postado em 23/04/2010 08:21
Na última quarta-feira, a banda gaúcha Apanhador Só subiu ao palco do Teatro Renascença, em Porto Alegre, para lançar seu primeiro álbum. De certa forma, o evento marcou a conclusão de um ciclo e o começo de outro na trajetória do quarteto. "Enquanto o disco não ficava pronto, compusemos quatro músicas novas que já entraram no repertório dos shows", conta Alexandre Kumpinski, vocalista, guitarrista e principal compositor do grupo. O plano para o resto do ano inclui, claro, tocar no maior número de praças possíveis. "Já temos uma turnê marcada para maio com datas em São Paulo e em cidades do interior do estado. Depois, Paraná, em Maringá e Curitiba", adianta o músico de 24 anos.
Mas seria, no mínimo, precipitado supor o que o futuro reserva para eles. Do presente é mais fácil falar. E o momento atual da banda é dos mais interessantes, como comprova o disco de estreia - desde já, uma das melhores novidades do rock brasileiro em 2010.
O que chama a atenção logo de cara é a habilidade da banda para fazer rock com influências da música brasileira. A mistura não é novidade, mas - principalmente depois do Los Hermanos - voltou como tendência com toda a força na última década, ao ponto de, hoje em dia, ser mais difícil encontrar quem faça isso com criatividade. É o caso do Apanhador Só.
"Tínhamos 15 anos quando o Bloco do eu sozinho foi lançado. Não posso dizer que não mexeu com a gente. O tipo de liberdade musical que eles tinham é o que mais nos influenciou", analisa o vocalista. Se o Apanhador Só lembra Los Hermanos? Em alguns momentos sim, mas pouco, sem afetação. Talvez seja a combinação de referências que aproxime as bandas. "Não nos restringimos a nenhum tipo de som. Nossa maior influência atual é o Tom Zé, aquela coisa meio quadrada do som dele, cheia de arestas", conta Kumpinski.
E ainda que ele afirme ser fã de Chico Buarque, Sérgio Sampaio, Jards Macalé, Jorge Ben, Itamar Assumpção e Walter Franco, o Apanhador Só começou em 2003 como brincadeira de amigos de colégio tocando Beatles, The Who e Strokes. E guitarra é o que não falta no disco. Ou seja, é o DNA mestiço que resulta nessa cara de banda de rock com doses de música brasileira. Para as letras, quase poéticas, um tanto quanto surreais, o vocalista se inspira em vivências, mas também em livros, filmes, observações.
Quem batizou a banda foi um ex-integrante que, para inscrevê-los em um festival, teve a ideia do nome em cima da hora. "Acabamos gostando, porque ao mesmo tempo que o nome não quer dizer nada, remete a vários significados, como o romance O apanhador no campo de centeio (de J. D. Salinger) e a música Marinheiro só, do Caetano Veloso", explica o vocalista. Além de Kumpinski, a banda é composta hoje pelo guitarrista Felipe Zancanaro, o baixista Fernão Agra (integrante original, que não chegou a gravar o disco, mas voltou para o quarteto recentemente) e o baterista Martin Estevez.
O álbum
Apanhador Só, o disco, foi produzido por Marcelo Fruet, que ajudou a moldar o som cristalino, de belos timbres de guitarras e muito punch ao longo das 13 faixas. O encarte do CD enumera algumas participações, como o músico Artur de Faria no acordeão, e Carina Levitan, a ex-integrante que agora vive em Londres, tocando percussões inusitadas, como máquina registradora, projetor de filme, panela, pato de borracha e roda de bicicleta. A roda, aliás, depois de vista no palco, acabou virando o logo da banda.
Cerebral e pop, intrigante e acessível, delicada e barulhenta, a estreia da banda desafia o ouvinte a escolher sua música favorita. Há anos, Maria Augusta já é hit nos shows. Um rei e o zé, Prédio e Nescafé são fortes candidatas a cair no gosto de quem ouvir o disco. Depois de uma semana disponível para download no site do quarteto, o disco foi baixado por 1.700 pessoas. Quem sabe, no futuro, o apanhador não esteja mais só.
Apanhador Só
Disco de estreia da banda gaúcha Apanhador Só. 13 faixas. Produzido por Marcelo Fruet. Lançamento independente. Download em www.apanhadorso.com. ****