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Diversão e Arte

Caipirinha: um drinque versátil

A caipirinha se transforma com a criatividade de especialistas brasileiros e de outros países. Novas receitas incluem ingredientes como plantas amazônicas e bacon

Uma mistura de cachaça, gelo, limão e açúcar deu origem a uma bebida tipicamente brasileira, à qual o mundo da gastronomia começa a se render. A clássica caipirinha ganha versões inusitadas nas mãos de bartenders e chefs renomados. Hoje, existem combinações que levam uva e manjericão, lima da pérsia e pimenta rosa, gengibre e tangerina, além daquelas feitas com vinho do Porto e até com infusão de bacon. As possibilidades são infinitas, e o melhor: você pode preparar todas as receitas em casa.

Ainda que no mercado existam opções com vodca, saquê, rum ou tequila, a verdadeira caipirinha é feita com cachaça. Movimento lançado na internet por chefs e produtores artesanais, o Salve a Caipirinha tenta unir forças para valorizar a bebida. ;Ela pode ser feita com limão, maracujá, jabuticaba, as mais diversas frutas, mas é importante que seja feita com uma cachaça de qualidade e artesanal;, afirma o norte-americano Steve Luttmann, criador da campanha e idealizador da cachaça Leblon, produzida em Patos de Minas (MG).

O renomado chef e proprietário do restaurante D.O.M., Alex Atala, aderiu ao movimento. Ele incluiu no cardápio de suas duas casas a caipirinha de priprioca, feita com hortelã, maracujá em polpa, limão-cravo e o xarope da planta nativa da Amazônia. E, claro, cachaça. Luttmann comemora: ;Precisamos dar uma chance para a caipirinha, quebrar esse preconceito contra as cachaças. Eu sempre falo para os meus amigos que não existe margarita com vodca ou cosmopolitan com tequila. É quase um crime (1), uma falta de respeito ao Brasil;, analisa o norte-americano.

Na terra de Luttmann, o destilado brasileiro foi utilizado para criar uma novidade um tanto surpreendente: a caipirinha de bacon. O mixiologista Gabriel Orta, do W Hotel, em Miami, criou o drinque e o batizou de Smoky Sour. A receita leva infusão (2) da carne, duas colheres de chá de geleia de amoras, 20ml de suco de limão, um ramo de alecrim e duas amoras inteiras. Para preparar, basta misturar tudo na coqueteleira, despejar em um copo com gelo e decorar com a erva e as frutas.

A caipirinha também ganhou uma versão na culinária molecular, que transforma os alimentos no nível molecular, criando novas texturas. No restaurante carioca Mr. Lam, a bartender Lucíula Martins criou duas receitas bem brasileiras: uma de banana e outra de seriguela. Seguindo a tradição da vertente gastronômica, os drinques são na verdade esferas de espuma, servidos com maracujá e cointreau. ;Você coloca na boca de uma vez só e o drinque explode, essa é a ideia. Temos uma boa carta de bebidas com cachaça e muita gente ainda tem um pé atrás com a pinga. Essa forma de servir gera curiosidade, e as pessoas acabam experimentando. Unimos o útil ao agradável;, conta a especialista que adora fazer misturas com a bebida brasileira.

Para Lucíula, a cachaça pode ser servida em qualquer ocasião. Além disso, é boa para acompanhar desde a entrada até a sobremesa. Para os que querem fazer a caipirinha em casa, a especialista aconselha que sigam o gosto pessoal. Masquanto mais simples melhor;, aconselha. Uma boa dica é desfrutá-las durante a Copa do Mundo, torcendo pela Seleção Brasileira. Para essa época, Lucíula sugere duas receitas para serem saboreadas durante o jogo entre Brasil e Portugal. O time canarinho pode ser representado pela receita que leva os limões siciliano (amarelo) e taiti (verde). Já a seleção lusa pode ser homenageada com a caipirinha de tomate cereja, manjericão e morango.

