postado em 07/05/2010 07:00
Em tempos de comunicação rápida, direcionada, barata e instantânea, de blogs, tumblrs e twitters, os fanzines de papel resistem como se nada disso existisse. E poderia ser diferente? Existe um charme nos zines impressos que a internet não conseguiu substituir. É o que garantem alguns dos mais ativos fanzineiros de Brasília. ;É teimosia mesmo, gostar desse lance meio retrô, de papel. Tem também a questão da acessibilidade, de poder ler no ônibus ou em qualquer lugar. E vale lembrar que nem todo mundo tem internet em casa;, pontua o servidor público Fellipe José Sallis de Sant;anna, 38 anos, o Fellipe CDC (Cara de Cachorro), editor do Fina Flor do Rock.Mimeografado no passado, xerocado ou impresso atualmente, os fanzines não têm limite de formato ou temática. Ainda assim, o rock está entre os assuntos preferidos dos zineiros. O Acid Farted, o Zine Oficial e o Fina Flor são dedicados aos sons mais pesados. O Grande Circular vai de cultura pop, com especial atenção ao indie rock. O slogan do Tupanzine é baixaria e rock ;n; roll. O denominador comum entre eles são os pontos de distribuição (lojas de discos e camisetas e, principalmente, shows de rock e eventos culturais) e o enfoque na cultura alternativa. Afinal de contas, de que valeria se dedicar a assuntos amplamente abordados por outros veículos? ;Quando você fala de algo que todo mundo está falando, o texto perde a validade mais rápido. Por isso, tentamos falar de outras bandas;, explica a estudante de engenharia elétrica Cecília da Rocha, de O grande circular.
Com consolidado status cult, o Tupanzine completa 16 anos em outubro (o mais antigo zine candango em circulação). A fama da publicação criada pelo servidor público Francisco Ricardo da Silva, 46 anos, o Ricardo Tubá, se deu pela escrita peculiar de seus textos (geralmente usando impagáveis pseudônimos) e pelo visual tosco do zine, cheio de colagens e misturando aleatoriamente fotos de bandas de rock, anônimos (na verdade, amigos do Tubá), jogadores de futebol (o nome do zine veio do jogador Tupanzinho, ex-Corinthians) e de mulheres nuas. Os textos mais sérios sobre música e futebol são feitos por colaboradores. Mas é a baixaria (fofocas infundadas ou não sobre a cena indie local) que gera mais repercussão. ;Para o zine funcionar, tem que ter as duas partes, a mais séria e a sacanagem;, comenta Tubá.
Novas gerações
Capitaneado pelas universitárias Vesna Resende, Vanessa Costalonga e Cecília da Rocha, todas de 19 anos, O grande circular é um exemplo de que os fanzines, mesmo mais populares nas décadas de 1980 e 1990, ainda encantam as novas gerações. A primeira edição do zine (ou da zine, como elas chamam) saiu há três anos, quando elas ainda estavam no colégio. ;A ideia desde o começo é escrever de forma subjetiva e sem pretensão jornalística;, conta Vanessa. ;A zine Biff bang pop (hoje, um blog) foi uma das nossas principais influências. Quando descobrimos que ela era feita em casa, resolvemos fazer a nossa zine;, continua. As primeiras edições receberam muitos elogios e incentivaram as meninas a continuar. ;Os elogios são um incentivo, mas no final, a gente faz porque gosta mesmo, nos divertimos montando cada edição;, diz Vesna.
Agitador cultural e vocalista das bandas Death Slam e Terror Revolucionário, Fellipe CDC começou a fazer zines em 1987 e desde então não parou mais. Metal Blood, Protectors of Noise, Brigada do barulho, Bolacha zine, Set list zine, Meus inimigos, Os políticos; Ele perdeu a conta dos títulos que fundou ou colaborou e mesmo quantas edições já fez do Fina Flor do Rock. ;Acho que há mais de cinco anos eu faço o Fina Flor;, arrisca. Para CDC, as amizades que se formam ao redor do fanzine são o combustível que o faz continuar nessa militância. ;Você acaba conhecendo gente do mundo inteiro, pessoas que acreditam e valorizam os zines como meio de divulgação. Os fanzines ajudam a cena, são a espinha dorsal do esquema underground;, atesta.
