postado em 12/03/2010 08:25
Toda terça-feira, pelo menos 10 lançamentos chegam às lojas dos Estados Unidos. Para bandas iniciantes, o ;dia D; tem um lado especialmente cruel. Provocar uma boa impressão, logo de saída, parece essencial para garantir a sobrevivência num mercado que, apesar da crise na indústria fonográfica, apresenta uma avalanche de novidades a cada semana. Pequenas e grandes gravadoras também recomendam que, para se fazer ouvir, os novatos mostrem autenticidade, um estilo forte, uma marca que ninguém mais tem ; caso contrário, podem despencar nas brechas da teia virtual. Mas essas estratégias funcionam? Os californianos do Local Natives estão aí para provar que nenhum desses mandamentos deve ser levado muito a sério.
O quinteto de Los Angeles faz tudo ;errado;. E, aparentemente, de propósito. Não respeita datas de lançamento (o disco de estreia, Gorilla manor, saiu na Europa no fim de 2009 e só agora aportou na América), defende o espírito comunitário (sem um rostinho estiloso para estampar capas de discos) e exibe uma identidade mutante que lembra um punhado de ídolos do rock alternativo. Ainda assim, já é tratada como uma das revelações do ano, descoberta aos poucos por sites, blogs e revistas dos Estados Unidos. A Pitchfork, por exemplo, a descreve como ;uma banda que entende o prazer de ser jovem;. Entusiasmo adolescente, aliás, é o trator que eles usam para soterrar as desconfianças de quem vê neles só mais uma banda indie, igual a tantas.
As comparações que andam provocando podem desanimar o fã de rock. Quem precisa de mais um discípulo de Talking Heads? E de outros hinos ambiciosos, na linha de Arcade Fire e Coldplay? Se podemos ouvir um disco do Animal Collective e do Fleet Foxes, por que alguém se interessaria por um novo filhote da psicodelia sessentista? Mas, ainda que deva muito a cada uma dessas referências, Gorilla manor soa como um début especial. As canções não passam por cópias singelas, mas por homenagens sinceras ao som que moldou a juventude de cinco rapazes que sempre sonharam viver o cotidiano de músicos profissionais. ;Cair na estrada sempre foi o nosso objetivo;, afirmou o baterista Matt Frazier ao site Under the Radar.
Sucesso instantâneo, no entanto, não está na lista de prioridades do grupo. Formado há oito anos em Silver Lake (cidade de Beck Hansen), o Local Natives germinou lentamente, até definir uma filosofia ;roubada; de projetos cult como o Animal Collective, o Broken Social Scene e o New Pornographers: todas as músicas são escritas num esquema de intensa colaboração entre os músicos. Ninguém sabe explicar quem é o ;dono; das canções ou, por consequência, qual dos integrantes assumiria o posto de ;frontman;. Para compor o disco de estreia, eles se reuniram numa casa (apelidada de ;Gorilla manor;) e grudaram os trapos esboçados em shows e ensaios. Para a surpresa de quem esperava um álbum ;difícil; e experimental, Gorilla manor soa doce ; e agradável até para as rádios.
Não há nada muito complicado em faixas como Airplanes, uma canção de amor cozida em percussão afro, ou na balada Stranger things, cujo romantismo escancarado parece ter sido planejado para amolecer os sentimentos dos ingleses (que, não por acaso, descobriram a banda primeiro). No caso da reconstrução de Warning sign, cover do Talking Heads, fica difícil resistir à ousadia. A personalidade do Local Natives se encontra na união desses pontos: eis uma banda que, valente, usa a matriz dos independentes (é aventureira, irrequieta) para arejar o mercado pop. Uma bela ambição ; que sorte nossa; ainda não deixa sabor de oportunismo.
LOCAL NATIVES
Conheça o quinteto de Los Angeles no site http://www.thelocalnatives.com, onde o disco de estreia Gorilla Manor pode ser ouvido na íntegra, de graça. Lançamento Frenchkiss Records. ****
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--> <-- --> Se gostou, ouça<--
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--> <-- --> THE MORNING BENDERS O quarteto californiano é uma das bandas preferidas do Grizzly Bear e, a exemplo dos nova-iorquinos, também explora uma sonoridade tão melodiosa quanto experimental, calcada na psicodelia de ídolos sessentistas como Beach Boys e The Zombies. O disco novo, Big echo, foi lançado nesta semana. Ouça em www.myspace.com/ themorningbenders. THE RUBY SUNS Nem parece, mas o Ruby Suns nasceu na Nova Zelândia. O estilo do grupo, entretanto, parece tomado pelo espírito do rock made in Califórnia. Num clima quase sempre ensolarado e despretensioso, com um quê tropical, brinca com todo tipo de instrumento exótico. O álbum mais recente, Fight slowly (lançado em fevereiro), belisca o pop. Ouça em www.myspace. com/therubysuns. WHITE HINTERLAND Projeto da compositora e pianista Casey Dienel, o White Hinterland combina elementos de música erudita com uma atmosfera de lirismo e mistério que lembra grupos como Animal Collective e Beach House. Ainda uma promessa na música independente dos Estados Unidos, Casey promete despontar com o próximo disco, Kairos, prestes a ser lançado. Ouça em www.myspace.com/ whitehinterland. THE MEMORY TAPES O produtor Dayve Hawk, de Nova Jersey, vê a cena psicodélica americana por uma lente inusitada: usa uma colagem de elementos eletrônicos para compor faixas surreais. A estreia, Seek magic, é um bom exemplo de como experimentar com o pop sem testar a paciência de ninguém. Ouça em www.myspace.com/ thememorytapes.