Elas não se chamam Beatriz, Carolina, Bárbara, tampouco Geni, figuras femininas eternizadas nos versos de Chico Buarque. Mas nem por isso Gláucia, Flavia,Vivian, Mônica, Manu, entre outras, deixam de ser as Mulheres de Chico, grupo feminino de percussão que se uniu no carnaval de 2006, no Rio de Janeiro, para fazer uma releitura do universo musical criado pelo compositor carioca. Pela primeira vez desde que surgiram, as 25 batuqueiras vão se apresentar fora dos palcos fluminenses e escolheram a capital federal para esta aguardada estreia, hoje à noite, na sede da AABB. ;Nós estamos muito empolgadas. Tudo está coincidindo, porque Brasília completou 50 anos recentemente, estamos na véspera do Dia das Mães e ainda vamos participar de um projeto sociocultural bem interessante;, comenta a cuiqueira Gláucia Cabral, uma das fundadoras do grupo. Além do show, o evento tem outro foco: despertar a cultura cidadã para incentivar entidades e projetos sociais que expandem cidadania e cultura por intermédio da arte no Distrito Federal. A atitude se resume na compra do ingresso, que terá a meia-entrada liberada para estudantes e a todos que fizerem uma doação a partir de R$ 5. Tudo o que for arrecadado será utilizado na aquisição de instrumentos e complementos musicais que serão repassados a três instituições sociais do Distrito Federal que expandem, gratuitamente, cidadania e cultura por meio da musicalização: o Projeto Risadinha, o Criança Cidadão do Amanhã e a Instrumentoteca da Escola de Música de Brasília. ;Achei essa ideia muito interessante. As pessoas vão se divertir, conhecer o nosso trabalho e ainda por cima ajudar quem tem uma proposta social e cultural importante;, salienta Gláucia. Repertório As Mulheres de Chico já estão sendo conhecidas como a versão feminina do Monobloco, famoso grupo de percussão carioca que faz sucesso com as releituras de clássicos da MPB. Gláucia diz que recebe com entusiasmo esse rótulo, até porque boa parte das integrantes do Mulheres veio de outros blocos do Rio, como o próprio Monobloco, o Bangalafumenga e o Kizomba. ;Ainda estamos trilhando o nosso caminho. Não temos CD e nem DVD gravados, apesar de estar nos nossos planos; também não realizamos oficinas de percussão, como eles. O número de componentes é bem menor e ainda temos esse objetivo de dar uma nova roupagem ao repertório do Chico Buarque. O nosso foco é ele, e o Monobloco vai bem mais além;, explica Gláucia. As artistas escolheram o autor de A banda e Samba de Orly justamente por ele ser conhecido como o poeta que expressa e entende como ninguém a alma feminina e a malandragem carioca. No repertório delas, clássicos como Cotidiano, Feijoada completa, Piano na mangueira, Geni e o zepelim entre outros, com arranjos que exploram ritmos nacionais diversos, como o samba, o ijexá, o coco, o jongo, a marchinha e o funk carioca. Além dessas canções, há músicas autorais como Será que o Chico vem? ou Marchinha das mulheres, todas com alusões ao compositor e às suas letras. ;A gente toca canções que tratam de alegria, tristeza, dramas, malandragem carioca, alma feminina. Todo mundo acaba se identificando muito com o universo dele;, destaca Gláucia Cabral. Camisesta E o que Chico Buarque pensa a respeito de ;suas mulheres;? Apesar de, segundo Gláucia, ele nunca ter ido a nenhum show ou evento do grupo, o músico conhece as batuqueiras e, ocasionalmente, mantém algum contato elas. ;A primeira vez que nos encontramos foi no camarim de um show dele no Canecão. Foi bem divertido e ele falou: ;Ah, as mulheres de Chico; e riu bastante. Demos uma camiseta do nosso bloco pro Chico e ele retribuiu com uma foto vestindo ela;, lembra Gláucia, que promete, no show de logo mais, uma homenagem especial à mãe do cantor, Maria Amélia Buarque de Hollanda, que faleceu na última quarta-feira. ;Afinal, é véspera do Dia das Mães. Mais do que justo isso;, comenta. O bloco vem conquistando um público de idades e perfis variados, com charme, animação e figurinos e adereços alegres e descontraídos. Todos em tons vermelho, rosa e branco. ;Com muita alegria e sem vergonha nenhuma de sermos bem femininas;, resume Gláucia. SHOW MULHERES DE CHICO Hoje, a partir das 21h, na AABB (Setor de Clubes Sul, Trecho 02). Show de abertura com o grupo brasiliense Marambaia. Primeiro lote com mil ingressos: R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia). Na hora: R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia). Pontos de venda: Naturetto (403 Sul e 405 Norte), Salão Afro Rainha de Sabá (Conic, Asa Sul e Asa Norte) e bilheteria do evento. Não recomendado para menores de 18 anos. Informações: (61) 9223-1332 Ouça áudio da música Será que o Chico vem?