Porta-voz
Ao contrário do que muitos imaginam, manter um fanzine não obriga ninguém a nadar contra a correnteza de sites e blogs. Pelo contrário. Uma das publicações mais respeitadas do underound brasiliense consegue integrar o formato tradicional (em papel, distribuída antes e durante shows) com a plataforma virtual. Tanto na web quanto no papel, o Zine Oficial divulga a cena local. O curioso, no caso, é que a tecnologia não reduziu o apelo da versão impressa. O 28; número, que oferece um guia para o festival Ferrock, sai da gráfica com 10 mil exemplares. Como sempre, serão distribuídos gratuitamente.
A estratégia de sobrevivência do zine é tão simples quanto eficiente: as edições cumprem o papel de divulgar shows de rock pesado e, por isso, geralmente são custeadas pelos patrocinadores dos eventos. ;É um programa dos shows, por isso ele é feito em formato de bolso;, explica o cartunista Tomaz André da Rocha, 40 anos, que criou a publicação em 2006 para o festival Quaresmada. Inspirado no Diário Oficial, Tomaz inventou um nome que, no início, soava como uma brincadeira. Mas, de atração em atração, o Zine Oficial acabou criando um recanto fiel para bandas locais. ;O importante é manter uma regularidade. As pessoas cobram edições novas, colecionam;, conta Tomaz.
O front é mantido com uma equipe de três pessoas e com a participação de colaboradores. A tiragem depende do apelo do show que será ;mapeado; pelos editores. A segmentação ainda é uma arma dos fanzines. ;Mesmo sendo uma publicação barata, o alcance é grande entre um público específico. E tem uma função essencial: pode ser distribuído em shows;, explica Fábio Guedes, 33 anos, que mantém o Acid Farted desde 1992. A edição de 2008 saiu com 450 cópias.
A intimidade com o tema instigou o estudante a estudá-lo no projeto de conclusão do curso de jornalismo. Mantém um site, mas, apesar dos custos de xerox, prefere o papel. ;Os zines terão vida longa, mesmo entre essa galera mais nova, que sabe muito de internet. Até eles vão querer criar uma versão impressa, nem que única, para deixar uma marca;, prevê.
; Fanzines da cidade
ACID FARTED
Entre a internet e o papel, Fábio Guedes defende a segunda opção. "Fica mais personalizado", afirma. Desde 1993, ele lança (quando pode) as edições do furioso Acid farted, com entrevistas, resenhas de discos e artigos. Mantém um site (), mas já planeja um novo número do fanzine.
FINA FLOR DO ROCK
Feito pelo incansável Fellipe CDC no formato mais simples possível ; duas ou três folhas ofício grampeadas, sem fotos, apenas com os textos digitados ; apresenta críticas de discos, entrevistas e comentários sobre a cena do hardcore e metal brasilienses e do Goiás. "Fanzine é uma questão paixão", afirma CDC.
O GRANDE CIRCULAR
O charmoso fanzine tem acabamento bem cuidado, mas sem perder o jeitão artesanal que caracteriza esse tipo de publicação. Os temas para os textos, entrevistas e resenhas de discos são escolhidos a dedo. Vesna, Vanessa e Cecília lançaram recentemente a terceira edição e prometem mais para este ano. Na internet: .
TUPANZINE
No Tupanzine, informação é o de menos. Não que o zine não as tenha ; entrevistas, críticas e resenhas de shows sempre dão as caras. Mas o grande barato da publicação é mesmo a zoação com as bandas e os personagens da cena roqueira da cidade. "Continuamos com o zine pela resposta do público, que é muito grande", conta Tubá.
ZINE OFICIAL
Criado em 2006, é o principal porta-voz da cena metal e hardcore do Distrito Federal. As edições esgotam rapidamente e as mais raras são disputadas pelos "fãs". "Criamos um site para armazenar as edições antigas. Mas as pessoas querem mesmo é o impresso", conta o zineiro Tomaz André da Rocha. Site: