Carlos Herculano Lopes
postado em 15/03/2010 08:19
Pedro Leopoldo (MG) - Depois de uma concorrida pré-estreia na sexta-feira, em Uberaba (MG), sábado à noite, no auditório completamente lotado da Fazenda Modelo Lanagro, foi a vez de o povo de Pedro Leopoldo, na Grande Belo Horizontre, ver e aplaudir o filme Chico Xavier, de Daniel Filho, que conta a vida e a obra do filho mais ilustre da cidade, onde nasceu em 1910 para tornar-se um dos homens mais amados do Brasil. Baseado no livro As vidas de Chico Xavier, do jornalista Marcel Souto Maior, o longa, com duração de 125 minutos , tem no elenco um time de primeira, como Nelson Xavier, que interpreta o médium na sua fase adulta; Ângelo Antônio, que encarna Chico quando jovem; e ainda Tony Ramos, Christiane Torloni, Giulia Gam e Letícia Sabatella, num total de 135 atores.
Só de locações foram 90, a maioria em Tiradentes (MG), na produção de R$ 7 milhões da Globo Filmes e da Sony Pictures, com trilha sonora de Egberto Gismonti. O lançamento nacional será em 2 de abril, data do centenário de nascimento do médium. Em 23 de março, vai ser mostrado em Paulínia (SP), em sessão para mil pessoas.
Antes do início da sessão, Daniel Filho, Ângelo Antônio, Nelson Xavier e Marcel Souto Maior receberam os títulos de cidadãos honorários de Pedro Leopoldo, entregues pelo prefeito, Marcelo Gonçalves. Daniel Filho confessou, após chamar os presentes de "meus conterrâneos", que a convivência durante meses com a vida de Chico Xavier mudou o seu jeito de ser e de ver o mundo. "Ele foi um homem que não só pensou, como muitos fazem, mas ele agiu, amou o ser humano e ajudou os seus semelhantes", disse.
Já Nelson Xavier, 67 anos, cuja semelhança com Chico no filme está impressionante, admitiu ter sentido alegria grande, quando foi convidado para integrar o elenco. "Espero que tenha correspondido. E se fui muito bem recebido em Uberaba, confesso para vocês que Pedro Leopoldo tocou profundamente o meu coração e estou me sentindo muito bem aqui." Ângelo Antônio, por sua vez, contou que, durante o tempo em que ficou pesquisando sobre a vida de Chico, também foi se tornando uma pessoa mais humilde. "Alguma coisa mudou dentro de mim após fazer esse filme", reconheceu o ator, mineiro de Curvelo.
Para Marcel Souto Maior, que acaba de lançar Chico Xavier, a história do filme de Daniel Filho, Editora Leya, o médium foi o personagem da sua infância, passada em Araxá. "O fato de ele falar com os mortos me intrigava e, ao escrever As vidas de Chico Xavier, o que eu queria mesmo era tentar decifrar esse enigma dos meus tempos de menino", revelou o escritor.
Entre os presentes, com um sorriso aberto, uma pessoa chamava a atenção, e todos queriam cumprimentá-la: era Cidália Xavier, irmã de Chico. Ao ser perguntada sobre quantos anos tinha, respondeu, com bom humor, que eram tantos que até ela mesma havia esquecido. "Tenho uma lembrança eterna do Chico. Foi ele quem nos criou. Ele foi nosso pai, nossa mãe e o que fez por nossa família nunca iremos esquecer. Foi uma pessoa especial", emocionou-se Cidália, na companhia de um neto e de amigos.
Para Célia Diniz, diretora do Centro Espírita Luiz Gonzaga, criado por Chico Xavier na década de 1930, em Pedro Leopoldo, o filme será um divisor de águas na historiografia do médium. "Todos os holofotes do Brasil se viraram para a nossa cidade, redescobrindo que ele nasceu aqui e viveu conosco mais da metade da vida até ir para Uberaba", orgulha-se Célia, que conviveu com Chico desde a infância. Ruth Peracio contou ter sido na fazenda do seu pai, José Hermínio Peracio, em Curvelo, que Chico descobriu a mediunidade, na década de 1920, após ter tido contato com o médium Pascoal Camanducci. "A nossa amizade, durante toda a vida, foi muito grande, e tenho mais de 140 cartas dele. Nunca vi Chico de mau humor", afirmou.
Casa da Prece
Poucos minutos após começar a exibição do filme, no qual a vida de Chico Xavier é contada desde a infância, um silêncio intenso, quebrado apenas por alguma tosse ou um mexer nas cadeiras, foi descendo sobre o auditório completamente lotado da Fazenda Lanagro. Muitos da plateia, como Cidália Xavier, Ruth Perácio e Célia Diniz, além das amigas Dorinha Cardoso e Auxiliadora Bahia, haviam convivido com Chico Xavier e cada uma dessas pessoas, a seu modo, guardavam lembranças do médium, que deixou cerca de 400 livros psicografados, com milhões de exemplares vendidos. Para elas, talvez, o filme de Daniel Filho não tenha novidades.
Mas para os jovens, que pouco sabem sobre o médium, o longa-metragem é informativo: começa com as primeiras manifestações mediúnicas de Chico e mostra sua ida para Uberaba, onde ele abre a Casa da Prece e continua a exercer a caridade. A psicóloga Rafaela Dias comenta: "Gostei muito do que vi. Infelizmente, não conheci Chico Xavier, mas acho que o filme foi muito fiel ao retratar a sua vida".
Para Mércia Duarte, terapeuta ocupacional, o longa foi redentor. "Chico foi uma pessoa muito próxima de todos nós em Pedro Leopoldo, mas o conhecíamos pouco. Só depois que ele se mudou para Uberaba foi que passou a ser valorizado aqui em Pedro Leopoldo", garante. Já para seu pai, Edson Jorge, de 81 anos, o médium era mesmo especial. "Chico era muito meu amigo. Sou dono de um cinema aqui em Pedro Leopoldo, o Cine Marajá, que será reaberto em breve. Ele ia muito lá, pois adorava cinema. E o mais incrível de tudo isso foi que, tantos anos depois, sua própria vida acabaria sendo transformada em um filme."