postado em 14/05/2010 07:00
Na entrada do Cine Brasília, ansiosas para conferir a programação do Festival de Cinema Europeu, as amigas Heloísa Castro, Beth Gameiro, Nora Gomide e Ângela Vilas Boas conversam sobre os filmes da programação que não podem passar em branco. Elas se conheceram há 15 anos na mesma situação, entre projeções paralelas ao circuito comercial. A afinidade com a sétima arte abriu espaço para a amizade. ;Hoje, em épocas de programação mais fraca, marcamos na casa de alguém para conversar e, claro, ver alguns filmes;, conta Beth.
Desde 1990, ela anota todos os filmes vistos como referência para não repetir as fitas. Mas é difícil que elas esqueçam o que já assistiram, e têm na ponta da língua o diretor favorito e o melhor filme mexicano, italiano ou coreano. As amigas garantem espaço na agenda até para a sessão surpresa do Teste de Audiência, na Caixa Cultural. ;Nós todas vimos É proibido fumar, da Anna Muylaert, e Filhos de João, de Henrique Dantas, bem antes de estrearem no Festival de Brasília. E já sabíamos que seriam sucesso;, recorda Ângela Vilas Boas.
Como elas, diversas pessoas veem nas mostras alternativas uma forma entretenimento de baixo custo e oportunidade de aprendizado. Um exemplo da popularidade desses eventos é a Mostra de Cinema Europeu, em cartaz no Cine Brasília até o dia 20, com sessões gratuitas que extrapolam 400 espectadores. Lotação que só fica atrás das sessões do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, evento máximo de prestígio à sétima arte na cidade
Na programação, 17 filmes da produção atual europeia e 10 clássicos. Nomes consagrados como José Luis Guerín, Jacques Tati, Marc Didden, Frederico Felini e Lars Von Trier atraem público de todas as idades para a sala na 106/107 Sul. ;Compareçemos às três sessões diárias. Quando tem um festival deste tipo, aproveitamos tudo. Ficamos arrasadas quando há outra mostra concomitante, com choque de horário;, desabafa Ângela Vilas Boas.
O professor e cineasta Sérgio Moriconi, que atua como curador na mostra em cartaz no Cine Brasília, afirma que esse tipo de evento é essencial para a formação de público. E recorda que, numa dessas sessões, surgiu seu interesse por cinema. ;Estava no extinto Cine Nacional para assistir a Rocco e seus irmãos, de Luchino Visconti, e só havia mais uma pessoa na sala. Curiosamente, era o cineasta Vladimir Carvalho. O projecionista questionou se rodava ou não a película, alegando que a sala estava vazia. Não deixamos. Aquele filme colaborou com a minha decisão pelo cinema.;
Potencial educativo
Os pontos positivos das mostras em relação ao circuito comercial são muitos, a começar pela possibilidade de assistir a um clássico em tela grande e, muitas vezes, em película restaurada. Além disso, debates com os realizadores, autores e especialistas atraem público para as sessões alternativas. ;Quando é um festival temático, ajuda as pessoas a situarem historicamente os movimentos de cinema. A sala vira um museu de referências e forma um espectador mais lúcido;, argumenta Sérgio Moriconi.
Pedro Moura, 21 anos, diferencia-se do público da sua faixa etária que compareceu à abertura da mostra Clássicos e Raros do Nosso Cinema II, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), na terça-feira. Entre atuantes da área de cinema e artes visuais, o estudante de arquitetura se assume um frequentador assíduo de mostras, mas diz preferir não se comprometer profissionalmente com a sétima arte. ;Deixo os filmes acontecerem na minha vida ocasionalmente. Frequentar uma mostra é como ir a exposições de artes plásticas, fotografia ou ao teatro. Arte é indissociável, tudo me estimula;, conta.
O estudante de arquitetura fez questão assistir ao longa A mulher de todos (1969) no CCBB, mesmo sabendo da disponibilidade do filme de Rogério Sganzerla na internet. ;Está tudo no YouTube, em preto e branco. No cinema, pude assistir sem interrupções, em preto e branco, vermelho e branco, azul e branco, aquele recurso fotográfico fantástico. Na internet, eu não tenho a Helena Ignez, protagonista e mulher do diretor, à minha frente, 40 anos depois, contando como foi fazer tudo aquilo. Experiência única e incomparável;, define.
