Diversão e Arte

Outras Alices

A influente criação do escritor Lewis Carroll já ganhou cerca de 50 adaptações para o cinema ou a televisão. Quatro das mais raras delas acabam de chegar ao mercado em uma caixa de DVDs

postado em 01/05/2010 07:00

Em seus primeiros três dias de exibição no Brasil, o filme Alice no País das Maravilhas, dirigido por Tim Burton, levou aproximadamente 875 mil pessoas ao cinema ; obtendo assim mais de 10,5 milhões em vendas de ingressos. Reflexo de que os filmes com o recurso 3D têm realmente atraído o público para as salas de cinema e, mais ainda, do grande fascínio que a obra criada pelo britânico Lewis Carroll (1) ainda exerce sobre as pessoas.

COLEÇÃO ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS
Caixa de DVDs com quatro versões do clássico, dirigidas por Cecil Hepworth e Percy Stow (1903), Jonathan Miller (1966), William Sterling (1972) e Jan Svankmajer (1988). Lançamento Magnus Opus. Preço médio: R$ 130.
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ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS
(Alice in Wonderland, EUA, 2010, 111min, não recomendado para menores de 10 anos). De Tim Burton. Com Mia Wasikowska, Johnny Depp e Helena Bonham-Carter. Confira salas e horários no Roteiro.Curioso notar que a versão em cartaz estreou 11 anos depois da última adaptação audiovisual de Alice, a série americana Alice in Wonderland, de 1999, com Whoopi Goldberg no elenco. Um hiato relativamente longo se comparado com a frequência com que o livro foi levada para as telas (tanto no cinema, quanto na televisão) nas últimas cinco décadas. Nos anos 1980, por exemplo, foram nada menos que oito adaptações.

Desde 1903, quando a história da menina que, perseguindo um coelho, acaba entrando em um mundo fantástico, foi levada ao cinema pela primeira vez, foram produzidas mais de 50 versões inspiradas nos livros Alice no País das Maravilhas (1865) e Alice através do espelho (1872) ; vindas de países como Estados Unidos, Inglaterra, França, República Tcheca, Argentina, Cuba, Japão, Rússia...

Prova da grande influência que as criações de Carroll vêm exercendo na produção cultural ao longo dos anos. Das 12 ilustrações criadas por Salvador Dali baseadas nos episódios do primeiro livro à canção sobre viagens alucinógenas White rabbit, da banda Jefferson Airplane, passando pela graphic novel Lost girls, de Alan Moore e Melinda Gebbie (com uma Alice adulta vivendo aventuras repletas de erotismo) e o filme Matrix (;Siga o coelho branco;, diz Morpheus a Neo). As referências são incontáveis.

Das versões cinematográficas, o desenho animado dos Estúdios Disney é, ainda hoje, a mais popular e conhecida. No entanto, para muitos fãs da obra de Alice, o filme está longe de ser a melhor adaptação. ;O desenho do Disney é, sem dúvida, muito importante por revelar a obra para o grande público. Mas infantiliza e mascara a complexidade da obra de Carroll;, compara a designer Adriana Peliano, 36 anos, fundadora da Sociedade Lewis Carroll do Brasil.

Para Adriana, as Alices mais interessantes são as do britânico Jonathan Miller e a do tcheco Jan Svankmajer. ;No filme de Miller, não existem fantasias nem personagens caricatos e infantiloides, com cara de mascote de parque de diversão;, comenta.

Já a Alice de Svankmajer, ela conta, não é fiel ao livro, mas mergulha no imaginário da personagem e nos submundos dos medos e angústias da infância. ;Enquanto no filme do Miller a falta de ;fantasia; valoriza o aspecto lógico e filosófico do texto, Svankmajer faz um filme quase sem texto, mas com uma profusão de símbolos de impacto psíquico profundo;, explica Adriana. ;Um dos motivos que me faz adorar o filme de Miller é a sua trilha sonora, composta por Ravi Shankar, que ajuda no clima de suspensão da realidade;, comenta o músico Paulo Beto, 43 anos, que recentemente compôs uma trilha para ser executada em uma exibição (no Centro Cultural Brasileiro Britânico, em São Paulo) da Alice de 1903.

Esta primeiríssima versão está presente em uma caixa de DVDs recém-lançada no Brasil, contendo ainda os filme de Miller, Svankmajer, mais a versão de 1972, dirigida por William Sterling. Uma oportunidade de viajar por outros e diferentes países das maravilhas.

