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Lampião não morreu!

Pelo menos o cangaceiro sobreviveu à emboscada feita pela volante, em 1938. É o que acredita o escritor José Geraldo Aguiar

postado em 14/05/2010 07:00 / atualizado em 19/10/2020 17:07

Lançamento do livro e palestra com o autor José Geraldo Aguiar Lampião, o Invencível: duas vidas e duas mortes (Editora Thesaurus), hoje, às 19h30, na Livraria Cultura do Shopping Iguatemi (Shin CA 4, Lt A, Lago Norte). Páginas: 280. Preço: R$ 35Depois de Elvis Presley, Raul Seixas e até Michael Jackson, quem diria, até Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, considerado o maior cangaçeiro de todos os tempos, não morreu! Quer dizer, pelo menos não da maneira como a maioria das pessoas conhece e que está relatada nos livros de história: durante um tiroteio, na emboscada de Angicos, em Sergipe, em 1938. Logo após esse célebre episódio, Virgulino Ferreira teria vivido como comerciante e fazendeiro no Norte de Minas, e morreu com 96 anos, em 1993, em Buritis (MG). Isso é o que garante o escritor, pesquisador e fotógrafo José Geraldo Aguiar, 60 anos, que lança hoje à noite, em Brasília, o livro Lampião, o invencível: duas vidas e duas mortes (Editora Thesaurus).

Na obra, Aguiar expõe o ;outro lado da moeda; e mostra por meio de entrevistas, documentos e até depoimentos do suposto Lampião sobre como se deu essa sobrevida. ;O que para o homem sábio é descoberta, para os outros pode ser loucura. Muita gente acha que sou louco, mas muitos acreditam em mim. Foram 17 anos de muita pesquisa e um árduo trabalho e eu tenho a convicção de que o homem que conheci e convivi durante cinco meses era realmente o Lampião;, assegura o escritor.

José Geraldo Aguiar sempre foi um grande admirador do ;senhor absoluto do sertão; e, vez por outra, ouvia rumores de que havia um homem em sua cidade, São Francisco (MG), à beira do rio de mesmo nome, que todos julgavam ser Lampião. ;O Rio São Francisco era a estrada do sertão. Então, vários cangaceiros acabaram indo para essas bandas. Logo após a batalha de Angicos, em que ele foi dado como morto. Lampião fugiu, passou pela Bahia, Piauí, até que, em 1950, ele e Maria Bonita acabaram se estabelecendo em Minas. Ele viveu na clandestinidade e chegou a ter 13 identidades falsas;, afirma o pesquisador.

Segundo a versão de Aguiar, Lampião era um sujeito muito astuto, inteligente e não condizia com seu temperamento ser morto da maneira que foi, com um tiro, e degolado, posteriormente. ;Ele fugiu. Ele era uma pessoa de fama mundial. A morte dele foi uma farsa. Uma satisfação à sociedade. Ele disse a seus comandados que iria fazer uma grande viagem. E tenho inúmeros depoimentos no meu livro que comprovam essa versão de que ele realmente viveu em Minas até os 90 anos;, enfatiza. E com relação à famosa cabeça que seria de Lampião e que foi, inclusive, fotografada? ;Não era dele. Abordo isso no meu livro também. Temos até historiadores que afirmam de que aquela cabeça pertencia, na verdade, a um outro cangaceiro, de nome Zé do Sapo;, diz .

O autor defende com unhas e dentes sua versão sobre a outra morte do famoso capitão e narra com detalhes os seus encontros com ele. Não foram fáceis, mas a profunda admiração de Aguiar pelo cangaceiro foi o fator preponderante para que ele ganhasse a confiança definitiva de Lampião, como ele relata no livro:

;Em meio aos comentários sobre gostos e costumes, soltei que a história de Lampião era a que mais me atraía. Ante a pronúncia do nome, olhou-me de maneira diferente e pediu que eu permanecesse mais tempo ali. Mas como não podia ficar, acompanhou-me até a porta, de onde, tirando os óculos escuros, convidou: ;Volte amanhã, cabra. Ao virar para trás e aceder o convite, percebi que seu olho direito era quase fechado.;

;Foi uma conversa muito difícil, ele não se revelou de cara. Era um homem muito sério, sisudo e depois de algum tempo, disse que após a sua morte, eu estava autorizado a revelar ao mundo a sua sobrevida. Foi o que fiz, apesar de ainda hoje viver sob ameaça;, revelou, sem querer entrar em detalhes.

