Ricardo Daehn
postado em 10/05/2010 09:14
Com o temporário fechamento da Academia de Tênis e a pouco menos de um mês para o início do Festival Varilux do Cinema Francês (na Embracine), o circuito do dito cinema de arte na cidade parecia ter encolhido. O cenário, entretanto, muda a partir de hoje com o ciclo de fitas do Festival de Cinema Europeu, que tem se mostrado cada vez mais disputado, por motivos óbvios: numa área central (o Cine Brasília), as sessões mesclam clássicos a títulos recentes, alguns inéditos, e tudo sem custos para os espectadores. Com curadoria do crítico Sérgio Moriconi, sob o amplo prisma do tema A Cidade, o leque de opções (a partir de hoje) é envolvente, a partir da reunião de 17 filmes contemporâneos e nove clássicos, que representam 16 nações.
O festival dará acesso a obras esperadas, como a produção sueca Deixa ela entrar (2008), candidata a melhor filme estrangeiro no prestigiado prêmio britânico Bafta. No filão dos vampiros, em pauta no audiovisual, o longa (programado para 18 de maio) tem o diferencial de investir na amizade de casal de adolescentes, um deles bem solitário e a outra, uma garota recém-chegada e misteriosa. Também badalado, o espanhol En la ciudad de Sylvia (2007) abre o festival, ao lado do curta sueco Brasília - A cidade da alvorada (1959), documentário voltado à capital pré-inauguração, alinhado ao período do checo Dve mesta, um registro simultâneo de Brasília e do Rio de Janeiro. A interação com uma cidade - no caso, Estrasburgo - move um rapaz obcecado pelo reencontro (passados seis anos) com a quase desconhecida Sylvia, no longa espanhol assinado por José Luis Guerín.
Congregando cinco distantes jovens saídos da Iugoslávia, o austríaco (selecionado para o Festival de Veneza) Nordrand (1999) é outro título que integra o Festival de Cinema Europeu. A trama revela preconceitos difundidos em bairro desfavorecido, ao norte de Viena. Formatados em narrativas episódicas, o finlandês Kohtaamisia (2009), o francês Play Time (1967) e Roma (1972) exploram, pela ordem, a interligação estabelecida entre sete mulheres; a interação cômica entre um senhor trapalhão e a modernidade francesa e lembranças, ao lado de criações, de Federico Fellini adaptadas à dinâmica da capital italiana.
Outros diretores renomados com filmes a serem exibidos no Cine Brasília são: Ettore Scola (com o mais recente filme, Gente di Roma) e o quarteto Lars von Trier, Ingmar Bergman, Michael Winterbottom e Luis Garcia Berlanga, todo com filmes bastante conhecidos, como Dogville, Monika e o desejo, A festa nunca termina e Bienvenido Mr. Marshall (esse, um marco para o cinema espanhol). Premiado com o César de melhor filme, em 1984, A cidade branca, que enfoca um amor cultivado à distância por um marinheiro solitário, em Lisboa, é o representante da Suíça, país convidado na mostra que mobiliza integrantes da União Europeia e a Secretaria de Cultura do Distrito Federal.
A chancela das premiações em festivais se espalha em alguns dos filmes no conjunto selecionado para o Cine Brasília. Vencedor do prêmio de melhor atriz no Festival de San Sebástian (para Anna Geislerová), Algo como a felicidade (2005) mostra um trio de proletários que luta pela sobrevivência na República Tcheca. Já Truques (2007) é um drama que conquistou prêmios de diretor (Andrzej Jakimowski) e da preferência do público, na competição do Polish Film Awards, trazendo toques autobiográficos, no desafio que dois irmãos empreendem ao examinarem a lógica que comanda o destino. Aparentado de Adeus, Lênin!, Berlin is in Germany (2001), outro selecionado, arrebatou a Associação de Críticos da Alemanha, ao mostrar os efeitos da reunificação num ex-presidiário.
Indicada ao posto de melhor documentário na seleção do European Film Awards, a novíssima produção eslovaca Dejiny varenia aborda o inusitado que habita o cotidiano de cozinheiros que servem ao Exército e a intermináveis pelotões de combatentes. Pouco convencional é o ambiente do jovem Abdullah, entregue à rotina massacrante para alguém que sonhava em ser astro de cinema, no enredo de Shouf Shouf Habibi (Países Baixos, 2004). Bem-sucedidos, os longevos Berlim, sinfonia de uma metrópole (Alemanha, 1927), que capta o cotidiano germânico em um dia dos anos de 1920, e O Costa do castelo, comédia romântica portuguesa de 1943, completam a programação gratuita do Festival de Cinema Europeu.
Festival de Cinema Europeu
Cine Brasília (EQS 106/107). De 10 a 20 de maio, com sessões (sem periodicidade regular), às 16h, às 19h e às 21h. Hoje, às 19h, com o curta Brasília - A cidade da alvorada (Suécia, 1959), de Torgny Anderberg, e, às 21h, En la ciudad de Sylvia (Espanha, 2007), de José Luis Guerín. Entrada franca. Não recomendado para menores de 12 anos.