postado em 14/05/2010 07:00
Antes de um primeiro encontro com o Crystal Castles, recomenda-se cautela: o duo canadense é conhecido pelas mudanças abruptas de humor. Nos dias mais amenos, Ethan Kath e Alice Glass são anfitriões gentis. Mas, quando o tempo fecha, o casal submete os incautos a sessões de tortura musical. Daí entende-se por que o som produzido por essa dupla é definido ora como delicado, ora como violentíssimo. É esse estilo esquizofrênico que instiga os fãs da banda a, repetidamente, respirar fundo e retornar ao castelo assombrado.Não é uma seita qualquer. O fã-clube é tão abrangente quanto o perfil sonoro do grupo. Quando enfurecido, o Crystal Castles dispara uma torrente de ruídos que satisfaz os adeptos do noise rock. Entre um surto e outro, no entanto, as experiências com pop psicodélico soam irresistíveis a qualquer um que já tenha se apaixonado por um disco do Kraftwerk e do My Bloody Valentine. Quem tenta catalogá-los cai em armadilhas. Já os chamaram de ;digipunk; e de ;techno-metal;. Não são isso nem aquilo.
A origem da banda explica essa inadequação a gêneros. Em 2003, Ethan era um músico de Toronto com um projeto de rock. Quando assistiu ao show do grupo punk liderado por Alice, descobriu o elemento que faltava à poção. Em 2004, a alquimia não surtiu efeito. Só um ano depois, quando Ethan enviou a Alice um CD com 60 faixas eletrônicas escritas por ele, o organismo começou a ganhar vida.
;Somos influenciados pela cena noise. Mas não queríamos copiar o que as outras bandas faziam. Em vez de usar guitarras, optamos por teclados;, explicou Ethan à revista Time Out London. Isto é: o Crystal Castles é uma banda noise de cabeça para baixo. Ainda assim, essa explicação não dá conta de descrever as incríveis idas e vindas do segundo disco do casal, intitulado simplesmente Crystal Castles. Do céu pop aos subterrâneos da vanguarda, é um álbum que tritura os preconceitos de quem tenta classificá-lo.
A estreia de 2008 apresentou um par infernal que, entre outros hobbies, curtia adaptar chips de Atari nos teclados. O novo trabalho mostra que o gosto pelo caos está no hardware do grupo. Gravado em uma igreja na Islândia, num chalé em Ontário, em Londres e numa loja de conveniência abandonada em Detroit, Michigan, o disco rejeita a concisão. Longo (com 14 faixas), mas nunca aborrecido, alterna grosserias quase inaudíveis (caso de Doe deer) com melodias palatáveis que já rolam nas rádios britânicas (Celestica). ;Siga-me para lugar algum;, convida Alice, sinistra.
Nos palcos, o Crystal Castles (o nome, acredite, vem do Castelo de Cristal da She-Ra) prega peças de terrorismo musical. Em Barcelona, Alice agrediu os seguranças com o kit de bateria. Motivo: o volume do som estava baixo. São cobiçados: já abriram para Blur e Nine Inch Nails. ;Gostamos de bandas que experimentam de forma violenta;, avisa a vocalista. Marketing à parte, eles acertam no principal: na ocasião certa ; de luzes apagadas, numa noite gelada ;, o som do Crystal Castles cobra respeito. Tremei.
Se gostou, ouça
Quatro bandas de rock que provocam calafrios:
THESE NEW PURITANS
O quarteto britânico de art rock belisca os nervos: os climas cavernosos do disco Hidden, recém-lançado, sugerem um elegante filme de horror. Ouça em
LIGHTNING BOLT
Existe melodia no som deste duo de Rhode Island, mas o importante é o barulho. Em matéria de noise rock, poucas bandas soam tão incisivas. Ouça em
LIARS
O trio provocativo de Nova York nunca oferece aquilo que os fãs esperam encontrar: já provaram do minimalismo, do punk, do krautrock; Ouça em
THE ANTLERS
A atmosfera é de suspense psicológico: em Hospice, de 2009, o trio nova-iorquino enfrenta o medo da morte sem medo ou mertiolate. Assustador. Ouça em
CRYSTAL CASTLES
Conheça o duo canadense em . O segundo disco da banda, Crystal Castles, é um lançamento da Fiction Records. Importado. ****