Vinho e pisco
Há aqueles, porém, que acham que a versatilidade da caipirinha aceita até a substitição da cachaça por outra bebida. No Bier Fass, o drinque encontrou suas raízes (3) lusitanas. Há seis anos, depois de uma viagem para visitar a família em Portugal, a proprietária Ivone Carvalho, que nasceu em Viana do Castelo, no norte do país europeu, resolveu testar uma receita que estava fazendo sucesso por lá. ;A caipirinha é muito divulgada lá. Quando eu estava preparando uma com pinga, alguém comentou que os portugueses estavam fazendo a caipiporto, que leva vinho do Porto e morangos. Quando coloquei no cardápio, os clientes adoraram;, comenta Ivone. Outra possibilidade para a caipiporto é acrescentar uvas.

Também fazem sucesso no restaurante as versões com pisco (típica bebida do Peru), saquê e vodca, além das caipirinhas servidas com um picolé de fruta dentro do copo. ;Muita gente pede para misturar os sabores, como um picolé de abacaxi acompanhando a caipirinha de morango. As pessoas gostam de novidades;, diz Ivone. A empresária diz no entanto que o sabor tradicional continua sendo adorado. ;A caipirinha clássica, com limão, tem seus consumidores fieis;, conta.

Outra prova de versatilidade da bebida brasileira é a grande variedade servida no Outback, rede de restaurantes especializada na culinária australiana. Algumas das versões são a Dream, com morango, maracujá e limão; a Lima-Pimenta, com lima-da-pérsia e pimenta-rosa; Strawberry Ginger, com morango e gengibre; e a Rock Melon, uma mistura de melão com limão. ;Também damos a opção de o próprio cliente fazer a mistura com as frutas ou a bebida que quiser. E algumas caipirinhas são feitas com o Monin, um xarope de frutas que intensifica bastante o sabor;, revela Nei Blessmann Valério, manager do Outback do Iguatemi.

1 - Pela lei
O Decreto N; 4.072 de 3 de janeiro de 2002, assinado pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, regulamentou a receita da famosa bebida. Pela lei, caipirinha é feita com cachaça e limão. O artigo 81 diz: ;Caipirinha é a bebida típica brasileira, exclusivamente elaborada com cachaça, limão e açúcar. O limão de que trata o ; 4; poderá ser adicionado na forma desidratada;.

2 - Sabor
Para preparar o smoky sour, basta cozinhar cinco fatias de bacon em uma panela e peneirar a carne duas vezes, juntando a gordura líquida em um recipiente. Adicione 750 ml de cachaça e coloque no freezer. Depois que a mistura estiver congelada, retire a gordura e pronto: você vai ter uma cachaça diferente com sabor de bacon.

3 - Origem
Ninguém sabe ao certo como a caipirinha foi criada, mas tudo indica que ela tenha surgido um pouco depois da cachaça, no século 16. Uma das versões diz que, na época, os portugueses costumavam usar uma combinação de limão, açúcar e alho para combater o resfriado. Até que o último item foi dispensado e substituído pela cachaça, para dar mais sabor.

; Receitas de caipirinhas

Caipirinha Simone

50 ml de cachaça
; maracujá
4 rodelas de limão
8 folhas de manjericão
Açúcar ou adoçante a gosto

Em uma coqueteleira, macere todos os ingredientes, adicione o gelo, a dose de Sagatiba e agite. Sirva com mexedor num copo old-fashioned.

Caipiginger

50 ml de cachaça
4 gomos de limão
1 colher de gengibre ralado
2 colheres de açúcar ou equivalente em adoçante

Em uma coqueteleira, macere o limão e o gengibre junto com o açúcar (ou adoçante). Adicione gelo e Sagatiba e agite. Sirva com mexedor em um copo old-fashioned.

Caipirinha Picante

60 ml de cachaça
1/2 limão fatiado
12 cranberries frescas ou secas
2 colheres de chá de açúcar refinado
0,25 de colher de chá de canela em pó

Em uma coqueteleira, macere o limão, as Cranberries e o açúcar em uma coqueteleira. Adicione a Sagatiba, agite bem com gelo e sirva em um copo baixo com gelo. Enfeite com algumas cranberries no mexedor.