Irlam Rocha Lima
postado em 10/05/2010 09:27
Blocos carnavalescos cariocas descobriram Brasília e vêm trazendo para cá a alegria e a descontração dos desfiles pelas ruas do Rio de Janeiro, em shows contagiantes das baterias. Primeiro foi o Monobloco, que já esteve várias vezes na cidade. Depois veio o Empolga as 9. Na madrugada do sábado, na AABB, foi a vez do Mulheres de Chico que há quatro anos se apresentam uma semana depois do carnaval na praça Antero de Quental, no Leblon, próximo à casa de homenageado.
As meninas mostraram que são do ramo. Ao batucar com muita bossa, estabeleceram, de imediato, total empatia com o heterogêneo público de 1.500 pessoas. Obviamente, para isso muito contribuiu o repertório do show, formado somente por músicas de Chico Buarque - quase todas sambas, com forte apelo à dança, começando por Essa moça. O medley de O malandro (do musical A ópera do malandro) e Samba de Orly (em ritmo mais acelerado), vieram em seguida.
Mas o clima começou a ficar mais quente foi com o pot pourri composto por Feijoada completa, Partido alto, Construção e Deus lhe pague, nas vozes se Luciana Coló e Úrsula Baldanza, acompanhadas por banda afiadíssima, integrada por sete percussionistas, cavaquinista e baixista. Elas vestiam o mesmo figurino usado no desfile do bloco e tinham ao fundo painel com pinturas da artista plástica brasiliense Luva, com clara referência ao grupo Mulheres e ao Rio de Janeiro.
No decorrer do espetáculo - aberto pelo Rizadinha, grupo de atores palhaços e músicos - o Mulheres lembrou canções marcantes da trajetória de Chico, como o da vitória (ao lado de Geraldo Vandré) no Festival da Record de 1966, com a Banda; a fase braba da censura durante a ditadura militar com Apesar de você. Mas houve espaço para o lirismo, representado por Noite dos mascarados e Quem te viu, quem te vê.
Depois de cantar Partido alto, Úrsula mandou: "Viva Cássia Eller", referindo-se implicitamente ao fato da roqueira ter gravado esta música buarqueana. Morena dos olhos d'água, em ritmo de ciranda, levou as pessoas a formarem uma grande roda e saírem a dançar pelo salão, de forma celebratória. O final foi altamente carnavalesco, com todo mundo embalado pelas dançantes Não existe pecado do lado debaixo do Equador, Boi voador e Vai passar.
Enquanto atendia os fãs conquistados depois do show, ao vender, com suas companheiras, camisetas do Mulheres de Chico, Luciana, felicísima com a acolhida do público, comentou: "Eu sei que as canções do Chico são bastante conhecidas das pessoas com mais de 30 anos, mas me impressionou a cultura musical dos jovens de brasília, que cantaram com a gente quase todo o repertório".