postado em 26/03/2010 08:36
Esperar pelo trem enferrujado das grandes gravadoras não está entre os objetivos de uma geração brasiliense que aprendeu a criar, na marra e por conta própria, uma cena independente cada vez mais organizada. Coletivos como o Esquina (no Plano Piloto) e o Cultcha (em Taguatinga), formados por bandas e produtores, provam que a filosofia da cooperação pode sim cumprir o papel de sacolejar um mercado em crise. É esse o ambiente habitado pelo quarteto Biônicos, que encara o desafio - especialmente complicado - de construir um circuito para o rock alternativo em Samambaia.
"A cidade tem algumas bandas, mas a maioria é de metal. Para tocar, temos que organizar os shows. Mas nunca nos preocupamos muito com isso: queremos é tocar", afirma o baixista Sanderson, 26 anos. Foi a necessidade de pavimentar uma cena que provocou o nascimento do coletivo Insônia, que reúne três grupos de Samambaia. Além do Biônicos, entram na corrente Firmino e Los Quebraditos. O lançamento do projeto será neste domingo, às 17h, no Bar da Toinha (QR 208). "Sempre que queremos tocar, somos obrigados a sair da nossa cidade. A ideia é trazer bandas para Samambaia, promover shows", planeja.
Esse espírito destemido diz muito sobre a postura do Biônicos. Em pouco mais de um ano de existência, eles já derrubam alguns preconceitos antigos. Sem desânimo, eles mostram que existe espaço para o indie rock dos anos 1990 - de ídolos como Guided by Voices e Nirvana - numa cidade conhecida pelo domínio metaleiro (e pelo "rapcore" do 10Zer04). E oferecem soluções viáveis para preencher o vazio cultural da região. "Em Samambaia, você não vê nada acontecendo. De vez em quando, um showzinho", conta o baixista.
Formado em janeiro de 2009, o Biônicos surgiu dos cacos de dois grupos: o Drej, de Sanderson e do baterista Julimar, e do Gritantes, defendido pelo vocalista Josimar. Com a escalação do guitarrista Cris, começou uma temporada de ensaios que fermentou a sonoridade do grupo. "Sempre que perguntam o que a gente toca, falamos em rock alternativo. Mas é uma mistura de influências, com grunge, pop rock, shoegazing", enumera. Superguidis e Walverdes também entram na lista de referências. Em setembro, produziram a primeira demo, da faixa Não dá mais. Participaram em fevereiro do festival Grito Rock e, em abril, pretendem gravar mais músicas de um repertório ainda em gestação.
No MySpace, a canção de estreia é acompanhada por versões ao vivo de Longe daqui, Tanto faz e Cansei. As letras, divididas entre Sanderson e Josimar, costuram cenas do cotidiano - sempre em português. "A nossa inspiração vem das situações que vivemos: a família, o dia a dia, as injustiças. E falamos muito sobre essa fase de pós-adolescência", explica.
Para um futuro muito próximo, eles anunciam canções mais pesadas ("mais para o grunge") e, com o fortalecimento do coletivo Insônia, sonham com a integração ao circuito Fora do Eixo, associado a vários festivais brasileiros. "Acho que estamos vivendo um período bem interessante, por causa dos coletivos. Há bandas boas surgindo. É o momento de levantar a cena de Brasília, que estava caída. Mas a galera tem que pegar firme", observa. Se depender do Biônicos, essa história será longa.
BIÔNICOS
Conheça a banda de Samambaia em br.myspace.com/bionicos e em bionicosbanda.blogspot.com. O quarteto se apresenta neste domingo, às 17h, no Bar da Toinha (QR 208, Samambaia Norte), em festa de lançamento do Coletivo Insônia. São acompanhados pelas bandas Firmino e Desvio Temporário. Acesso livre. Não recomendado para menores de 16 anos.
O público de Brasília é generoso com bandas iniciantes?
Ainda existe muito preconceito. Se você faz um show com três bandas novas, corre o risco de não ter público. Por isso, é importante a ideia dos coletivos, que estimulam a carreira desses grupos iniciantes. No caso do coletivo Insônia, a proposta é suprir a carência de shows em Samambaia. Queremos saber como está essa cena, melhorar o que está errado e ampliar esse circuito. São três bandas novas. No coletivo, nosso objetivo também é encontrar bandas novas e acabar com essa história de festival de cover. É importante valorizar o rock autoral.
Gilson, vocalista da banda Los Quebraditos, que faz parte do coletivo Insônia.