postado em 27/03/2010 15:51
Este ano promete. Promete aluguel de nosso precioso tempo gasto em frente à tevê - ou entretenimento não conta pontos? -, com a enxurrada de propaganda eleitoral que, especialmente nos primeiros meses do segundo semestre, estará atacando feito predador faminto na selva. Cadê o encanto das manhãs de setembro das quais Vanusa falava naquela canção dos anos 1970, quando nem existia YouTube (e ela, até onde sabemos, não se aventurava a cantar o Hino nacional sem preparo) e os tempos eram bem outros? Setembro, moçada, será de bombardeio eleitoreiro na televisão. Ainda mais para quem só tem à mão os canais abertos.
Mas a situação é um pouco pior do que parece. Aqui e acolá, alguns candidatos burlam a legislação e começam a vender o seu peixe na tevê antes do permitido. Coisa feia! Deveria surtir efeito contrário: cada um que investe dinheirão vindo sabe-se lá de onde para botar a cara e a fala na tevê a serviço de propaganda eleitoral poderia perder intenções de voto em cascata. É só o povão se tocar de que aquele candidato está atrapalhando o horário da novela ou do programa favorito e tomar uma atitude: nesse eu não voto; naquela ali, muito menos.
E há um fato curioso, mas preocupante. Entre esses alguns que invadem nosso espaço antes do tempo, existem aqueles que, usando prerrogativas de poder, vez por outra atuam nos bastidores da... triste dizer, mas é censura mesmo. Ou você não percebeu que, devagarzinho, alguns dos críticos mais afiados da política foram perdendo espaço na televisão? Boris Casoy, Salete Lemos, as meninas do Jô%u2026 Arnaldo Jabor já teve comentário abduzido não só da tevê, mas também do rádio. Ordens superiores. Se continuar assim, estaremos %u201Cvenezuelados%u201D em pouco tempo. E aí será tarde. Já pensou que desastre ter a mídia eletrônica controlada?
Eleitoral ou meramente comercial, propaganda na tevê pode adquirir o efeito Gremlin: multiplica-se e, quando a gente se dá conta, já se apossou da maior parte da grade de programação. O paraíso dos canais por assinatura, caracterizados não só pela oferta alternativa de atrações, como pelo privilégio de oferecerem pouco espaço para propaganda, aos poucos também está se esvaindo.
Repare que, em determinadas faixas de horário, até alguns canais predominantemente dedicados a documentários são tomados por comerciais. E daqueles insistentes e longos - geração shoptime, medalhão persa e congêneres. Sou contra e já reclamei: não consta de meu contrato, no item em que escolho os canais, a informação de que um e outro fazem tais concessões. Sendo um serviço pelo qual se paga, você vai querer gastar dinheiro para ver propaganda?.
Quando se trata de tevê por assinatura, é questão de direito do consumidor não querer gastar com um canal que, por melhor que seja, na calada da noite fica igual aos outros. Já no segmento das tevês abertas - gloriosa exceção às repetidoras do sistema de TV Cultura, onde comercial tradicional tem pouca vez -, não há muito o que fazer. Pensando bem, há, sim: quando chegar o momento permitido de propaganda eleitoral, tente se lembrar que voto é coisa séria. E que nem todo mundo que fala bonito, num primeiro momento, quando ganhar a eleição fará você se sentir bem-representado.