Nahima Maciel
postado em 28/04/2010 08:07
O curador Marcus Lontra defende que apenas a qualidade une as obras dos 11 artistas expostas na Referência Galeria de Arte. Lontra veio do Rio de Janeiro para fazer a curadoria de Projeto ocupação contemporânea, mostra de artistas jovens tradicional no calendário da galeria. "Estamos num momento que Brasília tem um grupo interessante de artistas e a galeria tem que considerar abrir espaço para eles e espaço de intercâmbio cultural", diz o curador, que andava incomodado em observar a repercussão da arte contemporânea goiana e nunca da brasiliense. "Goiânia estava em todos os lugares com diversos artistas contemporâneos e Brasília não estava em lugar nenhum. No momento que percebi que há um grupo interessante aqui comecei a trabalhar para que a cidade ocupasse o papel que tem que ocupar, é a capital e um centro importante de produção de arte."
Pintura e instalação são as principais linguagens utilizadas pelos artistas da mostra, nomes frequentes em galerias alternativas brasilienses como o Espaço Piloto da Universidade de Brasília (UnB) e Objeto Encontrado. Boa parte dos nomes escolhidos por Lontra estão em intensa fase de produção e participam de um circuito movimentado de exposições na cidade. Clarice Gonçalves, por exemplo, mostrou seus quadros mais de três vezes entre o ano passado e este mês, assim como Taigo Meireles. O mesmo aconteceu com os autorretratos de André Mota Barroso, expostos recentemente no Espaço Piloto, e com as obras de Matias Monteiro, cujos objetos irônicos e referentes à infância estiveram na Renome Galeria.
Oportunidade
Mesmo assim, Projeto ocupação contemporânea é uma boa oportunidade de acompanhar artistas responsáveis pela produção mais instigante da capital. Como aponta Lontra, não há unidade nas obras nem características regionais que poderiam responder por uma intersecção de reflexões. "Ainda bem. No mundo de hoje não dá para ter unidade. Mas também não tem culpa. Não tem vontade de ser Centro-Oeste também. Acho isso um saco. Em certo sentido, eles resgatam uma ideia da cidade, Brasília é um ato de liberdade artística", diz Lontra. "A pintura da Clarice, por exemplo, tem uma relação muito grande com a pintura inglesa dos anos 1990. Brasília possui um grupo de artistas que você pode jogar no cenário contemporâneo que eles seguram a onda."
Na pintura, Lontra destaca o rigor no trabalho de Clarice Gonçalves, Raquel Nava, Fábio Baroli, Taigo Meireles e Camila Soato. "São jovens e muito disciplinados no sentido de produção, da preocupação com a qualidade da pintura, com a maneira de mostrar o trabalho, a sofisticação no acabamento." Nas instalações e objetos, humor e sutileza estão presentes em instalações de Luciana Paiva e Matias Monteiro. "A Luciana tem essas associações nas construções de paisagens, são obras pequeninas com uma amplidão de espaço, uma relação curiosa com Brasília. As pessoas chegam aqui e acham que tudo é pequeno. E ela tem essa relação dos elementos, de jogar com pequenas tecnologias, com jogos de sombra", continua Lontra, que também escolheu uma série de desenhos de Lucas Gehre e Virgílio Neto, virtuoses da técnica segundo curador.
PROJETO OCUPAÇÃO CONTEMPORÂNEA
Exposição com obra de Alexandre Azevedo, André Mota Barroso,, Camila Soato, Clarice Gonçalves, Fabio Baroli, Luciana Paiva, Lucas Gehre, Matias Monteiro, Raquel Nava, Taigo Meireles, Virgílio Neto e curadoria de Marcus Lontra. Visitação até 8 de maio, de segunda a sábado, das 10h às 22h, e domingo, das 14h às 20h, na Referência Galeria de Arte (Casa Park).