postado em 15/05/2010 07:00
Para Ari de Barros, 53 anos, produtor do Ferrock, a música serve para oxigenar sua principal causa: a social. ;É quando você pisa no esgoto, quando sente a poeira batendo no rosto, que você pensa em fazer alguma coisa para mudar a situação. Música a gente ouve em casa. Para o público pode até ser diferente, mas pra mim, o mais importante do Ferrock é o resultado social que a gente consegue com os eventos;, afirma Ari, que, entre outros feitos, conseguiu, com o festival, a construção de uma escola, a reestruturação de áreas originalmente usadas para depósito de lixo, asfalto e iluminação em pontos de Ceilândia, onde o Ferrock acontece desde 1986.;Viramos uma espécie de ponte entre a comunidade e o governo;, constata Cleber Silva, 30 anos, também produtor do festival e membro do Centro Cultural Ferrock ; que além de shows promove atividades em prol de Ceilândia. Em 2010, o festival será realizado em duas edições. Em outubro é a oficial. A deste fim de semana, na Praça da Administração de Ceilândia, celebra o cinquentenário de Brasília e tem como tema (todas as edições são temáticas) o encontro do rock com a cultura popular. Hardcore, cacuriá, metal, blues e embolada dividirão o mesmo palco.
Na escalação de hoje e amanhã estão bandas locais, nacionais e, pela primeira vez, internacionais. Hoje, o guitarrista Johnny Winter encerra a programação mostrando porque é uma lenda vida do blues elétrico. ;Gostaria de manter a surpresa, mas o show terá muito blues misturado com rock. Músicas de quase todos os meus discos estarão no repertório;, adiantou o músico albino, 66 anos, em entrevista por e-mail.
Amanhã, as duas atrações mais aguardadas são a banda americana Suffocation e inglesa Napalm Death, nomes internacionalmente conhecidos como referências do death metal/ grindcore. ;O Napalm é a mais importante banda desse segmento. Primeiro porque é uma das primeiras a fazer esse tipo de som, segundo, porque vem mantendo o estilo até hoje. Temos muita influência dela. Para nós é um sonho dividir o palco com a banda, os mestres da parada;, comenta Fábio Guedes, 33 anos, vocalista do quarteto Seconds of Noise.
Há alguns anos, o Napalm Death chegou a ser anunciado como atração do Ferrock. No entanto, quem negociou o show dos ingleses com o festival candango não era o responsável pela vinda deles ao Brasil. Resultado: a banda nem sequer pisou no DF. ;A gente não tinha a grana para fazer o show deles este ano, mas o Ari me convenceu. Até para lavar a nossa honra. Porque sofremos muita pressão quando eles não vieram da outra vez;, conta Cleber Silva. ;Fizemos uma verdadeira ginástica para viabilizar tudo;, completa Ari.
Sonhos para os próximos 25 anos de Ferrock? Ari tem vários: ;Queremos continuar fazendo evento em prol da comunidade de Ceilândia. Quanto à música, gostaríamos muito de trazer o Black Sabbath com o Ozzy para tocar no festival;, revela o produtor.
Ferrock 2010
Hoje e amanhã, a partir das 15h, na Praça da Administração da Ceilândia.
Hoje: show com as bandas Dog Savanna, Bootlegs, John No Arms, Quebraqueixo, Sangue Seco (GO), Beladita Maldona, Mortuário (GO), Parafernália, Anthares (SP), Grupo de Catira e Folia dos Reis Irmãos Vieira, Elffus e Johnny Winter (EUA).
Amanhã: The Insult, Grupo Cacuriá Filha Herdeira, Seconds of Noise, Podrera, Rotten Purity, Death Slam, Roque e Dona Terezinha, Suffocation (EUA) e Napalm Death (Inglaterra). Ingresso: 2kg de alimentos não perecíveis. Classificação indicativa livre.
Entrevista com Johnny Winter
Entrevista com o guitarrista americano Johnny Winter, que toca em Brasília em 15 de maio, dentro do festival Ferrock, na Praça da Administração de Ceilândia.
É a sua primeira passagem pelo Brasil, certo?
Estou muito animado e interessado em tocar aí. Eu sei que fui cogitado para tocar no Brasil nos últimos anos, mas por uma razão ou outra, simplesmente não aconteceu. Agora que é definitivo, eu mal posso esperar.
Qual repertório você apresentará no Brasil? Mais voltado para o blues ou para o rock?
Eu gostaria de manter a surpresa, mas o show terá muito blues com rock misturado. Eu tocarei guitarra e, claro, slide na minha Firebird (*modelo da guitarra). Basicamente, muitas músicas de quase todos os meus discos estarão no reperório. Eu adicionei um fantástico segundo guitarrista à minha banda. Seu nome é Paul Nelson. O tempo todo que eu toquei rock, o meu verdadeiro amor era pelo blues. Mesmo o meu período de blues tendo sido muito bem-sucedido, eu sabia que a parte mais duradoura da minha carreira seria tocando blues. Eu sou um bluesman e planejo ser um até morrer.
Quais guitarristas mais te influenciaram quando jovem? Como você diria que desenvolveu seu estilo de tocar guitarra?
Robert Johnson, é claro, T-Bone Walker, assim como Muddy Waters e B.B. King, apenas para citar alguns. Esses e tantos outros guitarristas me inspiraram muito. E foi assim que a música que foi passada e como eu desenvolvi meu estilo.
Você trabalhou com Muddy Waters. Como era o seu relacionamento com essa lenda?
Muddy Waters era um cavalheiro, um homem de classe. Eu produzi e toquei em quatro álbuns dele, três dos quais receberam o prêmio Grammy. Produzindo o Muddy, eu realmente quis levá-lo de volta ao som tradicional pelo qual ele era conhcido. Ao longo dos anos, aquele som se perdeu, especialmente depois que ele fez um disco chamado Electric mud. Tanto eu quanto ele detestávamos aquele disco e eu sabia que eles estava pronto para uma mudança. Trabalhar com o Muddy foi o ponto alto da minha carreia.
Como a sua saúde interfere na sua forma de tocar e nas suas performances ao vivo?
Na verdade, eu me sinto ótimo, obrigado por perguntar. Eu me sinto melhor do que nunca agora que mudei meu estilo de vida. Eu posso sentir a melhora que isso fez com meu modo de tocar e cantar. Quero muito compartilhar isso com meus fãs. Eu parei de beber há anos e também larguei todo o resto que estava usando. Foi uma volta por cima pra mim. Minha habilidade de cantar e tocar estavam sendo afetadas por aquele lixo. Minha vida toda mudou para melhor.