Regina Bandeira
postado em 18/06/2010 08:17
Tristeza, loucura, gritos e poemas que mergulham nos conflitos internos do bicho homem. É para isso que deve estar preparado quem for assistir a Guerra, considerada uma das peças mais fortes do polêmico dramaturgo italiano Pippo Delbono. O espetáculo será o destaque da Mostra Internacional de Teatro(MIT), que ocorre neste fim de semana no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).
Conhecido pelo seu estilo polêmico e original, o diretor apresenta pela primeira vez ao público brasiliense sua concepção de violência, loucura e conflitos humanos. "Onde encenamos Guerra, o público fica muito emocionado, tensionado. É um espetáculo dramático", adianta ao Correio o ator argentino Pepe Robledo, assistente de Pippo há 27 anos, quando se conheceram.
Encenado por 18 atores, nem todos profissionais, a peça não segue a linguagem cênica tradicional de narrativa linear. Guerra é composto por quadros - cenas mudas, monólogos, diálogos - de autores diversos como Bertold Brecht, Charlie Chaplin, Pier Paolo Pasolini e até da Bíblia. Na visão de Delbono, está na intolerância com o outro ser humano a raiz de todas as guerras. Apesar de falado na língua italiana, a plateia brasileira não precisa se preocupar com traduções, pois os diálogos são legendados.
Entre 2002 e 2003, a turnê do espetáculo em Israel e na Palestina foi filmada e gerou o documentário Guerra premiado com o David di Donatello - considerado o Oscar italiano - de melhor longa-metragem em 2004. A versão cinematográfica do texto, no entanto, difere da peça. Guerra foi inspirada no poema épico Odisseia, atribuído a Homero, sobre a viagem de volta à casa do herói grego Odisseu (ou Ulisses, como era conhecido na mitologia romana) após a queda de Troia. Mas, segundo Pepe, o espetáculo busca mesmo provocar a emoção da plateia ao abordar o lado obscuro da alma humana.
Chamado de poeta da marginalidade, o ator e diretor Pippo Delbono nasceu em Varazze, em 1959. Aprimorou seu estilo provocativo após conhecer o ator Pepe Robledo, com quem passou a trabalhar a partir de 1983. Em 1987, trabalhou com a bailarina Pina Bausch, que o influenciou a misturar elementos dramatúrgicos como dança e canto em seus espetáculos. Na década de 1990, o diretor se descobriu soropositivo e fez uma imersão em clínicas e hospitais, de onde chamou algumas pessoas para trabalhar com ele.
Passaram a fazer parte da companhia atores com diferentes experiências de vida, como portadores de doenças mentais, ex-moradores de rua e um jovem portador de síndrome de Down; a exposição desses atores em peças dramáticas e polêmicas gerou diversas críticas ao longo de sua carreira.
Gostando ou não do trabalho de Delbono, a plateia de Brasília não deverá ficar impassível a esse diretor. Assim como em outras cidades que percorreu no mundo, Guerra provoca emoção.
Em busca da surpresa
O diretor Hugo Rodas, 71 anos, promete estar na plateia para conferir o trabalho do grupo. "Vou com a expectativa de morrer de prazer; de ser surpreendido por um espetáculo diferente", disse Rodas, que, assim como Delbono, é ator e coreógrafo, além de reconhecido por usar o palco de forma inovadora e criativa. O uruguaio radicado em Brasília desde 1975, onde ensina artes cênicas na Universidade de Brasília (UnB), diz que em termos de teatro, pouca coisa o comoveu ultimamente. "Naturalmente, quando isso acontece é espetacular. Vamos ver o que vai acontecer... Oxalá, me surpreenda."
GUERRA
Da Mostra Internacional de Teatro. Direção de Pippo Delbono. Ingressos: R$ 15 (inteira) e R$ 7,50 (meia) à venda na bilheteria do CCBB. Sexta e sábado às 21h e domingo às 20h. Classificação indicativa: 14 anos