Presente na abertura da mostra, a musa do Cinema Novo destacou, em entrevista ao Correio, que o novo público, diversificado e sempre presente, é uma das maiores satisfações nas mostras sobre o marido que acompanha no país e no exterior. ;Como o diferencial são os debates, a presença das pessoas é sempre muito interessante. Principalmente porque há participação de um público variado, circulante e ocasional, que pode se deparar, quase sem querer, com o filme da sua vida;, afirmou Helena Ignez.
Programe-se
Festival de Cinema Europeu
Até 20 de maio, com sessões das 16h às 21h, no Cine Brasília, entrada franca.
Alzheimer case, de Erik Van Looy, hoje, às 19h.
Não recomendado para menores de 14 anos.
Play time, de Jacques Tati, domingo, às 16h. Classificação indicativa livre.
Deixe ela entrar, de Tomas Alfredson, terça-feira, às 21h. Não recomendado para menores de 14 anos.
Clássicos e Raros do Nosso Cinema II
Até 6 de junho, com sessões das 16h às 20h30, no CCBB, ingressos R$ 4 e R$ 2
A mulher de todos, de Rogério Sganzerla, amanhã, às 20h30, e domingo, às 16h. Não recomendado para menores de 16 anos.
A dama do Cine Shanghai, de Guilherme de Almeida Prado, dia 29, às 20h30. Não recomendado para menores de 16 anos.
Bonitinha, mas ordinária, de J.P. de Carvalho, dia 27, às 20h30. Não recomendado para menores de 16 anos.
Cala a boca, Etelvina, de Eurides Ramos, hoje, às 16h, e amanhã, às 18h20. Classificação livre.
Os desclassificados, de Clery Cunha, dia 25, às 20h30, dia 26, ás 18h20. Não recomendado para menores de 16 anos.
Teste de Audiência
25 de maio, às 20h
Sessão surpresa na Caixa Cultural
Programação completa
Dia 14 de maio (sexta)
Às 16h, Cala a boca Etelvina
Às 18h20, Matar ou correr
Às 20h30, A filha do advogado
Dia 15 de maio (sábado)
Às 16h, Na senda do crime
Às 18h20, Cala a boca Etelvina
Às 20h30, A mulher de todos
Dia 16 de maio (domingo)
Às 16h, A mulher de todos
Às 18h20, Matar ou correr
Às 20h30, E a paz volta a reinar
18 de maio (terça)
Às 18h20, O matador profissional
Às 20h30, Lilian M: relatório confidencial
19 de maio (quarta)
Às 18h20, Nem Sansão nem Dalila
Às 20h30, O matador profissional
20 de maio (quinta)
Às 18h20 Lilian M: relatório confidencial
Às 20h30 Nem Sansão nem Dalila
21 de maio (sexta)
Às 16h, Terra em transe
Às 18h20, Uma aventura aos 40
Às 20h30, Ninfas diabólicas
22 de maio (sábado)
Às 16h, Uma aventura aos 40
Às 18h20, Ninfas diabólicas
Às 20h30, Terra em transe
23 de maio (domingo)
Às 16h, Ninfas diabólicas
Às 18h20, Terra em transe
Às 20h30, Uma aventura aos 40
25 de maio (terça)
Às 18h20, Damas do prazer
Às 20h30, Os desclassificados
26 de maio (quarta)
Às 18h20, Os desclassificados
Às 20h30, Damas do prazer
27 de maio (quinta)
Às 18h20, Macaco feio... macaco bonito... / O saci
Às 20h30, Bonitinha, mas ordinária
28 de maio (sexta)
Às 18h20, Juventude sem amanhã
Às 20h30, É Simonal
29 de maio (sábado)
Às 18h20, É Simonal
Às 20h30, A dama do Cine Shanghai
30 de maio (domingo)
Às 16h, Juventude sem amanhã
Dia 1; de junho (terça)
Às 18h20, A grande feira
Às 20h30, Viagem ao fim do mundo
Dia 2 de junho (quarta)
Às 18h20, Caveira my friend
Às 20h30, Gregório 38
Dia 3 de junho (quinta)
Às 18h20, Preço de um desejo
Às 20h30, O pagador de promessas
Dia 4 de junho (sexta)
Às 16h, Viagem ao fim do mundo
Às 18h20, Caveira my friend
Às 20h30, A grande feira
Dia 5 de junho (sábado)
Às 16h, Gregório 38
Às 18h20, Preço de um desejo
Às 20h30, Caveira my friend
Dia 6 de junho (domingo)
Às 16h, A grande feira
Às 18h20, O pagador de promessas
Às 20h30, Viagem ao fim do mundo