Nahima Maciel
postado em 07/06/2010 08:39
O artista mineiro Eder Santos é péssimo em futebol. Não sabe jogar e jamais arriscaria uma embaixadinha, mas tem profunda admiração pelo esporte. Não aquele encenado para copas e grandes campeonatos, palco de desfile de milhões de dólares. É o futebol de várzea, a mais brasileira das peladas, que o artista admira. E foi esse tipo de jogo que ele escolheu reproduzir na instalação Embaixadas - Planeta bola, em cartaz a partir de amanhã no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).
Eder visitou quatro campos de futebol de várzea espalhados pelo país para filmar peladas e anônimos na prática da embaixadinha. Não queria ninguém conhecido e muito menos o futebol espetacular mostrado na televisão. "Lá fora a gente é sempre representado dessa maneira. É autêntico. Muitos desses garotos (que filmamos) não queriam parar de tanto que gostam do esporte", conta. Editadas e organizadas em fragmentos, as imagens serviram de base para transformar a galeria de vidro do CCBB em uma imensa tela destinada exclusivamente ao futebol em formato pelada.
Deitado no chão, o público poderá assistir às embaixadinhas de dezenas de jogadores anônimos projetadas no teto da galeria. O artista faz uma brincadeira com o espaço simbólico de Brasília, cidade-sede das embaixadas do mundo inteiro. "A ideia é de a cidade ser um lugar onde tem essa mistura de gente. Queria brincar com essa história de ser uma área de embaixadas e uma área de campo de futebol, que é sempre um lugar a ser ocupado", explica. Inédito, o trabalho ganha a primeira versão em Brasília porque o artista enxerga a capital como um espaço político.
Eder buscou nas memórias de infância a motivação e o material para realizar Embaixadas - Planeta bola. No bairro onde morou com a família em Belo Horizonte havia pelo menos cinco campos de futebol de várzea, improvisados a cada jogo. O pai, ele lembra, jogou até os 72 anos e era fanático pelo esporte. Para encontrar os campos e realizar as filmagens, o artista precisou sair da capital mineira. "A gente achou um campo em Brumadinho, que é como se fosse uma Belo Horizonte de antigamente, do interior", conta. "Antigamente o futebol era uma coisa de bairro. Eu quis fazer essa instalação por ter vivido isso na infância e por entender que essa é uma coisa que representa a gente, o Brasil. Mas não gosto como é hoje, acho ridículo."
Embaixadas - Planeta bola
Instalação de Eder Santos. Visitação até 18 de julho, de terça a domingo, das 9h às 21h, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB, SCES Tc. 2, Conj. 22)