postado em 04/05/2010 10:32
No palco, dramas e tragédias vividas no dia a dia são encenados. Mas, quando menos se espera, os espectadores são estimulados a ocupar o tablado, entrar em cena e substituir os personagens. O fim da história, a solução dos problemas, lhes pertence. E mais do que isso: ali, público vira ator e transformador social.;Aquele que transforma as palavras em versos, transforma-se em poeta; aquele que transforma o barro em estátua, transforma-se em escultor; ao transformar as relações sociais e humanas apresentadas em uma cena de teatro, transforma-se em cidadão.; A citação é do teatrólogo Augusto Boal, morto em maio de 2009 e fundador do Teatro do Oprimido.
A ideia de usar a linguagem teatral como meio de expressão e solução de problemas surgiu quando Boal estava exilado na França. O método se consolidou no Brasil, em 1986, quando ele criou o Centro do Teatro do Oprimido. E, ao longo dos anos, espalhou-se pelo país e o mundo, por meio de multiplicadores.
E é esse o destaque de hoje em Brasília. Como parte do encerramento do projeto Teatro do Oprimido de Ponto a Ponto no Centro-Oeste ; que ocorre em Goiânia para divulgar o método e formar multiplicadores na região ; haverá hoje uma oficina de introdução, de graça, no Teatro da Faculdade de Artes Dulcina de Moraes. Quem comanda o evento, de 9h às 12h, é a atriz, arte-educadora e multiplicadora aqui no Distrito Federal, Silvia Paes. ;Em 2006 participei do primeiro curso e me tornei multiplicadora. Existem frentes acadêmicas que dizem que o Teatro do Oprimido não é teatro. Mas acho que é, sim. É um modelo diferente, voltado para a linha social e política;, explica ela. Hoje são mais de 300 multiplicadores em todo o país.
Soluções
;Quando você consegue protagonizar a cena, você protagoniza sua vida. Com esse método, o público percebe que consegue opções e soluções, sair da situação de oprimido e promover a mudança. A comunidade vê o seu problema sendo encenado, fica consciente da problemática e consegue perceber as varias soluções que ela pode ter. Isso leva a reflexão e a mudança de atitude;, acrescenta Silvia Paes.
Ela lembra que, na trajetória de Augusto Boal, o método foi expandido a vários grupos sociais. ;Ele fez isso nos presídios de São Paulo e, ao final, uns montaram companhias de teatro, outros voltaram ao convívio social. No Rio, grupos de empregadas domésticas começaram a reivindicar varias melhorias depois dessa vivência;, acrescenta Silvia Paes.
Aqui, a oficina é para quem quiser. ;O público-alvo são todos. Não é preciso ser ator;, completa a multiplicadora. O evento é seguido do lançamento do último livro de Augusto Boal, A estética do oprimido. E, até quinta-feira, o projeto continua em Goiânia. Também hoje, começa um curso de extensão na Faculdade Dulcina voltado para o conhecimento do Teatro do Oprimido. Este, com duração de três meses.
Programe-se
Oficina de Introdução ao Teatro do Oprimido
Nesta terça, das 9h às 12h. Local: Teatro da Faculdade de Artes Dulcina de Moraes. Gratuito
Aula espetáculo
Ministrada pela psicopedagoga Cláudia Simone, curinga do CTO, e Silvia Paes, multiplicadora do TO no DF. Nesta terça, das 19h às 21h. Local: Teatro da Faculdade de Artes Dulcina de Moraes.
Entrada franca.
Para saber mais
Mestre mundial
Augusto Boal nasceu em 1931 no Rio de Janeiro e, depois de formar-se engenheiro químico, tornou-se teatrólogo, diretor, dramaturgo, ensaísta e criador do Teatro do Oprimido. O primeiro centro surgiu na França, em 1971, quando estava exilado pela ditadura militar. De volta ao Rio, em 1986, fundou o Centro de Teatro do Oprimido, com o qual desenvolveu projetos em ONGs, sindicatos, universidades e prefeituras. Hoje, o Teatro do Oprimido atua em 18 estados do país, além de 80 países, a exemplo de Moçambique, Guiné Bissau, Angola e Senegal. Augusto Boal foi ainda vereador, candidato ao Prêmio Nobel da Paz, em 2008, e nomeado Embaixador Mundial do Teatro pela Unesco, em março de 2009. Morreu em maio do ano passado.