Agência France-Presse
postado em 14/04/2010 16:24
O tradicional teatro Ópera de Buenos Aires, onde se apresentaram Ava Gardner e Edith Piaf, mudou de nome para Citi, em alusão à filial argentina do banco americano Citibank, o que gerou um forte repúdio de vizinhos, especialistas e organizações culturais.A instituição americana comprou por três anos os direitos do teatro, situado na famosa avenida Corrientes, no centro da capital argentina, e mudou seu nome contra a vontade dos que o consideram parte do patrimônio cultural de Buenos Aires. "Parece que alguns empresários, funcionários e outros tipos de predadores culturais demoram em entender que os cidadãos se importam em preservar o patrimônio cultural", afirmou o especialista em gestão cultural Facundo de Almeida.
Fundado em 1871, o teatro, cuja fachada foi redesenhada em estilo art decó em 1935, inspirado no cinema Gran Rex de Paris, conta com uma sala com capacidade para 2.500 espectadores e é o primeiro da América Latina a ser dotado com gerador próprio.
O presidente da comissão de Cultura da legislatura portenha (assembléia comunal), deputado Raúl Puig, disse à AFP que embora não esteja de acordo com a mudança de nome, a decisão é um acordo entre entidades privadas.
"O Citibank estava sustentando como ;sponsor; (patrocinador, ndr) 40% do custo das obras que estavam fazendo no Ópera e, além disso, enchia a plateia do teatro com descontos especiais promovidos pelo banco. Depois (...), tentou trocar o nome (do teatro) pelo de ;Ópera Citi;", explicou Puig, do partido Encontro por Buenos Aires, opositor ao prefeito de direita, Mauricio Macri.
Segundo ele, "os donos do Ópera queriam que o Citi pagasse pelo nome, mas o banco preferiu não pagar e o nomeou, diretamente, Citi".
Apesar disso, Almeida sustentou que "o valor patrimonial do teatro Opera (representativo da arquitetura portenha e, como tal, protegido pela lei de Patrimônio Cultural) está composto por um conjunto integrado pelo imóvel, pelo nome e pelo uso teatral".
"Quer dizer que modificar o nome não só é uma barbariedade, mas também é ilegal", sustentou.
A polêmica medida também gerou um amplo movimento de repúdio na rede social Facebook chamado "Para que devolvam o nome ao teatro Ópera", que em menos de uma semana recebeu 5.200 adesões, além de uma página na internet que também se opõe à mudança de nome.
A imprensa reagiu com duras críticas e menções irônicas, como o Buenos Aires Herald, que aventou um hipotético patrocínio da Coca Cola para o mítico teatro Colón de Buenos Aires.
Nem o banco Citi, nem o ministério da Cultura da capital argentina responderam aos contatos da AFP.