postado em 21/06/2010 08:24
No livro Uma balada para Janis, que serve de homenagem a Janis Joplin, a baiana Kátia Borges escreve como se estivesse contando a alguém histórias da infância, vivida nos anos 1970 e 1980, "quando o Bahia era time", ela diz, rindo. "Eu ouço poesia, todo dia, no volume máximo", escreve no capítulo High Ashbury, San Francisco. Kátia talvez dedique mais tempo ao jornalismo do que à poesia, mas certamente passa o dia inteiro imaginando versos que possam expressar um pouco do que conhece, sente, observa e se recorda.
Ela tem 42 anos e publicou o seu primeiro livro, De volta à caixa de abelhas, em 2002. Os próximos dois livros, Janis e Ticket zen, lançados em 2009 e em maio deste ano, significam o retorno da poeta ao mercado editorial. Ao observar a vida em Salvador e o mundo pop, os poemas de Kátia se conectam com realidades culturais locais e universais. "Meu tema tem a ver com a própria vida em Salvador. A maneira como a gente vê as coisas. Um aspecto característico de Salvador é que não temos uma definição de religião. O lugar mais universal é a sua própria aldeia. No caso da poesia, é mais profundo, o lugar mais universal que você pode cantar é a aldeia interior de si mesmo", comenta.
As referência a ícones do mundo pop tomaram um livro inteiro, Uma balada para Janis, que não se pretende como uma biografia da cantora. "Não é uma biografia em versos. O que anima cada parte daquele livro é o sentimento", conta. Em Ticket zen, antes que o leitor comece a desvendar os primeiros poemas, a autora recomenda: "Leia ao som de Time is on my side, dos Stones." É a ambientação necessária para textos sobre Jack Kerouac e Alan Smithee, pseudônimo criado em 1968 por cineastas que renegavam certos filmes como obras suas.
Em São Paulo, Savio Ramos Melgaço acaba de mandar para as livrarias seu primeiro volume de poesias, O sutiã de giz. E engana-se quem, a julgar pelo título, pensa que se trata de um livro escrito por uma mulher. O escritor de 26 anos imprime aos textos uma lógica narrativa que testemunha o mundo feminino, mas espera alcançar sentimentos simplesmente humanos, como abandono e solidão.
Só que Melgaço não se valeu apenas de imaginação e ficção. Ele conversou com mulheres de várias faixas etárias e classes sociais e, com um poder de síntese que parece ter aprendido na profissão de jornalista, versa delicadamente sobre um mundo que não é o seu. "A gente sente o universo público a partir das nossas paixões. No universo masculino, isso foi banido, esse viver demais, esse sentir demais. Sempre me senti próximo ao universo feminino e expulso do masculino."
O mineiro de Ubá, que vive em São Paulo desde muito pequeno, destaca, por exemplo, como homens e mulheres enfrentam o envelhecimento de maneiras muito diferentes. "Enquanto a mulher tem resignação perante a idade, o homem, pelo que pude analisar, resgata a juventude", diz. "Uma mulher velha já não teria outra serventia a seu homem, não fosse pela falta de colo", analisa o cortante verso de Depois de tudo.
O sutiã de giz é apenas o primeiro livro de Melgaço, que já escreveu outros quatro, não publicados, além de um romance, aos 15 anos. Nos próximos trabalhos, ele quer escrever mais sobre si mesmo, enquanto ainda amadurece com o volume de estreia. "Acredito que nesse momento estou um pouco perdido. Não estou sem ideias, mas estou indefinido em relação ao que fazer. Essa abordagem trouxe para minha vida elementos que jamais seriam possíveis de descobrir na produção da obra", revela.
O SUTIÃ DE GIZ
De Savio Ramos Melgaço. 80 páginas, Iglu. R$ 22. À venda nas livrarias Cultura e Saraiva.
UMA BALADA PARA JANIS
De Kátia Borges. 48 páginas, P55 Edições. R$ 15. À venda em: www.p55.com.br.
TICKET ZEN
De Kátia Borges. 96 páginas, Escrituras. R$ 25. À venda em www.paubrasil.com.br e nas livrarias Saraiva.