1 - Mago da palavra
Inventor do País das Maravilhas, o escritor britânico Charles Lutwidge Dodgson morreu em 1898, três anos depois da primeira sessão pública de cinema, organizada em Paris pelos irmãos Lumi;re. Não assistiu às Alices da tela grande. Mais de 100 anos depois da criação do cinematógrafo, no entanto, o mundo de Lewis Carroll (pseudônimo usado pelo matemático, fotógrafo e reverendo) não perdeu o encanto. Os jogos de palavras bem-humorados e o tom onírico, marcas de um estilo inconfundível, nasceram como que por diversão: o livro de 1865 foi escrito para alimentar a imaginação da menina Alice Pleasance Liddell, de 10 anos.

Para todos os gostos

Magia silenciosa
A primeira aventura de Alice no cinema é britânica, silenciosa, tem 10 minutos de duração e estreou em 1903. Dirigida por Cecil Hepworth e Percy Stow, a relíquia caiu no YouTube. Atenção para os "efeitos especiais": os movimentos de câmera agigantam e apequenam a personagem, interpretada pela atriz May Clark, de 14 anos.

Vítima de boicote
Produção franco-inglesa, Alice au pays des merveilles (1949) é bem-sucedida em levar o espírito da obra de Carroll para as telas. Com ótimas atuações, o filme possui cenas incríveis, com efeitos visuais muito convincentes para a época. Walt Disney fez campanha contra o filme, já que na mesma época produzia a sua versão de Alice.

Colorido Disney
A adaptação mais conhecida do livro de Carroll foi produzida pela Disney em 1951. A animação ; dirigida pelo trio Clyde Geronimi, Wilfred Jackson e Hamilton Luske ; foi indicada ao Oscar de melhor canção e provocou polêmica entre os fãs do escritor, que acusaram o estúdio de Mickey Mouse de ter americanizado uma obra britânica.

Fiel ao original
Dirigido por William Sterling, esta versão inglesa de 1972 é muito competente em contar a história do livro, e tem a seu favor um bom elenco (que conta com a participação de Peter Sellers) e direção de arte. No entanto, não chega a ser tão impressionante como algumas das adaptações anteriores. Destaque para a fidelidade ao texto original.

Sonho portenho
Sim, Alice já visitou uma toca argentina. Com locações em Buenos Aires e trilha sonora de Charly Garcia, Alicia en el país de las maravillas (1976) foi conduzida pelo cineasta Eduardo Plá. A produção de baixo orçamento cria uma alegoria que, nos anos 1970, foi interpretada como um comentário nada ingênuo sobre a crise política vivida pelos hermanos.

Alucinação inglesa
A série de adaptações teatrais The wednesday play, produzida entre 1964 e 1970, é um dos capítulos mais cultuados da história da BBC. Mais do que isso, rendeu a Alice dirigida por Jonathan Miller, uma das adaptações mais queridas por fãs de Lewis Carroll. No elenco, Peter Sellers, Michael Redgrave e John Gielgud.

Maior viagem
Lançado em DVD no Brasil como Alice na terra dos ácidos, o média-metragem de 55 minutos mergulha Alice em viagens de LSD e festas de amor livre. O mundo paralelo explorado pela estudante nada mais é do que a revolução de costumes dos anos 1960. No espírito experimental de 1968, John Donne filma a aventura como um delírio para adultos.

Tom de pesadelo
Mestre da animação stop motion, o tcheco Jan Svankmajer lançou Neco z Alenky (título original de sua Alice), seu primeiro longa, em 1988. Com exceção da atriz Krist;na Kohoutová todos os personagens do filme são bonecos ou objetos animados. Sem se prender ao livro, Svankmajer cria uma fábula (com cara de pesadelo) sobre o fim da infância.

Sátira cubana
A tirana Rainha Vermelha, que controla tudo o que acontece no País das Maravilhas, inspirou o diretor Daníel Díaz Torres a criar esta sátira da vida cubana. Em Alicia en el pueblo de Maravillas, de 1991, a professora Alicia Diaz é enviada a um povoado chamado Maravillas, um cenário que exagera os traços mais radicais da ilha de Fidel.

Ao futuro!
A minissérie exibida em dezembro de 2009 no canal de tevê americano Syfy transporta a fantasia de Lewis Carroll para o mundo da ficção científica. O que teria acontecido ao País das Maravilhas 150 anos depois das situações narradas nos livros? O roteirista e diretor Nick Willing havia contado a história de forma mais fiel em 1999.

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