Nahima Maciel
postado em 20/03/2010 16:36
Acostumado a participar de apresentações da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro (OSTNCS), o clarinetista Félix Alonso se diz vítima de perseguição política por parte do maestro Ira Levin, regente da orquestra. Alonso alega ter sido dispensado de tocar na sinfônica porque participou da ópera-bufa Auto do pesadelo de Dom Bosco, do maestro Jorge Antunes. A peça, encenada em fevereiro no Conic, é uma sátira com a crise política do Distrito Federal e, entre outros, ironiza a deputada Eurides Brito, sogra do maestro.
Alonso não é funcionário da orquestra, mas costuma completar o quadro de clarinetas e realizar concertos eventuais mediante cachê de R$ 600. Há duas semanas, recebeu telefonema do maestro Levin no qual era dispensado de todas as apresentações com a orquestra deste ano. "Ele me deu uma bronca e disse: 'Você não vai tocar mais uma nota comigo nesta orquestra. Você ia ganhar muito dinheiro este ano, mas não vai ganhar mais'", conta. "Ele estava irritado porque eu tinha tocado numa ópera que estava criticando a sogra dele. Ele disse que não mistura trabalho com política? Mistura, porque se não misturasse permitiria que fosse contratado na orquestra."
O maestro não nega o telefonema, mas afirma que queria apenas dar uma opinião sobre a ópera de Antunes. "Disse a ele que ele não estaria tocando com a orquestra e tomei a liberdade de dar minha opinião pessoal, de artista para artista, sobre o assunto da ópera, algo do qual creio ter direito a dar. Não tem a ver com minha declaração na entrevista (concedida ao Correio na última terça), em que digo: 'Eu separo política e trabalho, não faço parte de nenhum partido'. Há dúzias de músicos que participaram da orquestra em anos passados, que não participarão este ano, e que podem participar ainda se a oportunidade e a necessidade aparecerem", diz Levin.
O maestro destaca ainda que a programação de 2010 está fechada e que suspendeu a participação de Alonso em um concerto em julho porque a apresentação foi cancelada. %u201CEstava considerando não só o Felix, bem como outros clarinetistas, porém foi cancelado por causa de mudanças na programação, pois perdemos um concerto com o adiamento do início da temporada que deveria ter ocorrido em nove de março. Como todos os outros solistas já estavam confirmados, tivemos que adiar o concerto em que não tínhamos certeza de quem seria o solista%u201D, diz Levin.
Decepção
Para Alonso, a decisão do maestro é fruto de perseguição política. "Eu admiro o maestro porque acho que é um bom músico. Mas essa ligação dele me decepcionou demais. Além do mais, como pode dizer que não mistura política com trabalho depois de ter acontecido isso comigo?" O clarinetista está acostumado a tocar com a orquestra brasiliense desde 1997, quando pisou em Brasília pela primeira vez a convite da maestrina Elena Herrera. Cubano, 34 anos, Alonso deixou o país natal para se casar no Brasil. Desde então, deu aulas na Escola de Música de Brasília (EMB) e hoje tem alunos particulares de clarineta e ensina iniciação musical em escolas particulares.
Naturalizado brasileiro, colaborou com a sinfônica da capital em peças como Sinfonia nº 3, de Schumann, Sinfonia nº 7, de Beethoven, e Bachianas brasileiras, de Villa-Lobos. No fim do ano passado, foi convidado por Levin para ensaiar a Sinfonia nº 9, de Mahler. Chegou a participar de dois ensaios para fazer a leitura da peça, meses antes de participar da ópera no Conic. "Sou um simples músico que tocou na ópera, não fiz a ópera, a ópera é do maestro Jorge Antunes, que é meu amigo e isso ninguém pode tirar. Vivo num país livre."