postado em 18/06/2010 08:23
Melhores amigos desde a infância, o vocalista Jonathan Pierce e o guitarrista Jacob Graham vivem cercados pelos arranha-céus e painéis luminosos de Nova York. Mas deixaram o coração nas praias da Flórida, onde escreveram um punhado de melodias para tardes calorosas. Música para acampamentos. É do choque entre tons de cinza (do asfalto de Manhattan) e amarelo (da areia, sob o sol) que nasce The Drums, uma das novidades mais elogiadas do ano. O quarteto equilibra momentos de tristeza e alegria, desencanto e esperança. "O que fazemos é pop sincero, só isso", tentam definir.
No site oficial, eles escancaram a contradição. "Nós só escrevemos sobre dois sentimentos: um é o primeiro dia de verão, quando você e seus amigos estão admirando o pôr do sol e pensando nos planos que fizeram", explica Jonathan. E continua: "O outro é quando vocêcaminha na chuva e percebe que vai ficar sozinho para sempre." Essas duas cenas, sobrepostas, explicam o sabor agridoce de canções como Best friend, electropop de garoa. "Meu melhor amigo morreu. E eu, como vou sobreviver?", pergunta o vocalista, nos embalos de felizes sintetizadores.
A combinação, que pode parecer estranha, soa até familiar, como se os americanos do Shins resolvessem prestar homenagens aos britânicos do Smiths (não à toa, Morrissey já conferiu e aprovou o show dos rapazes). Prova disso é que o Drums entrou em listas de revelações de 2010 produzidas pelo semanário britânico New Musical Express e pela BBC. Os leitores do site americano Pitchfork elegeram o grupo como a maior promessa do ano. Já foram parar nas páginas do New York Times, ao lado dos conterrâneos do Surfer Blood, que já apareceram aqui no Garagem. No artigo, ambas admitem que não estão nem aí para o surfe.
O disco de estreia, The Drums, é um doce levemente amargo que facilita o trabalho de quem tenta decifrar a banda. Parece até um álbum fácil. Mas, de perto, esse pop não é normal. As referências do grupo formam uma mistura homogênea. No entanto, o grau de dificuldade aumenta quando eles tentam um ponto de equilíbrio entre a dureza pós-punk e a inocência do rock 'n' roll dos anos 1950. Jonathan define a sonoridade como um encontro entre duas gravadoras: a inglesa Factory (de Joy Division e Happy Mondays) e a americana Sun Records (de Elvis Presley e Roy Orbison).
Lançado pelo selo independente Moshi Moshi (o mesmo que gravou singles do Hot Chip e do Friendly Fires), o primeiro compacto do grupo, Let%u2019s go surfing, conta a história de um verão perfeito arruinado por um visitante inesperado. É o tom predominante do disco de estreia, distribuído em parceria com a gigante Island Records. O excesso de fofura, entretanto, é combatido pelas faíscas de faixas como Me and the moon, com uma massa de guitarras que lembra Strokes e Phoenix.
A impressão é de uma banda que está junta há muitos anos, tamanho o entrosamento. Mas não. O Drums foi formado em maio de 2008. Se beneficia, entretanto, da camaradagem entre Jonathan e Jacob. Na adolescência, os amigos tomaram caminhos paralelos: o primeiro integrou um grupo de "indietrônica", o segundo mergulhou no romantismo. O Drums é a interseção desses dois estilos. Um mais eufórico, outro mais introspectivo. Ambos adoráveis.
THE DRUMS
Conheça a banda de Nova York em www.myspace.com/thedrumsforever. O primeiro disco, The Drums, foi lançado pela Moshi Moshi e Island Records. ***