Parece até que a jornada durou uma eternidade. Mas não: foram ;apenas; seis anos, 121 episódios, quase 5 mil (angustiantes) minutos e uma quantidade incalculável de perguntas. Para o fã-clube planetário de Lost, no entanto, descobrir os últimos mistérios do seriado não encerra a saga. O episódio The end só turbina as discussões e as polêmicas sobre o programa de tevê que ; ame-o ou tente desprezá-lo ; será lembrado como um dos mais queridos enigmas do início do século. O capítulo derradeiro, com duas horas de duração, estreia nesta terça-feira (25/5) no canal fechado AXN. A ;noite Lost; começa às 20h, com um especial que lembra os momentos mais marcantes dessa viagem.
O clímax do fenômeno pop desembarca no Brasil apenas dois dias após a apresentação nos Estados Unidos, que mobilizou um número estimado de 13,5 milhões de espectadores (se quiser saber mais sobre o derradeiro capítulo leia na página 3). O ritmo é apressado, e com um bom motivo. Desde as primeiras temporadas, Lost se tornou símbolo para uma época em que o download de séries e filmes criou uma plateia invisível, incomensurável e disseminada pelo mundo. É possível cravar que, a essa altura, a maior parte dos fãs brasileiros já sabe como terminam as aventuras dos sobreviventes do Oceanic 815, o avião que decolou em Sidney (na Austrália) e, a caminho de Los Angeles, espatifou-se em uma ilhota mágica no Oceano Pacífico.
Matar a charada, no caso, não importa tanto assim. Os ;patronos; do espetáculo, Damon Lindelof e Carlton Cuse, fizeram questão de não responder todas as questões da audiência. ;O mais importante da série são os personagens, não os mistérios;, afirmou Damon à imprensa americana, há uma semana. O foco do episódio de encerramento, que o Correio assistiu, é o destino de um elenco liderado pelo médico Jack Shephard (Matthew Fox) e o monstro John Locke (Terry O; Quinn), possuído pela entidade maligna conhecida como Man in Black. Na sexta e última temporada, os roteiristas acentuaram o conflito entre o bem e o mal, que guerreiam pelo controle dos poderes extraordinários da ilha. Esse é, num resumo, o conflito principal. Mas não espere que a solução da batalha vá explicar as dúvidas de quem acompanha o programa.
A verdade é que a temporada final simplificou (e, em certos momentos, banalizou) muitos dos dramas da série. A fé venceu a razão. Por isso mesmo, dividiu a plateia entre céticos e crentes. ;A temporada decepcionou bastante. Os roteiristas abandonaram a complexidade dos personagens e criaram resoluções aleatórias para todas as questões;, observa o servidor público Bruno Lourenço Carvalho, 23 anos, fã da série. Um dos episódios mais aguardados, Across the sea, provocou frustração em boa parte dos seguidores por conta do tom bíblico, épico, calcado em elementos sobrenaturais. Ainda assim, os tropeços não esfriaram as expectativas de Bruno. ;O último episódio é um evento;, resume ele, que destaca pelo menos uma ótima razão para se perdoar a série: os malabarismos narrativos.
;Sem concessão;
Pelo menos nesse aspecto, Lost promoveu uma pequena revolução na tevê americana e influenciou a dramaturgia de programas como Heroes e FlashForward. Poucas séries de televisão brincaram tão habilmente com realidades alternadas, saltos no tempo, flashbacks, flashforwards e, agora, os ;flashsideways; (histórias que se desenvolvem paralelamente à trama principal). Uma engenharia tão complexa que exigiu atenção absoluta do público. ;Escrevemos a série sem fazer nenhuma concessão;, comentou Damon Lindelof. Azar do público: as conexões entre episódios deixaram muita gente a ver navios. Nos Estados Unidos, a primeira temporada chegou a atrair 21 milhões. O penúltimo episódio da sexta edição ficou nos 10 milhões.
Os números, entretanto, são irrisórios perto do impacto mundial provocado por uma série que explorou o território da web como nenhuma outra. As teorias dos fãs foram tantas que seria possível construir dezenas de roteiros a partir do debate. Os próprios autores, atentos às críticas e aos elogios da plateia, admitem ter criado a trama com a ;ajuda; do séquito. A ficção se beneficiou da interatividade ; minicapítulos foram distribuídos em telefones celulares. Um belo destino para um programa encomendado em 2004 pela rede ABC como um mix do livro O senhor das moscas, o filme Náufrago, o seriado Gilligan;s island e o reality show Survivor. Criado por Jeffrey Lieber, Lindelof e J.J. Abrams (diretor de Star Trek e Missão: impossível III), Lost rompeu o marasmo da tevê e, sem controle, assombrou o mundo. Uma criatura imperfeita, mas que vai deixar saudades.
LOST ; EPISÓDIO FINAL
Nesta terça-feira (25/5), às 20h, no canal a cabo AXN (Net/Sky). A maratona começa com um resumo das temporadas anteriores e, às 22h, será exibido o episódio The end.
OS NÚMEROS
121
episódios foram produzidos em seis temporadas
13,5 milhões
de pessoas assistiram, nos EUA, ao fim da série
Confira vídeos da série Lost