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Obra-prima dos Rolling Stones, Exile on Main St. é lançado em versão remasterizada e com 10 faixas bônus

postado em 13/06/2010 07:17
Para o escritor americano Robert Greenfield, autor do livro Uma temporada no inferno com os Rolling Stones, sobre a produção do álbum duplo Exile on Main St., esse disco, lançado em 1972, é o último grande trabalho da banda inglesa. Para tantos outros admiradores do grupo, Exile é, não apenas o último grande trabalho dos Stones, mas o melhor já feito por Keith Richards, Mick Jagger e cia. ;Ali estão os Stones no topo da sua forma, cheios de marra e de veneno, cheios de apetite, reis do mundo (e cientes disso), à frente de um repertório supereclético, recheado de futuros clássicos. E tem (o guitarrista) Mick Taylor elevando o nível do jogo, enriquecendo a trama, emprestando um lirismo que, pelo contraste, embelezava e realçava a explosão de energia e a crueza do resto da banda;, analisa o jornalista José Emílio Rondeau, autor, com Nélio Rodrigues, do livro Sexo, drogas e Rolling Stones.

EXILE ON MAIN ST
Relançamento do disco de 1972 dos Rolling Stones. 28 faixas. Produzido por Jimmy Miller, Don Was e The Glimmer Twins. Universal Music. Preço médio: R$ 50.Por conta da aura mítica que envolve Exile on Main St. ; e, claro, por sua inegável qualidade musical ;, o relançamento do disco em versão remasterizada e estendida, com direito a nada menos do que 10 novas faixas (entre takes alternativos e músicas inéditas), gerou expectativa nos fãs. A chegada do ;novo; Exile às lojas coincide com o lançamento do documentário Stones in exile, que narra a conturbada gestação do disco (a foto mostra parte da banda no lançamento do filme em Nova York).

Esse período é recontado com requinte de detalhes por Greenfield em seu livro (na verdade, o autor fala muito mais sobre o momento e os casos da época do que da música propriamente dita). Isolados por meses em uma antiga mansão francesa ; chamada Villa Nellcote, perto da cidade Villefranche-sur-mer, na Cote D;Azur ;, o vocalista Mick Jagger, os guitarristas Keith Richards e Mick Taylor, o baixista Bill Wyman e o baterista Charlie Watts (acompanhados por alguns de seus colaboradores frequentes) ensaiaram o repertório do que viria a ser seu próximo lançamento. Nesse meio tempo, viveram intensamente a tríade sexo, drogas e rock ;n; roll. E, claro, brigaram muito.

Independentemente dos bastidores de gravação, o que mais interessa nesta história é o resultado da estadia em Nellcote. A sonoridade apresentada em Exile não chega a ser exatamente uma novidade em se tratando de Rolling Stones. Blues, R, soul, gospel e country eram ingredientes da música da banda há bastante tempo. Let it bleed, de 1969, e Sticky fingers, de 1971, passeiam por terrenos parecidos. Mas é como se, no álbum duplo, o quinteto empurrasse essas influências para um nível além. Apesar de rocks do quilate de Rocks off e Tumblig dice, Exile não obteve o devido reconhecimento quando lançado. Mas não tardou para ser tratado como um clássico.

Sonoridade pantanosa
Conhecido por sua sonoridade densa e um tanto quanto ;suja; (muitas das músicas foram gravadas no porão da mansão francesa), o disco ganhou uma remasterização que não limpa o que deveria continuar embrutecido. ;Até onde eu posso falar, Don Was, que produziu a nova versão, fez todo o possível para não ;limpar; as músicas, mas fazê-las soar como no LP original;, comentou por e-mail Robert Greenfield. ;Há uma clareza, uma definição, um brilho que levam ao ouvinte a sonoridade mais próxima possível daquilo que o artista ouviu antes de mandar as fitas-master para a fábrica. Isso não significa que Exile deixou de ser um pântano denso ou que perdeu sua mordida. Pelo contrário: as faixas agarram você pelo gasganete. Como na primeira vez. Só que com mais força;, define o jornalista José Emílio Rondeau.

