postado em 20/04/2010 09:10
Hoje, às 20h, quando 120 crianças de Angola, Brasil e Portugal pisarem o palco da Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional para uma apresentação em conjunto com a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro, é possível que um distanciamento histórico esteja sendo diminuído. O projeto Língua Mãe reúne infantes dos três países de língua portuguesa e tem como objetivo imediato promover a integração entre as três nações. A ideia saiu da cabeça do percussionista brasileiro Naná Vasconcelos. Foi ele quem promoveu oficinas de uma semana em cada país e ensinou as músicas do folclore brasileiro para os três grupos. ;Têm acontecido coisas muito interessantes nesse projeto. As crianças de Angola desembarcaram no aeroporto de Lisboa para pegar o voo para o Brasil. Ao mesmo tempo, as crianças portuguesas estavam embarcando. De longe, elas ouviram um grupo cantando a canção que eu ensinei e eles se encontraram;, lembrou Vasconcelos.Na última sexta-feira, as 120 crianças foram reunidas na sala de ensaio do Teatro Nacional. Seguindo as indicações do mestre, elas ensaiavam marcações de palco. As quatro horas de diferença de fuso horário entre Brasil e Portugal fizeram com que as 30 crianças portuguesas acordassem muito mais cedo do que seria necessário, por volta das 5h. Mesmo assim, os alunos da Escola de Música de Perosinho (EMP) exibiram disciplina rara para quem tem entre 7 e 11 anos. Os versos da canção popular portuguesa Milho verde: ;Milho verde, milho verde/ Ai, milho verde, milho verde/ Ai, milho verde, maçaroca/À sombra do milho verde/Ai, namorei uma cachopa; são entoados em perfeita afinação. É preciso esforço dos monitores portugueses para que as crianças exibam um pouco de informalidade.
A viagem
Já o trato com as crianças angolanas demanda esforço diverso. Os adultos se desdobram para que os meninos hiperativos mantenham alguma concentração. O professor Valdir de Souza, do colégio 404, localizado no distrito de São Paulo, em Luanda, nem pensa em reclamar do trabalho. ;A viagem para cá foi bastante concorrida. Eu consegui vir porque sou professor. Estou adorando;, revelou Souza. ;Estamos fazendo os últimos arremates. Mas, começam a aparecer surpresas. As meninas angolanas, por exemplo, reclamaram que só estavam cantando e não estavam dançando. Então, incluiremos também uma parte de dança;, antecipa o percussionista sobre uma pequena mostra de Kuduro, dança popularíssima em Angola, calcada no movimento dos quadris.
A performance, incluída nas comemorações do cinquentenário de Brasília, é a prova concreta de que a integração dos países de língua portuguesa deve ir muito além de acordos ortográficos. Aluna da Escola Classe 62, de Ceilândia, Bruna dos Santos, 10 anos, diz já ter feito uma amiga angolana e outra portuguesa. ;A minha amiga de Angola chama-se Síria, o nome da portuguesa eu não lembro agora;, informou a estudante. Com tantos diferentes sotaques reunidos, dá para entender o que cada um está dizendo? ;A gente pede para eles falarem mais devagar para a gente entender;, revela Bruna. Todas as etapas do projeto são registradas e deverão dar origem a um DVD que será distribuído em escolas públicas do Brasil.
Língua Mãe
Hoje, às 20h, na Sala Villa-Lobos (Teatro Nacional, Setor Cultural Norte, Via N2; 3325-6239), show com 120 crianças de Brasil, Portugal e Angola, lideradas pelo percussionista Naná Vasconcelos. Participação da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional com regência do maestro Gil Jardim. Entrada franca. Classificação indicativa livre.