postado em 25/03/2010 07:00
Em 2030, Dr. Ovídio, fora de Brasília há 37 anos, chega à cidade e se depara com um cenário perturbador: o Lago Paranoá é um enorme charco, o Setor de Clubes foi invadido por imensas construções, edifícios sequestraram o espaço entre o Congresso Nacional e a Torre de TV e a Praça dos Três Poderes se tornou local de comércio, ocupada por um shopping. O leitor vai encontrar uma capital brasileira e Patrimônio da Humanidade irreconhecível em Brasília 2030 ; A reconstrução (112 páginas, Dom Quixote. R$ 15), ficção escrita pelo advogado Paulo Castelo Branco (foto) e publicada pela primeira vez em 1994. A segunda edição será lançada hoje, no Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal (IHGDF), a partir das 19h. ;É um livro crítico, duro a respeito da questão;, diz o autor sobre as modificações, que o fizeram pensar numa narrativa dramática sobre o futuro da cidade. Trecho do livro
"É incrível. Da janela, vejo as luzes fracas à distância, no Lago Sul; prédios imensos próximos uns dos outros. A lâmina d;água me parece estreita. Enxergo pontos de fogo por todos os lados. Não entendo, e resolvo dormir. Ao amanhecer procurarei entender melhor a nova geografia da cidade.
Meu depoimento está marcado para daqui a dois dias na Comissão Parlamentar de Inquérito que, finalmente, apura a questão das modificações realizadas por vários governos no Plano Original de Brasília. É uma longa história com a qual tive muitos aborrecimentos até a minha saída. Deito-me e fico de olhos fechados, pensando nesta cidade original. Um dia ouvi o professor Oscar Niemeyer dizer, em uma palestra, na Universidade de Brasíia, que, na concepção de Brasília, a queria nada mais do que diferente de tudo que já havia sido imaginado. Foi assim. Aqui tive grandes alegrias, mas, ao sair, não senti saudade. Criei quatro filhos, dos quais dois nascidos na Casa de Saúde Santa Helena, no fim da Asa Norte, quase um deserto, só havia a Maternidade. Bela cidade. Era muito boa a caminhada matinal na ciclovia do Lago Sul, os passeios pelo Parque da Cidade e a atividade profissional sempre agradável e gratificante. Adormeci e sonhei.
Ao acordar, não me lembrava do sonho, mas acho que era bom. Levanto e olho pela janela. Onde imaginava que estava o lago, existia um grande charco com uma avenida larga; fiquei sem entende, mas pretendo ver os locais antes do meu depoimento."