Na obra, há um trecho em que a filha de Lampião e Maria Bonita, Expedita Ferreira Nunes, conta o motivo de ter se recusado a fazer um exame de DNA para comprovar que aquele senhor que vivia no sertão mineiro era o seu pai. Expedita declarou que não perderia tempo com aquela história e disse mais: ;O meu pai, o que eu conheço pela história, era um homem, não um frouxo, nem um covarde para viver esse tempo todo fugindo;.

Segundo Aguiar, é natural que os descendentes do cangaceiro não queiram falar no assunto, e que alguns deles realmente mudam de prosa quando se toca no nome Lampião. Mas garante não se importar. ;A história dele sempre teve muito mistério, afinal, é um mito. É normal a família não querer ficar remoendo nisso. Mas eu me sinto muito feliz e privilegiado de ter revelado toda essa história;, garante.

Mito
O historiador Francisco Pernambucano de Mello, um dos maiores especialistas de Lampião e do cangaço no Brasil, revela que já ouviu algo a respeito dessa versão sobre a ;nova vida; do capitão em Minas Gerais. Entretanto, afirma que as evidências são comprovadamente suficientes para indicar que ele realmente morreu durante um tiroteio na batalha de Angicos, em 28 de julho de 1938.

;Logo que sua cabeça foi cortada, ela foi exibida e várias pessoas; amigos de infância, conterrâneos, companheiros a examinaram e asseguraram que era sim a cabeça de Lampião. Temos pelo menos 40 depoimentos nesse sentido. Além do mais, fotos da cabeça foram comparadas com fotos dele. O corpo foi examinado também. Como historiador, não encontro nenhum motivo razoável para que ele não tenha morrido do jeito que conhecemos. Nada que atestasse sua morte foi oculto;, destaca Pernambucano de Mello.

Ele acrescenta que é natural que sua morte e sua história provoquem controvérsias, assim como de outros mitos como Hitler, Elvis Presley, e que este é um tema a ser tratado muito mais por psicólogos do que por historiadores. ;As pessoas gostam de fomentar essas histórias, criadas por quem admira essas figuras; faz parte da sobrevivência do mito. Com relação ao Lampião, eu mesmo já segui meia dúzia de pistas de que ele estava vivo e não deu em nada. Não li este livro, mas quero ler e examinar, e conhecer as razões que levaram o autor a acreditar nessa versão;, afirma.

Trecho do livro
"Alterando o rumo da prosa, pra voltar ao assunto que não queria calar, perguntei:

- E aquele tentente que a história diz que matou o senhor, como foi isso?

Dessa vez, o velho Lampião deixou a história escoar:

- Foi um caso igual aos outros. O tenente Bezerra se tornou meu amigo, por isso continuou vivo.

Me fornecia munição e me mantinha bem informado de tudo sobre os macacos. Em 1938, eu estava tranquilo no meu acampamento, na gruta de Angico, e fui avisado que as autoridades nordestinas estavam pressionando muito o governo federal para acabar com o cangaço. Entre essas autoridades, estavam os meus aliados. For am eles que sugeriram ao presidente Getúlio Dorneles Vargas que anistiasse o rei do cangaço; assim, automaticamente, o cangaço acabaria, porque sem mim o bando se desfacelaria"

O FIM DO REI DO CANGAÇO
; Na versão oficial da morte de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, que nasceu em 7 de julho de 1897, em Pernambuco, consta que em 28 de julho de 1938, forças policiais, as volante, promoveram uma emboscada a um grupo de cangaceiros, na localidade de Angicos, município de Poço Redondo, no Sergipe, matando 11 pessoas e apresentando às autoridades suas cabeças, dizendo que se tratava de Virgulino Ferreira da Silva, sua mulher Maria Bonita e de alguns seguidores.

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