Diversão e Arte

Flying Lotus usa o laptop para viajar ao estranho mundo do pop experimental

postado em 16/04/2010 08:30
Sobrinho da pianista Alice Coltrane, o compositor e DJ vai do jazz ao hip-hop: herói da vanguardaA galáxia da música alternativa pode parecer extensa demais para caber num único CD. Mas o produtor Steven Ellison, mais conhecido como Flying Lotus, topa o desafio: no ótimo Cosmogramma, o terceiro álbum da carreira, o californiano de 26 anos encontra afinidades inusitadas entre convidados como Thom Yorke (vocalista do Radiohead), o saxofonista Ravi Coltrane, o baixista Thundercat (ex-Suicidal Tendencies) e o arranjador de cordas do Outkast. Essa lista de amigos indica alguns dos sons que instigam o artista: eletrônica, hip-hop, jazz e rock. Mas nenhum desses gêneros serve de bula para um disco que - radical, estranho, originalíssimo - soa como uma expedição a um planeta selvagem. "É um drama cósmico", resumiu Ellison ao site Prefix Magazine. Obcecado por revistas em quadrinhos, o Flying Lotus poderia ser um personagem de Watchmen, de Alan Moore: o homem comum que sonha em ser super-herói. "Se pudesse escolher um dom extraordinário, eu voaria. Só para ver as coisas de uma outra perspectiva", explicou. De certa forma, ele usa a música para realizar esse desejo. Observa o pop por um viés nada convencional. Para isso, usa uma arma não muito secreta, mas poderosa: o laptop. A naturalidade como Ellison flutua nesse ambiente digital impressiona até veteranos da dance music. "Ele é o Hendrix desta geração", definiu a DJ britânica Mary Anne Hobbs, musa do dubstep. Thom Yorke e o Massive Attack também são fãs. O selo britânico Warp é o lar de FlyLo (um apelido carinhoso que os fãs resolveram adotar). Não é por menos que a gravadora, front da eletrônica cerebral de Aphex Twin e Autechre (e a soul music futurista de Jamie Lidell), aposta alto em Cosmogramma. No site oficial, o disco (que será lançado no início de maio) já é chamado de clássico. Talvez não seja para tanto. Mas o entusiasmo é compreensível, já que Ellison soa como um artista verdadeiramente disposto a investigar novos itinerários para a eletrônica. Inspirações Ele nunca se preocupou, por isso, em escolher entre hip-hop ou ambient. Desde adolescente, preferiu explorar tudo ao mesmo tempo. A principal inspiração de Ellison era o rapper Lil Wayne, que despontou como revelação teen. "Eu pensava: se ele pode fazer, também posso", lembrou. Nos discos 1983 (2006) e Los Angeles (2008), criou incríveis miniaturas sonoras: no mundo do Flying Lotus, cada detalhe se torna crucial. Uma linha de baixo, um sampler exótico, um solo de sax, um efeito de sintetizador. Em uma das faixas mais surpreendentes de Cosmogramma, que amplia esse escopo com climas de ficção científica, o ritmo é definido pelo atrito provocado por uma bolinha de pingue-pongue. Inspirado pela espiritualidade da tia Alice Coltrane, pianista de jazz, e pelo experimentalismo pop de Björk, Ellison é promessa de uma geração atenta a uma época que, via internet, redefiniu o consumo de música pop. Cosmogramma se deixa modelar por essa poeira de arquivos de MP3. "As pessoas que eu conheço estão cansadas de ouvir sempre as mesmas coisas. Tento desafiá-las", comentou. A viagem é de outro mundo. Flyin Lotus Conheça o produtor norte-americano em www.myspace.com/flyinglotus. O terceiro disco do músico, Cosmogramma, será lançado no início de maio pela Warp Records. ****

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