Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Com o livro Sarau Sanitário.com, Marina Mara faz uma festa com declamações, filmes, música e até uma exposição de quadros

;Que tal um evento diferente, com uma música de primeira, com muita gente pra cima e sob uma proposta coerente?; É assim que a jornalista, publicitária e poetisa Marina Mara está convidando a todos para um evento que visa, sobretudo, a popularização da poesia.

O lançamento do livro Sarau Sanitário.com vai ser realizado na noite desta terça, no Balaio Café (201 Norte) e contará com convidados bem especiais. Todos não-poetas de Brasília que vão recitar versos do primeiro livro de Marina, cujo nome é o mesmo do projeto que será lançado hoje também. ;Escolhi gente ligada ao teatro, música, política, justamente para mostrar como a poesia é democrática, que qualquer pessoa pode declamar, fazer e gostar de poesia;, destacou. Entre os convidados estão Giuliano Manfredini (filho de Renato Russo), Mariana Salles (neta de Cora Coralina), Philippe Seabra (Plebe Rude) e o ator Pipo (Os Melhores do Mundo).

Um banheiro em meio ao público será montado para receber os ;não poetas;. Aliás, é sentada em um vaso sanitário, que Marina Mara irá autografar os livros. Outras atrações também estão programadas como a exibição de curtas produzidos na periferia do Distrito Federal, com o apoio da Central Única das Favelas (Cufa), e uma exposição de telas da jovem artista plástica Clarice Gonçalves, que é a responsável pelas imagens dos livros e dos cartazes de Marina. Além disso, haverá apresentações musicais e declamação de poesias de cunho social do poeta-rapper Gog.

Projeto
Há dois meses, Marina espalhou pelos banheiros públicos de todas as cidades do DF cartazes com suas poesias ilustradas. Eles fizeram tanto sucesso, que muitos estavam ;desaparecendo;. ;Na verdade, muita gente estava ;furtando; porque acharam interessantes. Alguns gostaram tanto, que estavam pegando os cartazes para enfeitar a sala, o quarto; e estavam até se sentindo culpados por isso;, brinca.

Marina conta que escolheu o banheiro para a afixação dos cartazes porque é um lugar em que todo mundo vai, independentemente de cor, credo, sexo e para mostrar que a poesia pode estar presente em qualquer espaço. ;As pessoas têm receio de que poesia é algo rebuscado, elitizado, e é exatamente essa imagem que pretendemos mudar. A poesia foi feita tanto para a elite intelectual quanto para o povão. Tanto é que eu abordo isso nos meus versos. Temas do cotidiano, de interesse das pessoas, e com uma linguagem mais simples. Isso é poesia pra mim;, defende.

Além da popularização da poesia, Marina também quis focar na acessibilidade poética. Aliás, um dos pontos altos do projeto é a preocupação da poeta com os deficientes visuais. Por isso, vários cartazes em braille foram colocados em locais bastante frequentados por cegos e todos os poemas do livro ganharam uma versão em áudio com a participação de artistas brasilienses, como Hamilton de Hollanda, Ellen Oléria e o pessoal do Seu Estrelo. ;A gente focou nisso também, para mostrar que a poesia pode chegar a todos. Inclusive, no dia do lançamento, um dos meus poemas, A vida em braille, vai ser declamado por Noeme, uma artista que é deficiente visual;, adianta.

Para levar a poesia para jovens de escolas públicas, inclusive de outros países, os poemas estão sendo traduzidos para inglês, francês e espanhol por alunos do Centro Interescolar de Línguas da Ceilândia. As traduções fazem parte de um projeto pedagógico orientado por mestres em tradução que fazem parte do corpo docente da instituição. ;Larguei meu emprego e passei a me dedicar à poesia. Em nenhum momento me arrependo do que fiz. Acabei conseguindo o patrocínio do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) para o projeto do livro, contei com a ajuda de várias pessoas da cidade e não há dinheiro no mundo que pague isso;, destaca.

Entretanto, ela lembra que para poder divulgar o projeto país a fora, já que tem convites para lançar no Pelourinho (BA) e na favela da Rocinha (RJ), precisa de verba. ;O sarau terá várias atrações e a entrada é franca, mas sempre peço para que as pessoas comprem o livro. Não só para ajudar mesmo, mas porque o projeto ficou bem bacana;, salienta.