A relação de Luziânia com o cinema é longa, mas inconstante. Uma das salas lembradas pelos antigos moradores é o Cine-Teatro Planalto, na Rua Raimundo Araújo Melo, onde hoje funciona uma agência bancária. Foi lá que Edézio Aguiar, de 63 anos, começou a trabalhar ainda adolescente, à noite e nos fins de semana. Ele alternava o bico com a escola, pela manhã, e o engraxe de caminhões numa oficina, na parte da tarde. Figura conhecida e conhecedora de Luziânia, Aguiar começou como encarregado pelos cartazes dos filmes, passou pelo atendimento na bomboniére, depois foi porteiro, bilheteiro e, por fim, projecionista, função que detestou. "Os projetores eram movidos a carvão, fazia um calor infernal na cabine. Saí logo e, em seguida, fui estudar e morar em Brasília", lembra. Hoje à tarde, o cinema volta a ser assunto em Luziânia. Às 15h, as cortinas se abrirão e a tela vai subir no Cine-Teatro do Centro de Convenções. O presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Cultura, Juca Ferreira, e o diretor-presidente da Ancine, Manoel Rangel, lançam nacionalmente o programa Cinema perto de você, cujo objetivo é incentivar a abertura, nos próximos quatro anos, de 600 novas salas de cinema em cidades pequenas e médias do interior do país. A história do cinema em Luziânia está na ponta da língua de Antônio João de Reis (popularmente conhecido como Antônio de Bilo), de 78 anos. Segundo ele, a cidade de cerca de 210 mil habitantes (estimativa do IBGE) teve cinco salas entre os anos de 1907 e 1983, quando fechou o Cine Fênix, na Rua Dona Babita. "Tudo em Luziânia é muito difícil, nem sempre há receptividade dos espectadores", comenta Antônio de Bilo. Escolhida para o evento devido ao seu potencial cinéfilo, a cidade conta, atualmente, com uma sala de exibição, no próprio cine-teatro onde ocorrerá o evento. A programação de filmes é a principal opção cultural de Luziânia. Lá passam longas-metragens que fazem sucesso entre os jovens da cidade, como Robin Hood, Lua nova e Chico Xavier. Inaugurado em fevereiro de 2009, o espaço conta com 398 lugares e, assim como o Centro de Convenções onde está instalado, é operado por uma empresa privada, responsável pela programação de filmes e pela manutenção do espaço. Projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, o prédio abriga também biblioteca e espaço para exposições de arte. O teatro tem apresentações eventuais. Só o cinema conta com programação regular, com duas sessões diárias, à noite, durante a semana, e quatro, aos sábados e domingos. Exibidos em películas num projetor de 35mm, os filmes são quase sempre os mesmos em cartaz nas salas de Brasília, com a diferença de que o preço dos ingressos em Luziânia é mais acessível (R$ 6 - inteira; R$ 3 - meia entrada). Para que o negócio seja viável, a prefeitura subsidia o valor e isenta a empresa do pagamento de aluguel pelo espaço. Estreias O público é majoritariamente formado por crianças e jovens. É comum ver estudantes uniformizados rondando a porta de vidro do cine-teatro para conferir os cartazes anunciando o que está em exibição e as próximas estreias. "O filme que mais teve público aqui foi A era do gelo 3, seguido por Lua nova", conta Edson Silva, administrador do Centro de Convenções. Muitos longas estreiam em Luziânia simultaneamente ao resto do país, mas é mais comum chegarem com uma ou duas semanas de atraso. Isso acaba afastando alguns potenciais espectadores, como o estudante Leandro Matos Bortolini, de 18 anos, que cursa engenharia numa faculdade de Brasília. Mesmo assim, ele frequenta bastante a sala. "Vou nos fins de semana, quando estou na cidade, porque o cinema é uma das poucas opções de lazer disponíveis", afirma. Hoje, Edézio Aguiar deve ser um dos cidadãos luzianenses presentes na solenidade do Cinema perto de você. Ainda cheio de nostalgia, lembra: "Em época de chuva, bastava pensar em água que faltava luz. Tínhamos que chegar cedo e ligar o motor do gerador, operado à manivela, para que ele esquentasse e o público não ficasse sem filme". Nordeste é prioridade Fortalecer o mercado exibidor interno, formando novo público e diminuindo a concentração das salas de exibição nos grandes centros urbanos, é a prioridade do Cinema perto de você, programa do governo federal. Com o apoio do BNDES, a iniciativa pretende disponibilizar crédito e fornecer desoneração tributária para incentivar iniciativa privada, prefeituras e governos estaduais a investir na expansão do parque exibidor brasileiro, principalmente nas regiões Norte e Nordeste, onde há a pior relação habitante por sala do país. O programa marca ainda uma nova frente de atuação do governo, que deixa de investir apenas na produção de filmes e passa a focar também no aumento de espaços para a exibição.