sistemas elétricos. ;Chamo esta de medalha sucata porque hoje em dia a tecnologia vem tão rápido que no dia seguinte virou sucata;, explica.
O desenho do corpo humano é a base para todas as criações. Está sempre a cargo do homem sustentar a simbologia criada pelo artista. ;Essa analogia com o corpo me permite situações do drama humano, mas o principal é que uso apenas meios plásticos, como pintura e gravura, isso é tema desde os anos 1960. Fiz muitas outras coisas, mas essa pequena exposição focaliza apenas as medalhas.;
Nascido em Praga há 85 anos, Dusek imigrou para o Brasil ainda adolescente. Chegou no Rio de Janeiro no mesmo ano em que a Segunda Guerra era declarada na Europa. Bem longe das armas, foi estudar gravura na escolinha do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro com Friedlander e Edith Bering, responsáveis pela formação de uma das gerações mais criativas da gravura brasileira.
O artista montou ateliê em Brasília em 1972, quando veio trabalhar no serviço cultural da Embaixada dos Estados Unidos, mas a produção plástica tomou conta da vida de Dusek. É do ateliê no Lago Norte que saem as medalhas, mas também as séries de gravuras nas quais retrata o cotidiano de Brasília. Há anos Dusek gosta de levar para a prensa guardada nos fundos da casa as cenas da cidade.
Parte desse acervo foi doado em 2004 para a Casa da Cultura da América Latina (CAL), após uma exposição de gravuras. Desde então, Dusek não expõe. Medalhas, a primeira exposição dos últimos anos que incluiu pintura, não chega a ser tão figurativa quanto as gravuras que chama de reportagem, mas traz uma síntese do pensamento do artista. ;Tudo com enorme variedade de estilos, tanto na pintura quanto na gravura, o que é compreensível porque são mais de 30 anos e não sou um pintor de fórmulas, fico inventando técnicas e estilos.;
MEDALHAS 1960-2009
Exposição de Milan Dusek. Abertura hoje, às 19h, na Caixa Cultural (SBS Q. 4 Lote 3/4, anexo do Edifício matriz da Caixa Econômica Federal). Visitação até 11 de abril, de terça a domingo, das 9h às 21h. <--
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O número
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Número de trabalhos na exposição
As fases de Maria Leontina
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A Caixa Cultural recebe também a exposição Maria Leontina ; Desenho em risco, com 200 obras inéditas da artista modernista recuperadas pelo curador Sérgio Pizoli. Desenhos, estudos e cadernos que ficaram guardados durante quatro décadas ajudam a revelar as experiências da artista e esmiuçam a criação da estética de cada uma das fases desenvolvidas ao longo da carreira. O acervo estava na casa de Alexandre Dacosta, filho da artista com o pintor Milton Dacosta, e contém desde desenhos realizados quando Maria tinha 12 anos até as últimas obras, estandartes dedicados ao universo religioso e reunidos pelo curador em uma parede inteiramente coberta de representações de São Jorge.
;Mostro a formação da artista, como começou, com os estudos acadêmicos de desenho de observação, luz e sombra;, conta Pizoli, que já realizou a exposição em São Paulo e no Rio de Janeiro.
A trajetória de Maria Leontina começa nos anos 1950, quando viaja para estudar pintura em Paris e conhece o trabalho do então expressionista Paul Klee. De volta ao Brasil, a artista participa da Bienal de São Paulo de 1953, a mesma que trouxe à capital paulista a Guernica, de Pablo Picasso. Ousada, ela mostra uma série de pequenos desenhos nada convencionais para a suntuosidade que marcou aquela bienal. Pizoli selecionou 10 desses desenhos para a exposição em Brasília.
Triângulo torto
Nos anos seguintes, o expressionismo cede lugar ao concretismo e a abstração geométrica começa a tomar conta das obras dos artistas brasileiros. Maria Leontina segue o curso, mas com marca própria, desvinculada da rigidez que caracterizava o movimento. ;Ela fazia uma geometria sensível, não usava o quadrado quadrado, o triângulo era torto, ela criou uma geometria particular;, diz o curador. Nos anos seguintes, geometria e figuração se fundem em trabalhos mais livres. O conjunto exposto na Galeria Principal da Caixa deixa claro, no entanto, a liberdade com a qual Leontina transitava entre suas próprias fases. Os cadernos de estudos revelam uma artista que retoma incansavelmente estilos trabalhados durante toda a vida.
Na Galeria Piccola 2, o público poderá conhecer o trabalho da arte-educadora Claudia Furlani. Um percurso poético reúne pinturas realizadas a partir de fotografias modificadas em processos digitais e colagens.
MARIA LEONTINA ; DESENHO EM RISCO
Exposição de Maria Leontina com curadoria de Sérgio Pizoli.
UM PERCURSO POÉTICO ; CLAUDIA FURLANI
Exposição de pinturas de Claudia Furlani. Abertura hoje, às 19h, na Caixa Cultural (SBS Q. 4 Lote 3/4, anexo do Edifício matriz da Caixa Econômica Federal). Visitação até 11 de abril, de terça a domingo, das 9h às 21h.
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