Nahima Maciel
postado em 29/04/2010 10:01
Quando deixou as ruas para cantar no palco, a francesa Zaza Fournier levou junto um hábito adquirido por conta da proximidade com o público. Na rua não havia distância entre a cantora e os passantes. No palco, a performance ajuda a diminuir o afastamento. Com acordeom pendurado no ombro e trejeitos extrovertidos que ressaltam as letras das canções, Zaza faz do show um espetáculo a meio caminho entre o teatro e a música. É a Silvia Machete da França. A caminho da produção do segundo disco, a cantora desembarcou no Brasil na semana passada para uma série de shows que apresenta o primeiro trabalho. Zaza Fournier, nome do disco e do show marcado para hoje no Teatro Sesc, traz uma mistura de ritmos e referências que vão de Tom Waits a Edith Piaf.
Waits entrou para a vida de Zaza na adolescência. Com ele, descobriu a possibilidade de se emocionar com a sofisticação das melodias. Até então, ela acreditava ser a letra a parte mais importante da canção. "Não me incomodava muito se minhas músicas tinham apenas três acordes", conta. "Aos 15 anos comecei a descobrir que a emoção não se situa exclusivamente nas palavras e quem me fez compreender isso foi Tom Waits. Eu não falava inglês, não entendia nada, sabia que, provavelmente, ele cantava versos, mas era a música que me tocava. Isso abriu um monte de possibilidades diferentes."
Edith Piaf esteve na vida da cantora desde a infância. Zaza ouvia muito, representava a cantora de brincadeira, mas rejeita a associação entre a estrela da música francesa e seu próprio trabalho. Aos 25 anos, a moça se sente mais antenada com o presente. O acordeom, ela reconhece, facilita as associações. "Quando comecei a tocar na rua me dei conta que as pessoas associam o acordeom a coisas do passado, Piaf e Brel, por exemplo. Me sinto perfeitamente pertencente à minha época e nunca tive a impressão de fazer música antiga. O que eu tinha na cabeça não parecia com Edith Piaf", explica.
Zaza chegou ao acordeon levada pelo pai e percebeu no instrumento a possibilidade de cantar com mais liberdade. "Precisava cantar e cantar com um violão era complicado, eu queria me aproximar de outro instrumento de maneira mais livre e menos acadêmica. Me apaixonei por esse instrumento", conta. A presença dessa sonoridade nas canções funciona como um lembrete da alma francesa e da verve performática da artista. Nas letras, Zaza admite ser muito apegada a uma tradição marcante na história da música em seu país. O tom confessional tão presente no trabalho das cantoras contemporâneas da França também está no trabalho de Zaza. É fácil enxergar ali uma crônica do cotidiano. "Nós franceses somos muito apegados à palavra e à nossa língua."
Três perguntas Zaza Fournier
Há uma grande tendência hoje de cantoras performáticas e um pouco teatrais. Você se encaixa nisso?
Sim e por várias razões. Venho do teatro, fiz seis anos de escola de teatro, evidentemente isso deixa marcas, é o que eu sou hoje. Depois, é verdade que na época que eu tocava na rua tive que colocar em prática muito rápido o relacionamento com o público. Como fazer com as pessoas que estavam na minha frente? Nada nos separava, estávamos na rua e na rua acontecem várias coisas que não podemos prever. Tento manter esse espírito no palco. Não há muros, a performance pode se situar nesse lugar e faço de tal maneira que cada noite é diferente.
O acordeon está sempre em evidência na sua música.
Sabemos da presença importante desse instrumento na música tradicional francesa. Quais são suas conexões com esse universo?
Evidentemente tenho referências. Mas elas estão mais na minha educação musical. Edith Piaf é o que escutei primeiro, menina, eu a encenava no meu quarto, adorava. Também escutei muita música de texto, que conta histórias.
Você cantou nas ruas e em bares. O que mudou depois que gravou o primeiro disco?
Tudo. É muito simples. Primeiro eu sinto que agora estou no meu lugar pela primeira vez na vida, que tenho algo a dizer e isso é muito forte para mim, porque inclusive me são dados os meios de dizer. E também tenho tempo para fazer isso. Tudo muda todo dia. Quantdo mais se faz música, melhor ela fica. Quanto mais eu canto, melhor canto. Nunca trabalhei tanto. O disco saiu em outubro de 2008 e hoje não posso mais escutá-lo. Canto com o maior prazer, mas não escuto porque já estou pensando e fazendo outras coisas. Estou em plena preparação do segundo álbum.
Serviço
Zaza Fournier
Show da cantora Zaza Fournier. Hoje, às 21h, no Teatro Sesc Pres. Dutra (SCS Qd 2). Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia)