Irlam Rocha Lima
postado em 21/06/2010 08:38
Brasil rural contemporâneo, mote da VII Feira Nacional da Agricultura Familiar e Reforma Agrária, evidenciou-se ao longo de cinco dias na programação artística desenvolvida nos palcos Multicultural, Tablado de Raiz e Espaço Brincante, instalados na Concha Acústica. Encerrado ontem, o evento trouxe à cidade o trabalho de 300 artistas de diferentes regiões e propostas. Aplaudidos por um público superior a 40 mil pessoas, os shows reuniram de Bule Bule e as Sambadeiras do Recôncavo (BA) e Zabé da Loca (PB) a Paulinho da Viola (RJ) e Lenine (PE) num total de 90 apresentações.
A atração de sábado, Alceu Valença, levou a plateia a sentir-se em plena festa junina, num show com explícito apelo a essa manifetação popular, marcadamente nordestina. Antes dele, quem deu o tom à feira foram a visceral mistura rítmica do grupo Cabruera e Totonho, da Paraíba, e o rock dos gaúchos Frank Jorge, Wander Wildner e Júlio Reny.
O carisma do performer Wildner, o talento musical de Frank e o charme discreto de Reny a serviço de clássicos do rock dos pampas ( Bebendo vinho, Amigo punk, Surfista calhorda, Cachorro louco e Não chores, Lola) foram recebidos com entusiasmo pelos espectadores. Muitos deles eram gaúchos que conheciam o repertório e fizeram coro durante quase toda a apresentação. Em duas músicas , estabeleceu-se um link entre os roqueiros e a tradição musical da fronteira sulina, representada pelo gaiteiro Gilberto Monteiro, convidado dos três.
Já passava da meia-noite e meia quando, Alceu Valença, todo de preto, surgiu em cena exibindo sua faceta de entretainer. Durante quase duas horas, acompanhado por banda liderada pelo guitarrista Paulo Raphael, ele não deixou ninguém parado. Reverente, fez na primeira parte sincera homenagem a Luiz Gonzaga, de quem cantou Baião, Vem morena, Sabiá, Xote das meninas e o hino Asa branca.
Em seguida, os fãs puderam acompanhá-lo, cantando junto ou batendo palmas ritmadas, enquanto o ídolo fazia desfilar alguns dos maiores sucessos de sua carreira, perfeitamente adaptados à ideia do show. Não faltaram, obviamente, Girassol, Coração bobo, Pelas ruas que andei, Dois animais, Cabelo no pente.
Críticas
Tendo na retaguarda um gigantesco telão, onde eram projetadas belas imagens que evocavam desde o agreste pernambucano até a modernidade arquitetônica de Brasília, Alceu enalteceu a importância da música brasileira. Aproveitou, também, para criticar com veemência, a programação radiofônica, "que insiste em não tocar os artistas com trabalho autoral, optando por cópias e pelo lixo internacional".
Na volta ao palco para o bis, sob aplausos e gritos dos admiradores, o cantor avisou que sairia do roteiro junino. A interpretação de Te amo Brasília (composta por ele numa mesa do Beirute) foi recebida de forma delirante, principalmente quando deu ênfase ao verso "%u2026Agora conheço/ Sua geografia/ A pele macia/ Cidade morena/ Teu sexo, teu lago/Tua simetria%u2026" A reação do público, após ouvir La belle de jour, Anunciação e Morena tropicana, levou Alceu a ter certeza de que é o mais brasiliense dos pernambucanos.
* Colaborou Pedro Brandt