Diversão e Arte

Mick Hucknall aposenta o Simply Red em uma celebração pop que chega a Brasília neste domingo

postado em 14/04/2010 07:00

Havia um tempo em que Mick Hucknall se irritava com os boatos sobre o fim da banda que criou em 1985. ;É impossível. O Simply Red sou eu;, explicava, sem evitar o tom de ironia. Até o fim do ano passado, o cantor britânico ainda repetia essa ladainha aos jornalistas mais insistentes. De fato, parecia um assunto encerrado: não haveria motivos para que o vocalista trancasse uma indústria de hits que, na prática, sempre soou como um projeto solo. Há 25 anos, os cachos ruivos do vocalista são a assinatura visual de um grupo que, não por acaso, exibe no próprio nome a identidade do líder. Red era o apelido do adolescente de Lancashire que, instigado por um show dos Sex Pistols, resolveu tingir de vermelho o mundo pop.

Ainda hoje, é complicado definir limites entre Mick e o Simply Red. Mas, prestes a completar 50 anos (em junho), o ídolo romântico tomou uma decisão que, para o espanto dos fãs, contradiz aquela antiga certeza. A notícia está logo ali, no cartaz da turnê que chega a Brasília neste domingo: Farewell ; The final tour. Em bom português, trata-se de uma despedida. ;Eu sinto que, depois de todos estes anos, preciso de liberdade para fazer algo diferente. As pessoas criam expectativas diante de um disco do Simply Red. Elas esperam um determinado tipo de som. Para mim, é difícil criar algo que fuja desse modelo. Quero explorar outros estilos musicais;, explica, em entrevista ao Correio.

Nenhuma mudança, porém, será tão radical quanto parece. O cantor adianta, por exemplo, que voltará a trabalhar com músicos que o acompanham há anos. ;Vou encerrar a ;marca; Simply Red e fazer algo diferente. Vai ser como iniciar uma nova carreira. Para mim, é uma perspectiva muito empolgante, desafiadora;, afirma. Essa nova fase do compositor ainda soa misteriosa. Mas o elogiado disco solo Tribute to Bobby (2008), dedicado ao ;leão do blues; Bobby Bland, indica um interesse crescente pela história da música negra norte-americana. ;Sou apaixonado pela música dos anos 1950 e 1960. Mas nunca consegui incorporar essas influências na sonoridade do Simply Red;, lamenta.

Não é nada confortável, portanto, abandonar um estilo que vendeu 50 milhões de discos e produziu grudes radiofônicos, como For your babies, Stars e Holding back the years. Em 2009, Mick embarcou numa longa turnê para compartilhar as últimas doses desse caldo adoçado de pop e soul music. No Brasil, a elegante caravana passa por Recife, São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Brasília, no Pontão do Lago Sul. O país é um antigo conhecido. Na capital, ele se apresenta pela segunda vez, sete anos depois do show no Brasília Music Festival. ;Lembro que gostei muito de Brasília, foi uma ótima viagem. Mas não tivemos muito tempo para aproveitar o passeio. Esse tipo de problema acontece quando estamos em turnê. Não é como tirar férias;, compara.

As apresentações da banda não escondem que, no palco, a engenharia é trabalhosa. Mick se apresenta com 10 músicos, em baile que traduz a tradição da soul music com o detalhismo cool do pop inglês. ;A turnê é para os fãs;, resume. O repertório do show confirma esse clima de celebração, com músicas do disco Simply Red 25: the greatest hits, de 2008. Do período de maior popularidade da banda, entre 1989 e 1995, não faltará nenhum sucesso. Naquela época, Mick abrandou o tom levemente político das primeiras canções e reforçou o apelo popular com regravações de faixas como If you don;t know me by now, de Harold Melvin.

Desde então, Mick desfila na calçada das celebridades, com ou sem grandes sucessos nas rádios. Casado com Gabriella Wesberry e pai da menina Romy True (nascida em junho de 2007), o cantor é um dos sócios do restaurante Man Ray, em Paris, de Johnny Depp, John Malkovich e Sean Penn. Na Sicília, produz vinhos com o rótulo Il Cantante. E, torcedor fanático do Manchester United, anunciou o desejo de comprar o time (logo depois, voltou atrás). Com várias mudanças de formação, o Simply Red se transformou no maior patrimônio de Mick. ;Sou uma pessoa muito curiosa e criativa. A partir de agora, vou me sentir mais livre para criar;, afirma. Que os fãs entendam o recado: o fim do Simply Red por ser interpretado como o começo de uma nova amizade.

FAREWELL ; THE FINAL TOUR
Domingo, às 20h, no Pontão do Lago Sul. Ingressos: camarote VIP Experience, R$ 750; cadeira VIP, R$ 400 e R$ 200 (meia); pista, R$ 300 e R$ 150 (meia); e arquibancada, R$ 200 e R$ 100 (meia). À venda nas lojas Fnac (ParkShopping), Free Corner (Brasília Shopping) e pelo site . Assinantes do Correio Braziliense têm 60% de desconto.
Não recomendado para menores de 16 anos.

Três perguntas para Mick Hucknall


Mesmo quando não tem sucessos nas rádios, o Simply Red não perde o apelo entre os fãs. Qual é a fórmula?
Acredito que, para fazer sucesso, você tem que fazer a música que você gostaria de ouvir. Não vai funcionar se você começar a gravar aquilo que as pessoas querem ouvir. É preciso ser fiel aos próprios gostos. Mas, é claro, você sempre espera que as pessoas gostem da música que você faz. Fico muito feliz ao perceber que, em 25 anos, tudo funcionou para nós.

Em 25 anos, o Simply Red preservou uma marca sonora. Como você define esse estilo?

Nosso som foi uma evolução das minhas influências musicais dos anos 1970 e os artistas que eu gostava de ouvir naquela época ; um som com muita alma. Mas não dá para explicar: nós fazemos a música que gostamos de fazer e acredito que é por isso que ela funciona.

Na era dos discos baixados pela internet, ficou mais difícil surpreender o público?
Acredito que, para os novos artistas, viver de música ficou muito mais difícil. Eu me sinto mal por eles.

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