postado em 01/04/2010 07:00
Desta quinta (1/4) a domingo, gente vestindo roupas coloridas, de nariz quase sempre vermelho e muito pouco afeição ao mau humor ocuparão o Complexo Cultural da Funarte, a Praça do Povo no Setor Comercial Sul e o Sesc Ceilândia. Parece palhaçada. E é mesmo. Palhaços e palhaças de cinco países se reúnem em Brasília para o 8º Sesc Fest Clown - Festival Internacioal de Palhaços, que apresentará 15 espetáculos onde os protagonistas são os mestres da arte de fazer rir.
[SAIBAMAIS]O que para o público pode significar momentos de deleite e reencontro com um dos personagens mais queridos de qualquer infância, para os palhaços de Brasília significa uma chance de aprofundar estudos e conhecer novas técnicas de picadeiro. "A ideia sempre foi a de criar um ambiente de intercâmbio com formação e informação dos artistas locais. Lógico que os estrangeiros também aprendem muito. Para o público também é ótimo. É a chance de participar de uma atmosfera lúdica, criada para toda a família com espetáculos tecnicamente perfeitos", explica o programador artístico e um dos pioneiros do Festival, Rogero Torquato (o palhaço Totoia).
Um dos veteranos da arte da palhaçaria na cidade, o diretor da companhia teatral Celeiro das Antas, José Regino acumulou longa kilometragem desde 1988 em viagens ao exterior para aprofundar pesquisas de técnicas circenses. "Fui porque era minha inquietação. Serviu para afirmar algumas tendências que eu tinha. Por exemplo, hoje meu trabalho é muito mais de humor físico do que antes. Estas coisas vem para você afirmar ou confirmar coisas que você já está pensando. Mas, o ruim era que nem sempre tinha com quem trocar as informações", relembra Regino.
Universidade de lona
Hoje, o diretor não precisa usar as milhas do cartão de crédito em voos para fora do Brasil. "O movimento da cidade era uma antes e outro depois do Fest Clown e do Planeta Circo (encontro já extinto). As oficinas são muito importantes. Mas, o que é melhor são os encontros informais que o Festival proporciona", compara. "O fato da plateia, em geral, assistir e perceber o desenvolvimento técnico também é muito bom. Essa visão de formação de público ajuda o trabalho do palhaço em geral", completa o diretor.
Antônia Vilarinho, a palhaça Fronha, reconhece a importância que o Fest Clown teve para o desenvolvimento da própria carreira ao ser assistida por artistas estrangeiros. Mas, também observa um fator que pode passar despercebido para a maioria das pessoas. "Os festivais têm tendências mais masculinas. Mais recentemente, as palhaças vem sendo reconhecidas. Me lembro que a participação da palhaça Lily Curcio (do carioca Seres de Luz, um dos participantes deste ano) me deu a certeza de poder acreditar nesse ofício", resume.
Leris Comlobaioni, representante da sexta geração da lendária família italiana de commedia dell//' arte, já lecionou durante várias edições do Festival. Ele é usado pelos artistas da cidade como o exemplo mais emblemático desta interação. "Me lembro que a primeira oficina que fiz com ele foi bem introdutória. Hoje, ele ensina gente que já tem uma lida com a palhaçaria. Isso mostra que o Festival está comprometido com a formação dos artistas", opina Ana Flávia Garcia, conhecida no picadeiro apenas como Geleia.
O argentino Chacovachi, outra das estrelas desta edição, exerce forte influencia no trabalho dos brasilienses dos Irmãos Saúde. "Ele é um pallhaço de rua, anárquico e nos influenciou porque tem essa pegada ideológica. Muito além de fazer as pessoas rirem, o discurso dele é provocativo. A ideia é construir o riso a partir da reflexão. O palhaço sobrevivente que se utiliza do humor para construir um mundo possível de se viver", explica Ankomárcio Saúde. A entrada para todos os espetáculos será feita mediante doação de 1Kg de alimento não perecível.
» Alma de peixe (Distrito Federal)
Apesar de já ter sido apresentado em Brasília, esta montagem dirigida pelo brasiliense José Regino, tem como aspecto diferencial trabalhar o humor com bebês e crianças de seis meses a cinco anos. Domingo (4/4), às 16h30, na galeria ao lado da Sala Cássia Eller na Funarte. Classificação indicativa livre.
» Colheita (México)
Uma reflexão sobre a natureza, o amor e a vida é apresentada por meio da técnica de mímica pelos mexicanos da companhia Momo Teatro Pantomima. Sábado (3/4), às 16h, no Teatro Plínio Marcos. Domingo (4/4), às 18h, no Complexo Cultural da Funarte. Classificação indicativa livre.
» Cuidado! Um palhaço mau pode arruinar a sua vida (Argentina)
Especializado em espetáculos de rua, o argentino Chacovachi usa a figura do palhaço para construir crítica social recheada de acidez e desilusão. Sábado (3/4), às 23h, no Complexo Cultural da Funarte. Não recomendado para menores de 12 anos.
» Devolução industrial (Distrito Federal)
Novo espetáculo da companhia brasiliense Circo Teatro Udigrudi. Máquinas malucas, músicas místicas e humor são usados para contar a história da evolução da raça humana. Hoje (1/4), às 10h, no Teatro Plínio Marcos. Sábado (3/4), às 20h, no Sesc Ceilândia. Domingo (4/4), às 16h e às 18h, no Sesc Ceilândia. Classificação indicativa livre.
» Noite de gala
Tradicional reunião dos grupos participantes sob batuta do mestre italiano Leris Colombaioni. Sábado (3/4), às 22h, no Teatro Plínio Marcos. Não recomendado para menores de 12 anos.