postado em 29/04/2010 09:09
"Amigo leitor, prepara teu coração e teu espírito para o relato mais impuro já feito desde que o mundo existe." É assim que se inicia o livro 120 dias de Sodoma, escrito no século 18 pelo Marquês de Sade. A frase inicial dá uma ideia do que virá pela frente. Na história, durante quatro meses, 44 pessoas se entregam aos mais secretos - ou nem tanto - deleites de quatro libertinos. Eles devem esquecer seus pudores, seus medos e seus questionamentos morais, pois não há lugar para isso.
Foi a partir dessa obra de Sade, que o autor Flávio Braga escreveu a novela Sade em Sodoma, e inclui ingredientes como a perversão sexual, a crueldade extrema e o prazer com o sofrimento alheio. A novela virou teatro, uma adaptação do diretor e dramaturgo Ivan Sugahara, e tem estreia nacional hoje à noite no Teatro da Caixa, e fica em cartaz até domingo na cidade. O elenco traz a atriz Guta Stresser (a Bebel, de A Grande Família) que vive a cafetina Madame Duclos, e o ator Tárik Puggina, interpretando o soldado Mathieu que é contratado como guarda-costas de um nobre.
No texto original de Braga, cada um dos personagens tinha um monólogo, que na adaptação para os palcos acabou se transformando em um único texto.
"Assim que li a novela, fiquei enlouquecido. É um texto brilhante, denso, muito forte. Quando comecei a ler, as imagens começaram a brotar na minha cabeça e percebi que aquilo era muito cênico e poderia virar um grande espetáculo. Passei a convidar várias pessoas e hoje estamos aí com muita expectativa para a estreia", comenta Tárik, que, com Guta, chegou a fazer um workshop preparatório em Londres, ministrado pelo diretor Gerald Thomas. O curso foi carinhosamente apelidado de "oficina sodômica".
"Foi um período curto, mas extremamente intenso. Todo ator deveria passar por essa experiência com Thomas. Ele trabalhou muito com a gente todo o universo do Sade e nos fez até passar por uma crise. Foi fundamental termos vivido aquele período e, quando voltamos ao Brasil, o Ivan (Sugahara) assumiu todo o processo", lembra Tárik.
Por Sade estar muito vinculado ao tema do sexo e da violência, o ator acredita que muita gente já tenha uma ideia pré-concebida do escritor francês. Entretanto, o ator acredita que há vários assuntos implícitos em sua obra que extrapolam tudo isso. "Ele é muito mais do que sexo, violência, perversão sexual. Se a gente for analisar bem, o Sade utiliza esse universo para fazer uma metáfora sobre outras questões como o próprio individualismo do ser humano, a busca incessante pelo prazer e pelo poder, que é um assunto recorrente atualmente, apesar de o texto ser do século 18. É um texto bem interessante", destaca.