Diversão e Arte

Chico volta à música

Depois de quatro anos sem dar entrevistas, o compositor fala a uma revista francesa sobre canções, livros, futebol e política. Conta que está retomando o violão e que vai votar em Dilma Rousseff

postado em 03/05/2010 08:36
Chico Buarque não costuma dar entrevistas, mas quando o faz, é ótimo. Depois de quatro anos sem dar declarações à imprensa - a última vez foi no lançamento do CD Carioca, em 2006 -, ele conversou, em Paris, com os jornalistas Daniel Cariello e Thiago Araújo. A entrevista está na revista Brazuca, em sua edição mais recente (março/abril), toda dedicada ao cantor, compositor e escritor. Ocupa 10 páginas da publicação. As outras 50 trazem textos (em francês e português) sobre a obra e o homem que, segundo Cariello, desconcerta pela "simplicidade atordoante". Edição especial da Brazuca: entrevista completa no blogÀ revista, Chico confessou que vai votar em Dilma Rousseff porque ela é a candidata do presidente Lula ("E eu gosto do Lula. Mas a Dilma ou o Serra, não haveria muita diferença"). Falou sobre crenças, ou a ausência delas ("Eu simplesmente perdi a fé"). Contou que já foi a um lugar onde uma mulher jogou pipoca e sangue nele, dizendo que estava cheio de encosto, e que passou por sessões espíritas, e que teve um bruxo de confiança que fazia coisas incríveis. "Aquela música do Caetano dizia isso muito bem, 'quem é ateu, e viu milagres como eu, sabe que os deuses sem Deus não cessam de brotar'", comenta o compositor, que não acredita em Deus, e sim na existência de "coisas inacreditáveis". Também falou das escapadas que dá de vez em quando para a França ("Aqui eu não tenho preocupação nenhuma"); das canções francesas que escutava desde os anos 1950; do quanto foi tocado pelas composições de Jaques Brel; das raras vezes em que para, hoje em dia, para ouvir música. "Já estou impregnado de tanta música que eu acho que não entra mais nada. Na verdade, quando estou doente eu ouço. Inclusive ouvi o disco do Terça Feira Trio, do Fernando do Cavaco, e gostei." De volta à música depois de lançar o romance Leite derramado - ele alterna suas duas facetas, a de compositor e a de escritor, sem que uma interfira na outra -, Chico disse que tentou escrever o primeiro livro porque vinha de "um ano de seca". "Eu não fazia música, tive a impressão de que não iria mais fazer, então vamos tentar outra coisa. E foi bom, de alguma forma me alimentou. Terminei o livro e fiquei com vontade de voltar à música. Fiquei com tesão, e o disco seguinte era todo uma declaração de amor à música", contou ele, referindo-se a Paratodos (1993) e avisando que a vontade agora, um ano após o termino do livro, é de escrever música. Chico Buarque em Paris, há cinco anos, pouco antes de lançar o disco CariocaO bate-papo, que também passou por futebol, claro, foi numa tarde de sábado, três dias depois de o time de Chico golear por 10 x 6 e 10 x 1 o Paristheama, que tinha os entrevistadores entre os "craques". Numa das bem-humoradas declarações, Chico lembrou o dia em que bateu bola com Bob Marley e garantiu que não, não fumou um baseado com o rei do reggae. E, sim, ele trocaria o passado de compositor por um de jogador. "Mas por um bom jogador, que pudesse participar da Copa do Mundo. Um pacote completo. Um jogador mais ou menos, aí não." Sobre a ideia de pendurar as chuteiras aos 78 anos, como havia afirmado um dia, avisou logo que o prazo foi prorrogado: "Estava muito cedo. Agora eu deixei em aberto. Podendo, vou até 95 (risos)". E o que ele escreveria hoje ao caro amigo da famosa música? "Volte, que as coisas estão melhorando." Na íntegra Editada em Paris pelo brasiliense Daniel Cariello, a Brazuca pode ser acessada pelo site www.brazucaonline.org. A entrevista completa com Chico Buarque entra na rede hoje, no blog da revista: www.magazinebrazuca.blogspot.com. PRA VER A BANDA PASSAR Faz três anos que um grupo de mulheres batuqueiras ganha as ruas do Rio de Janeiro transformando canções de Chico Buarque em samba, ijexá, coco, jongo, marchinha e até funk carioca. São As Mulheres de Chico, que vêm a Brasília pela primeira vez para um show no próximo sábado, na AABB. Chamada de "Monobloco feminino", a banda sobe ao palco por volta das 23h, logo após o grupo Marambaia. Os primeiros mil ingressos custam R$ 50 e R$ 25 (meia). Quem doar R$ 5 para a aquisição de instrumentos musicais, que serão repassados a três instituições do DF, também paga meia. Informações: www.cidadaniacultural.com.br. O que ele disse O voto » "Não sou do PT, nunca fui ligado ao PT. Ligado de certa forma, sim, pois conheço o Lula mesmo antes de existir o PT, na época do movimento metalúrgico, das primeiras greves. Naquela época nós tínhamos uma participação política muito mais firme e necessária do que hoje. Eu confesso, vou votar na Dilma porque é a candidata do Lula e eu gosto do Lula. Mas, a Dilma ou o Serra, não haveria muita diferença." O futebol » "Não sou fanático por nada. Mas tenho muito prazer em jogar futebol. Em assistir ao bom futebol, independentemente de ser o meu time (%u2026). Mas vou menos aos estádios. Não me incomodo de andar na rua, mas quando você vai a alguns lugares, tem que estar com o cabelo penteado, tem que estar preparado para dar entrevistas. Aqui eu estou dando a minha última (risos)." A música » "Agora que terminei de escrever um livro já faz um ano, minha vontade é de escrever música. Demora, é complicado. Porque você não sai de um e vai direto para outro. Você meio que esquece, tem um tempo de aprendizado e um tempo de desaprendizado, para a música não ficar contaminada pela literatura. Então eu reaprendo a tocar violão, praticamente. Eu fiquei um tempão sem tocar, mas isso é bom. Quando vem, vem fresco." A inspiração » "Quando a gente começa - isso é um caso pessoal, não dá pra generalizar -, faz música um pouco para arranjar mulher. Hoje em dia, você inventa amor para fazer música. Se não tiver uma paixão, você inventa uma, para a partir daí ficar eufórico, ou sofrer."

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