Diversão e Arte

Leonardo Braga apresenta a peça Com o diabo no corpo, no Teatro Goldoni

Ricardo Daehn
postado em 19/03/2010 08:21 / atualizado em 30/09/2021 13:52

Interessado em fazer espetáculos "para seres humanos e não para leguminosas", como reforça - longe do tom pedante, porém - o ator Leonardo Braga, às vésperas do cinquentenário da capital, não pretende "reverenciar o legado dos candangos". À frente da peça Com o diabo no corpo, a partir de hoje, no Teatro Goldoni (EQS 208/209), o brasiliense de 36 anos quer tirar proveito do caos político e da brisa de mudança prenunciada. "Preferi trilhar outro caminho criativo e prestar homenagem à eloquência de moradores burlescos de uma cidade ;bufolizada;", adianta o ator que, no palco, faz valer a citação de Bernand Shaw: "Faça um hipócrita vestir uma máscara e ele não conseguirá mais mentir".

Braga cita Bernand Shaw: Sem papas na língua e ostentando máscaras feitas com algodão, jornal, resina e látex, numa técnica que ele pesquisa há 15 anos, Leonardo Braga, em cena, busca ecoar as observações do dia a dia, tendo apoio da improvisação. "A Commedia dell;Arte revela o seu valor no momento da realização cênica -, a gente fala direto ao público e as máscaras se encarregam do extraordinário poder de síntese", explica o intérprete formado pela Escola de Arte Dramática da USP.

Formatado numa espécie de jogral, Com o diabo no corpo vem embalada por elementos como câmara "legislatrina" e "manéfestantes". "Os temas vão se relacionando no palco. Os arquétipos da Commedia dell;Arte, de certa forma, interagem. O Arlequim, por exemplo, transparece na figura do verborrágico Nóia, um viciado menino de rua. O Pantalone revive no Panetone que se desculpa e reza junto com a comunidade", adianta. No painel, ainda há posto para República, uma prostituta da "trezentos e queen;s norte" e para o ambulante Malha Fina, que vende DVDs com explícito conteúdo de intercâmbios e negociatas feitas em nome do poder.

Com traje escuro, num cenário com fundo preto, Leonardo Braga centraliza o foco nas máscaras "que, na verdade, não mascaram, mas revelam". Além da densa expressão gestual, no recurso da pantomima, o complemento teatral se dá com a exploração de linguagens artísticas italianas atreladas a Commedia dell;Arte, que despontou, na Itália, no século 15. O lazzi - representado por gags e intervenções velozes, com resultado grotesco - se junta à paródia satírica proposta pelo grammelot. "Para executá-lo é preciso contar com uma bagagem de estereótipos sonoros e de tonais, com boa cadência verborrágica e usos de onomatopeias", explica o ator que, em Com o diabo no corpo, responde também pela criação e pela direção do espetáculo.

Diretor de cinema, com estudos no Gafton Actor;s (em Vancouver, Canadá), Leonardo Braga voltou para Brasília em 2003 e, depois de experiências docentes em oficinas e workshops, já havia investido num primeiro espetáculo com linha similar ao atual, com a mesma Azimute Companhia de Máscaras Cômicas, que montou A suposta morta (Flaminio Scala). Outra experiência marcante foi com a montagem de O tolo, um Otelo com tom clownesco. Para o novo desafio, no Teatro Goldoni, o ator divide o palco apenas com o músico Munha (do Satanique Samba Trio). "O ator não deve precisar de muitos elementos sobressalentes para se sustentar", diz, numa citação do dramaturgo Moli;re.

Ouça entrevista com o ator e diretor Leonardo Braga

COM O DIABO NO CORPO
Teatro Goldoni (Casa d;Itália, EQS 208/209). De hoje a 11 de abril. às sextas e aos sábados, às 21h, e domingos, às 20h. Espetáculo com 55 minutos de duração. Ingressos a R$ 20 e R$ 10 (meia). Não recomendado para menores de 16 anos

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