Quanto às músicas ;novas;, algumas delas, inacabadas, ganharam vocais e guitarras gravados recentemente. O fato não deixa os bônus com a cara dos Stones do século 21. Caso da ótima (e inédita) Plundered my soul (a principal, mas não única razão para dar crédito ao disco de extras). ;Nela, Jagger recriou a maneira como cantava na época e eu acho que a música funciona em todos os sentidos;, aprovou Greenfield. ;Plundered my soul, Following the river e a versão de Soul survivor com Keith nos vocais são excelentes;, acrescenta Nélio Rodrigues.

Em resumo, o ;novo; Exile on Main St., é um prato cheio para os fãs dos Rolling Stones. Serve tanto para quem não tem mais vitrola para ouvir o álbum original em vinil, quanto para quem vai conhecer agora a obra-prima de 1972.

Keith, o filósofo

Algumas pessoas acreditam que é possível aprender com os próprios erros. Já Jessica Pallington West, autora do livro O que Keith Richards faria em seu lugar?, vai além e presume que é melhor aprender com os erros de Keith Richards, o guitarrista dos Rolling Stones. E não é para menos. Keith, hoje com 66 anos, já sobreviveu a uma cirurgia no cérebro, um incêndio em sua casa, a abuso de drogas, prisões, agressões de fãs e choques no palco.

Jessica, então, resolveu reunir algumas das frases do guitarrista junkie e usá-las como sustentação para um livro de autoajuda. No primeiro capítulo, a escritora, que também é aficcionada pelos Stones, faz uma comparação aos 10 mandamentos da Bíblia, com os ;26 mandamentos; do guitarrista, já que, segundo ela, ;Keith Richards é o avatar do excesso ; o número de mandamentos deve ser maior do que simplesmente 10;.

;Aceite (ou pelo menos tolere) seu Mick interior;, é o mandamento de número seis. No livro, a autora se refere a Mick Jagger, vocalista da banda, como ;o gêmeo do mal;. Jessica fala que no ;Keithismo; (espécie doutrina que criou para Keith) ;se você tentar sufocar seu ;gêmeo; do mal com um travesseiro no meio da noite, ele se tornará um fantasma. É melhor se acostumar com ele;.

Ela também se dedica a explicar por que Keith é um filósofo do século 21, um guru urbano. ;É trabalho do keithólatra mostrar como mapear a história completa da filosofia ocidental à moda de Keith Richards;, diz ela, em trecho do livro. No capítulo A filosofia de Keith à luz dos grandes filósofos, Jessica compara frases do roqueiro a de filósofos consagrados como Aristóteles, Platão, John Locke, Rosseau.

Aristóteles fala que ;um amigo de verdade é uma alma em dois corpos... um amigo é outro eu;. Já Keith, simplifica um pouco e diz: ;Mick é rock. Eu sou roll;. Santo Agostinho dizia que ;o olho é atraído por objetos belos, pelo ouro, pela prata e por coisas do gênero;. Da mesma forma, o roqueiro filósofo fala que ;os olhos são as prostitutas dos sentidos;.

E nem mesmo o visual intenso do músico escapou das análises da escritora. ;Está se falando de bem mais do que simplesmente um britânico com tendência ao lápis de olho;, destaca. Segundo Jessica, os brincos de caninos de tubarão, o anel de caveira, as bandanas e algemas do cara que disse ter cheirado as cinzas do próprio pai são uniformes de guerra para protegê-lo do mundo.

Frases do "filósofo" Keith Richards

"O fato é que tenho 60 anos, e meninas de 20 ainda jogam suas calcinhas para mim. É ridículo".

"Certamente não queríamos ser estrelas do rock. Era cafona demais".

"Queijo é algo muito errado", dizendo ser a única coisa que não entra em seu corpo.

"Se você vai ficar doidão, fique doidão com elegância".

"Tive alguns encontros com a velha morte, ela é quase uma amiga minha, na verdade, e, se você andar comigo, vai acabar tendo uns encontros com ela também".

Nietzsche "Eu apresento a vocês o super-homem. O homem é algo a ser superado"

Keith: "O que mataria outra pessoas não mata a mim"

Nietzsche: "É preciso caos na alma para se dar luz à uma estrela dançante"

Keith: "Minha música é sobre o caos. Ela reflete minha vida e provavelmente a de todo mundo"

Ouça trecho da música Plundered My Soul, do Rolling Stones

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