Luciano Milhomem
postado em 21/05/2010 08:19
A modorrenta Viver a vida se foi sem deixar saudades. Entra em seu lugar Passione, com tudo para agradar ao grande público noveleiro: elenco estelar e, principalmente, uma trama tipicamente folhetinesca. O autor Sílvio de Abreu afirmou em entrevista recente que faz ficção, não jornalismo. Ninguém duvida disso. Suas novelas são assumidamente grandes folhetins. Daí, Passione trazer de volta, ao horário das 21h, um mundo de peripécias.
O núcleo principal da trama tem como centro a magnata Bete Gouveia (Fernanda Montenegro), viúva de Eugênio Gouveia (Mauro Mendonça), e seus filhos, herdeiros de uma metalúrgica, entre muitos outros bens. De olho na fortuna da família, estão os trapaceiros Clara Medeiros (Mariana Ximenes) e Frederico Lobato, Fred (Reynaldo Gianecchini). Outro núcleo, que ainda deverá se relacionar com o principal, fica na bela região da Toscana, na Itália, e tem como protagonista Totó (Tony Ramos), filho de Bete, mas que ainda desconhece sua verdadeira origem.
Somente esses dois núcleos já dão a ideia do quanto a trama promete. Está a caminho um verdadeiro novelo, que mistura, na cidade de São Paulo e na Toscana, esportistas, executivos, feirantes, novos ricos e lavradores. Como o próprio nome da novela indica, pode-se esperar também muita paixão e, com ela, claro, muito sexo. Os primeiros capítulos já trouxeram desde insinuações, entre Clô (Irene Ravache) e Olavo (Francisco Cuoco), cenas quase tórridas, entre Clara e Fred e entre Stela Gouveia (Maitê Proença) e um garotão que ela conheceu na praia, até sexo romântico, entre Diana (Carolina Dieckmann) e Gerson (Marcello Antony).
Como se não bastasse tudo isso em menos de uma semana, Passione estreou com sequências cinematográficas na Itália. A fotografia dos primeiros capítulos explode na tela em cores quentes, encantando o telespectador com paisagens de sonho. A Globo parece querer investir pesado na plástica da nova novela, que estreia em tempos de tevês em alta definição. Pena que a beleza das sequências na Toscana contraste com a patética mistura de italiano e português na boca dos personagens do núcleo de Totó.
Por mais que se esforce, Sílvio de Abreu enfrentará os desafios típicos da atualidade para quem faz teledramaturgia: a concorrência da Internet e de outras emissoras, inclusive da tevê fechada, cujos seriados e sitcoms têm atraído, sobretudo, o telespectador jovem. Para esse público, aliás, Abreu reservou as emoções das corridas de stock car e de ciclismo, sem contar as aventuras amorosas na noite fervilhante da capital paulista.
No mais, são os clichês de sempre: disputa por dinheiro e poder, traições, armadilhas, confissões e descobertas, geralmente inverossímeis. Mas, como o próprio autor admite, suas novelas, diferentemente das de Manoel Carlos, não têm nenhum compromisso com a vida como ela é. A se basear no êxito de audiência das tramas de Gloria Perez e do próprio Abreu, o público prefere mesmo a fantasia.